Opinião

Expectativas de preços para o gás natural em 2024

Com os novos contratos da Petrobras, segundo estimativas da Abrace Energia, na média nacional para 2024 haveria um aumento de 6% em relação aos preços do gás (molécula + transporte) praticados em 2023

Por Clara Diniz

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O ano de 2023 trouxe consigo a negociação de diversos novos contratos firmados com a Petrobras para fornecimento de gás natural a partir de 2024, sendo a grande maioria de longo prazo, com vigência até 2034. Mas, qual seria a influência dos novos contratos da Petrobras no preço da molécula ofertado em território nacional caso a nova fórmula paramétrica que considera as frações entre Brent e Henry Hub fosse considerada desde 2024?

Um fato interessante é que, mesmo considerando estes novos contratos, existe previsão de queda do market share da Petrobras em 2024 para o mercado cativo. A estatal será responsável por atender cerca de 73% do fornecimento médio para as distribuidoras neste ano, considerando premissa de contratação de quantidade diária média de 6.700 mil m³/dia para as concessionárias de gás do Rio de Janeiro. Vale destacar que para 2023 o suprimento médio deste player a este mercado era de 81%. No entanto, a quantidade diária contratada pelas distribuidoras do mercado cativo não sofrerá grandes alterações, sinalizando queda de 3% ante volume contratado para 2023. Percebe-se, neste sentido, que a queda do market share da petroleira é explicada principalmente pela entrada de novos players, sobretudo pela Compass com o início de operação do TRSP, e consequente contratação de 3.125 mil m³/dia pela Comgás.

Mas, qual o efeito deste movimento nos preços do gás? Estimativas da Abrace Energia indicam que, na média nacional para 2024, haveria um aumento de 6% em relação aos preços do gás (molécula + transporte) praticados em 2023, sendo esta influência sentida principalmente pela elevação de projeções de Brent (barril de petróleo), que impactam nos custos da molécula. Projeções indicam média anual do Brent em torno dos US$ 93,25/barril para 2024, representando aumento de +11% vs. média anual de 2023, segundo dados fornecidos pelo EIA (U.S. Energy Information Administration).

O principal player do mercado, a Petrobras, contempla diversos contratos com as concessionárias de gás em 2024, todos indexados ao Brent, e com variação entre 11,6% e 13,9%. Esta tendência de indexação dos contratos ao Brent para formação do preço da molécula final é seguida pela grande maioria dos demais fornecedores, que oferecem contratos indexados entre 9% e 13,5% do Petróleo Brent.

Observando a tendência de acompanhamento dos demais players do mercado em relação ao preço ofertado pela major brasileira, serão analisados os impactos dos novos contratos firmados com a Petrobras em 2024 (visualizados na figura abaixo), avaliando repercussões que seriam ocasionadas com a entrada do Henry Hub na fórmula de precificação da molécula de gás a partir de 2024.

*Contratos exemplificados contemplando cenário analisado em novembro de 2023, considerando Aditivo nº 1 nos contratos com a Comgás e Copergás. Neste cenário, ainda não são considerados novos contratos de fornecimento da CEG e CEG Rio, devido à falta de publicidade.

Os novos contratos firmados com a Petrobras com vigência a partir de 2024, assinalados no gráfico acima, possuem diferentes parcelas de representatividade entre frações de Brent e Henry Hub a serem consideradas no mix contratual a partir do ano de 2026, como visualizado na tabela a seguir:

Este mix entre frações de Brent e Henry Hub só será sentido, em todos os contratos, a partir do ano de 2026, devido a ressalvas contratuais. Para 2024 e 2025, os novos contratos ainda estão 100% vinculados ao Brent, indexados a uma taxa de 11,9%.

Hoje, o preço médio da molécula estipulado nos novos contratos da Petrobras para o ano de 2024, considerando parcela de 11,9% do Brent (US$ 93,25/barril), equivale a R$ 2,05/m³.

No entanto, caso fosse permitido às distribuidoras implementar a aquisição do gás indexada ao Henry Hub a partir de 2024 (projeções de média anual de 3,25 US$/MMBTU, representando aumento de 22% vs. média anual observada em 2023, segundo dados da EIA), seria evidenciada a seguinte curva de suavização nos preços de molécula ofertados, a depender da fração entre Brent e Henry Hub considerada em cada contrato.

Este efeito ocasionado pela consideração do Henry Hub a partir de 2024 na fórmula de precificação da molécula nos novos contratos da Petrobras também seria sentido na formação do preço médio nacional para 2024 (molécula + transporte), que teria aumento amenizado de 6% para 3%, em relação à média nacional de 2023. Isto é, mesmo com a previsão de aumento no valor do Brent (11%), Henry Hub (22%) e dólar (1%) para 2024 ante valores de 2023, a média anual de preços nacional seria mais competitiva, mostrando-se a consideração do Henry Hub vantajosa para os consumidores do mercado cativo.

Isto evidencia que a Petrobras deveria permitir ao comprador escolher o Henry Hub como indexador a ser considerado na fórmula de precificação da molécula de gás desde 2024. A política de diminuição de preços da Petrobras é vislumbrada como vantajosa, e seus efeitos prolongados a partir de 2026 influenciam na falta de garantia por maior competitividade no mercado de gás natural brasileiro.

Clara Diniz é analista de energia na Abrace, associação que representa os grandes consumidores de energia elétrica e gás natural

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