Opinião
ARMANDO CAVANHA: O mundo não vive só de serviços
Alguns países aprenderam que fabricar e exportar aumenta a riqueza mais velozmente
O Brasil tem crescido bastante no ramo de serviços. Há um fortalecimento de iniciativas neste setor. Os jovens têm tido pouca opção industrial, de pesquisa ou manufatura. E com isso, poucas alternativas de pesquisa, do piloto, do protótipo, do desenho, da engenharia, da construção.
As opções que eles têm são obter um sub-emprego suado, fazer concursos públicos que seriam seguros pela vida toda, empreender em um ambiente de risco intenso e contradições burocráticas, ou, finalmente, sair do país.
Por aqui não se fabrica muito. Exporta-se commodities básicas como soja, ferro. Também o frango. E não se conecta pesquisa e fabricação.
O modernismo está nos serviços. Há pouca opção industrial, ou melhor, opção fabricante. E alguém tem de fabricar. Não há mundo só de serviços.
O advogado presta serviço para o médico, que atende o cabeleireiro, que corta o cabelo do médico. Um ciclo virtuoso de lento aumento de riqueza para o país.
Mas onde está o problema?
Coréia do Sul, China, aprenderam que fabricar e exportar aumenta a riqueza mais velozmente.
França, Inglaterra, Itália, esqueceram um pouco esta competência e amargam alguma redução relativa de riqueza.
O Brasil não conseguiu se definir ainda.
Nas áreas de óleo & gás e defesa, implantou-se conteúdo local por percentuais mínimos, em outras épocas chamado de nacionalização, reserva de mercado, barreiras comerciais.
Não deu tão certo assim, apesar de ter “arrastado” parte da indústria de apoio, alguns itens principais, é certo, mas quase a totalidade de aplicação local. Ou seja, pouco exportáveis. Enquanto durou, alimentou. Cessada a regra de base política, desfaleceu. E estas regras de proteção já aprendemos que são cíclicas, os poderes se alternam.
O Brasil que se aproxima com as eleições teria de discutir melhor os caminhos estratégicos a trilhar.
Os presidenciáveis poderiam receber este tema para debater e se comprometer em realizar um plano de país, de 20 ou 40 anos, sem inaugurações de “o maior do mundo”, “sulcoreando e chinesando” pólos de fabricação no Brasil. No bom sentido. E não é necessário abandonar os serviços. Não é uma opção, é uma linha paralela e aditiva de extremo valor.
Além disso, em breve teremos necessidade de empregos 4.0, da era da automação intensiva, inteligência de dados, conexões totais. Se o caminhão não precisará mais de motorista, ocupemos o espaço de construir a automação e inteligência para instalação nesses caminhões. Senão importaremos isso também. Quem sabe pudéssemos pensar em exportar para a América do Sul e outros próximos. Antecipando este projeto, tomando conta de um mercado que já se tem certeza que virá. Olhando para as demandas futuras, porque as que já passaram não existem mais.
Seria muito importante que discutissem e se posicionassem. O país precisa de uma direção industrial integrada de qualidade, para absorver competências e competir.
Armando Cavanha é professor convidado da FGV/MBA e moderador em cavanha.café