Indústria de O&G quer manter o posto entre os tops locais para se trabalhar
Em plena transformação tecnológica e pressionada pelas demandas de maior eficiência e redução nas emissões, as empresas traçam estratégias para atrair jovens talentos
A possibilidade de um apagão de mão de obra em um futuro não muito distante preocupa diversos segmentos econômicos empregadores de profissionais nas áreas de STEM (acrônimo em inglês de profissões ligadas à Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Na indústria de O&G, grande absorvedora de profissionais com essas formações, não poderia ser diferente. Essa preocupação tem levado tanto empresas produtoras de petróleo quanto de seus parceiros na cadeia produtiva a adotarem diversas estratégias individual ou coletivamente, otimizando os esforços de todos.
Em 2023, o Fórum Econômico Mundial e a Fundação Dom Cabral se lançaram em um estudo sobre o futuro do trabalho, cujo relatório apontou as profissões que estarão em alta ou serão extintas em horizonte próximo. O estudo também concluiu que haverá mudanças em cerca de 23% das ocupações globais, até 2027. Foram considerados como impulsionadores dos novos postos aspectos como os avanços tecnológicos, as mudanças no perfil dos consumidores e a transição verde. As perdas das posições apresentam como motivadores o custo de vida, a desacelerarão do crescimento econômico e as tensões geopolíticas.
Outra pesquisa, conduzida por executivos e organizada pelas universidades Harvard e MIT, traz previsões alarmantes de que aproximadamente 49% das competências da força de trabalho atuais serão obsoletas, em um curto período de dois anos, devido aos avanços contínuos da inteligência artificial (IA) e machine learning (ML). Também aponta que quase a metade dos entrevistados não está preparada para enfrentar as mudanças no mercado de trabalho.
A indústria de O&G sustenta cerca de 400 mil postos de trabalho, somente no upstream. Considerando todos os segmentos e empregos diretos e indiretos, a indústria de O&G calcula em 1,6 milhão os postos de trabalho que oferece. Sempre há pessoas se aposentando e entre os jovens profissionais uma parte considerável não se sente atraída para atrelar seu futuro a uma indústria que tem grande participação na produção de GEE. Parte da estratégia visa a demonstrar que a indústria de O&G tem, sim, um longo período como provedora de produtos eficientes e baratos para a sociedade e precisa dos jovens talentos para desenvolver processos e produtos com menor pegada de carbono.
De acordo com Karen Cubas, gerente da Universidade do Setor de Petróleo e Gás (UnIBP), as empresas, as universidades e os institutos técnicos estão engajados em desenvolver programas de estágio e treinamento, para permitir que estudantes interessados adquiram experiência prática e se familiarizem com as demandas do setor. Outra alternativa tem sido a atenção dedicada aos aspectos da diversidade, com foco em iniciativas que diversifiquem a força de trabalho para atrair talentos de diferentes origens e especializações.
As empresas têm ido diretamente às escolas e às universidades, por meio de eventos, geralmente promovidos pelos próprios estudantes, para dar visibilidade às carreiras no setor de O&G. Essas iniciativas conectam os jovens talentos aos profissionais experientes, além disso as mentorias com viés técnico e comportamental tem auxiliado os jovens a entenderem o funcionamento da indústria. Isso tem ajudado a criar um ambiente de aprendizado e de troca de conhecimento sobre as atividades do setor.
Em paralelo, elas têm adotado a formação do jovem nas competências críticas e estratégicas para as empresas após sua contratação e, somente após o término da formação, começam a atuar nas funções para as quais foram contratados. Essas e outras estratégias estão sendo abordadas pelas empresas do setor com o objetivo de estarem mais bem posicionadas para conquistar e reter os talentos necessários para garantir um futuro sustentável e inovador.
O desenvolvimento tecnológico na indústria de O&G tem uma relação significativa com o fortalecimento das universidades e o progresso da sociedade brasileira como um todo. Essa demanda por tecnologias avançadas impulsiona as universidades a expandirem as suas capacidades de pesquisa e as parcerias estabelecidas entre a academia e as empresas resultam em projetos que promovem a inovação e aumentam a produção do conhecimento científico. A necessidade da indústria de contratar profissionais com habilidades específicas impulsiona as universidades a atualizarem e fortalecerem os seus currículos com a inserção de disciplinas mais alinhadas ao setor.
As parcerias em programas de estágios e a capacitação das empresas proporcionam experiência prática e a promoção de renda para os estudantes. Os projetos de pesquisa e inovação vêm promovendo startups e o spin-off de empresas, propiciam soluções inovadores e geram novos empregos. Essa colaboração é fundamental para criar um ciclo virtuoso de inovação e de crescimento.
Para a executiva, a atração e a retenção de novos talentos nas gerações mais jovens, especialmente em um setor como o de petróleo e gás, que enfrenta desafios relacionados à percepção da sua sustentabilidade e ao ritmo de transformação tecnológica, requer uma abordagem estratégica e adaptativa. “Percebo que algumas iniciativas estão sendo utilizadas, como o fomento da cultura que respeita a vida pessoal e a promoção do bem-estar no ambiente de trabalho, os planos de carreira mais transparentes com caminhos claros para o crescimento deles, juntamente com programas de mentoria e treinamentos”, explica Karen Cubas.
Os jovens têm priorizado as empresas que promovem, de fato, um ambiente inclusivo e incentivam a inovação e a criatividade. Aquelas que oferecem oportunidades de trabalho no exterior têm obtido vantagem na atração desses talentos. É importante destacar que várias competências requeridas para a transição energética já estão disponíveis na indústria de O&G, algumas precisarão ser adaptadas e outras serão integralmente assimiladas.
“Vamos precisar de profissionais que atuem na integração dessas tecnologias e processos com as operações tradicionais, especialmente em áreas como armazenamento, captura de carbono e energia renovável”, diz. As perspectivas para os jovens talentos, nesse sentido, são muito promissoras, desde que as empresas alinhem as suas estratégias com as expectativas e valores das novas gerações.