Inteligência ambiental e segurança energética: a via sustentável
Opinião
Inteligência ambiental e segurança energética: a via sustentável
O século XXI, marcado por fenômenos simultâneos e interdependentes, pede uma abordagem estratégica capaz de integrar tecnologias digitais, gestão inteligente de recursos e consciência ecológica, oferecendo respostas concretas aos desafios da segurança energética
O crescimento demográfico global e a busca por maior qualidade de vida intensificam a demanda por energia, colocando em risco a segurança energética. Por outro lado, as pressões dos ambientalistas mais radicais defendem a adoção de soluções unilaterais que podem representar um verdadeiro “tiro no pé”.
Assim sendo, considero mais adequado o uso do termo “Inteligência Ambiental” como estratégia para enfrentar tais desafios, integrando gestão inteligente de recursos e o uso de tecnologias digitais, sempre à luz da consciência ecológica. Trata-se de algo como desenhar cenários e depois testá-los numa matriz ecológica que seria como uma peneira passa, não passa.
A aplicação de sistemas inteligentes em redes elétricas, edificações, mobilidade, indústria e gestão das fontes primárias de energia pode garantir fornecimento contínuo e sustentável, promover o bem-estar social e garantir o desenvolvimento econômico, atendendo a condições que variam ao longo do tempo.
A inteligência ambiental, como veremos a seguir, pode ser um caminho viável para assegurar energia limpa e acessível, conciliando desenvolvimento econômico e preservação ambiental.
O século XXI tem sido marcado por três fenômenos simultâneos e interdependentes: o crescimento demográfico global, a busca por maior qualidade de vida e a preservação do meio ambiente. Esses fatores pressionam os sistemas energéticos, exigindo soluções inovadoras que conciliem eficiência, sustentabilidade, segurança e baixa emissão de gases de efeito estufa.
Nesse contexto, a inteligência ambiental, que coincidentemente tem a mesma sigla da inteligência artificial, surge como uma abordagem estratégica capaz de integrar tecnologias digitais, gestão inteligente de recursos e consciência ecológica, oferecendo respostas concretas aos desafios da segurança energética.
A população mundial ultrapassa os oito bilhões de habitantes, com projeções de expansão contínua nas próximas décadas. Em 2050 seremos 10 bilhões. Esse aumento vai acarretar o crescimento da demanda por energia elétrica, da oferta de combustíveis e melhoria da infraestrutura urbana, em um ambiente de busca pela elevação da qualidade de vida, traduzida em acesso a bens de consumo, saúde, educação e à geração de vagas no mercado de trabalho.
Sem um planejamento integrado, baseado em visões multilaterais, esse cenário pode resultar em crises de abastecimento, elevação de custos, conflitos geopolíticos, oferta de alimentos e impactos ambientais severos.
A segurança energética refere-se à capacidade de garantir fornecimento contínuo, acessível a toda população e sustentável de energia. Envolve não apenas a disponibilidade de fontes, mas também a resiliência dos sistemas frente a riscos geopolíticos, climáticos e tecnológicos.

Fonte: Elaboração do autor com uso de IA
Em sociedades modernas, a energia é insumo essencial para todos os setores produtivos e para o bem-estar social. Portanto, assegurar sua estabilidade é condição indispensável para o desenvolvimento. Tais fatores, nem sempre estão nas pautas das reuniões mundiais que hoje defendem soluções para o futuro de nosso planeta.
A inteligência ambiental, que tem por base a Teoria das Restrições(*), pode ser entendida como o uso de tecnologias avançadas, tais como sensores, redes inteligentes, big data, inteligência artificial, que podem ser aplicadas à gestão de recursos naturais e energéticos, considerando um número de variáveis e de restrições que antes eram impossíveis de serem aplicadas por falta de tecnologias hoje disponíveis. Assim sendo, podemos entender que seu objetivo é otimizar processos, minimizar desperdícios e antecipar riscos, a tempo de mitigá-los.
Tomando como exemplo o campo da energia elétrica, sem esgotar o assunto, diferentes frentes devem ser consideradas: redes elétricas inteligentes (smart grids) que permitem monitoramento em tempo real, balanceamento de cargas e integração de fontes renováveis; eficiência energética em edificações e indústrias, utilizando sistemas automatizados de iluminação, climatização e aproveitamento de energia solar que reduzem o consumo urbano, gestão de recursos hídricos com a aplicação de sensores e algoritmos que auxiliem no controle do uso da água em hidrelétricas e irrigação, evitando escassez.
Por último, mas não menos importante, mobilidade sustentável, por meio de veículos elétricos e híbridos, integrados a sistemas de recarga inteligente e que venham a minimizar a dependência de combustíveis fósseis ou utilizem processos para torná-los mais “limpos’, como, por exemplo, com a captura de emissões.
Ao promover eficiência e sustentabilidade, a inteligência ambiental contribui diretamente para a melhoria da qualidade de vida. Cidades inteligentes oferecem transporte mais limpo, ar menos poluído e serviços públicos mais eficazes. A redução de custos energéticos amplia o acesso da população a bens e serviços, enquanto a mitigação de impactos ambientais preserva ecossistemas essenciais para a saúde coletiva.
Apesar de seu potencial, a implementação da inteligência ambiental enfrenta desafios, pois demanda investimentos elevados em infraestrutura tecnológica, capacitação profissional para operar sistemas complexos, governança e regulação que assegurem transparência, proteção de dados e inclusão social, garantindo que os benefícios não se restrinjam às elites urbanas.
Cabe acrescentar a importância de um descomissionamento planejado dos processos e produtos que forem se tornando obsoletos. Nesse ponto, cabe ressaltar que, para cada item descartado, existe toda uma cadeia de valor envolvida, que ao se tornar inoperante, gera desemprego e desequilíbrio social.
Superar tais obstáculos exige políticas públicas consistentes, cooperação internacional e participação ativa da sociedade, tendo em mente que o meio ambiente não compreende só florestas e oceanos, mas inclui áreas urbanas, indústrias, mobilidade, enfim, inclui todos nós, qualquer que seja a nossa contribuição, para o bem ou para o mal do todo.
Defender o uso da inteligência ambiental à luz da segurança energética é reconhecer que o futuro da humanidade depende de soluções inovadoras e sustentáveis, considerando a pluralidade das variáveis envolvidas.
O crescimento demográfico, a diminuição de emissões e a busca por qualidade de vida não podem ser vistos como ameaças, mas como oportunidades para reconfigurar nossos sistemas energéticos.
A inteligência ambiental, ao integrar tecnologia, economia e consciência ecológica, oferece o caminho para garantir energia segura, acessível e limpa, assegurando não apenas o desenvolvimento econômico, mas também a preservação da vida em todas as suas formas.
(*)Teoria das Restrições ou Teorema das Restrições (Theory of Constraints), formulado por Eliyahu Goldratt, afirma que todo sistema possui um gargalo que limita seu desempenho. Melhorias só são efetivas se atacarem esse ponto crítico. Também pode ser descrito como: a soma dos ótimos locais não leva ao ótimo global. Aplicando, como exemplos, ao contexto da transição energética, vamos concluir que o gargalo não está apenas na produção de energia limpa, mas também em armazenamento, distribuição e acessibilidade econômica, se há pressão apenas pela substituição imediata das fontes fósseis, sem considerar esses gargalos, o sistema entra em colapso. Investir bilhões em energia solar sem resolver o gargalo das baterias, significa que a sociedade terá energia abundante durante o dia e escassez à noite.



