Opinião
O tracker do amanhã: inteligência artificial também fará parte dos próximos projetos solares
Inteligência artificial vai possibilitar maior autonomia ao tracker, não necessariamente atrelado apenas ao movimento do sol, mas de forma que busque a melhor condição possível para geração de energia
Com a estimativa de que a partir de 2035 a energia solar fotovoltaica será a principal fonte de geração elétrica, sendo a mais utilizada em todo o mundo, os fabricantes de rastreadores solares (trackers) buscam novas tecnologias para potencializar seus produtos e otimizar a geração de energia nas usinas fotovoltaicas.
Desenvolvidos com a finalidade de melhorar a captação de energia e aumentar a produção das usinas solares, os rastreadores podem ampliar a eficiência dos painéis em até 30%, dependendo do local onde a usina está instalada. Na corrida pelo aperfeiçoamento dos produtos, também são consideradas as interfaces do tracker com relação aos outros equipamentos das usinas, como painéis e inversores.
As energias renováveis têm dominado o cenário mundial, com projetos cada vez maiores, que podem chegar até a 700 campos de futebol. Só no último ano (2020), a capacidade global de geração a partir de fontes renováveis cresceu 45%, de acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA). Para suportar a alta demanda e conseguir gerar mais energia, o mercado solar tem aplicado novas tecnologias como:
Módulos Bifaciais
Os módulos bifaciais, como já se deduz pelo nome, captam energia tanto na face frontal quanto na face traseira. Essa tecnologia não é recente, foi um lançamento feito nos anos 80 que tinha a finalidade de gerar algum ganho de eficiência para que esse "bem de luxo", como era considerado por ser custoso, pudesse ser aproveitado ao máximo.
Hoje, o preço dessa tecnologia caiu consideravelmente e é possível ter ganhos de 5% a 20% em relação aos módulos convencionais, resultando em um ótimo custo-benefício. Dessa forma, ganhou tamanha escalabilidade que levou a todos os novos projetos a aplicarem módulos com essa tecnologia. Associados aos trackers, os módulos bifaciais se tornaram uma excelente opção de investimento.
De acordo com o International Technology Roadmap for Photovoltaic (ITRVP), em 2028 os módulos bifaciais representarão 35% do mercado fotovoltaico. Ainda há espaço para aprimorar essa tecnologia que vai ser cada vez mais demandada e, por isso, é de extrema valia incentivar parcerias com universidades que façam pesquisas sobre o setor e investir em P&D, para estar em constante atualização. Importantes players do mercado solar já estão atentos a essa questão e vem estruturando laboratórios próprios.
Inteligência Artificial
Outra saída encontrada para se destacar nesse meio e que promete elevar o nível da competição entre as energias renováveis em todos os aspectos é a Inteligência Artificial (IA). A IA vai possibilitar maior autonomia ao tracker, não necessariamente atrelado apenas ao movimento do sol, mas de forma que busque a melhor condição possível para geração de energia.
Em dias nublados, por exemplo, o tracker buscaria a melhor posição que favoreça a maior geração, baseado na radiação incidente naquele momento. Com essa nova inteligência, ele poderá mudar sua posição automaticamente e isso influenciará não apenas a geração de energia solar, mas também o armazenamento dela.
Quanto mais energia é captada, maior é a quantidade que pode ser armazenada. Essa prática ainda não é comum no mundo, mas a previsão é de que até 2027 o mercado de armazenamento de energia deve aumentar 25,49% em uma taxa de crescimento anual composta (CAGR), segundo o Relatório de Pesquisa de Mercado Futuro (MRFR). Meu palpite é que a China e Estados Unidos, em breve, devem ficar à frente desse tema, por conta da globalização e amplo trânsito de informações. Para países como o Brasil, vejo a estocagem de energia ainda a médio e longo prazo, considerando a atual forte expansão e diversificação de produtos.
Todavia, a certeza que fica é que as novas tecnologias vêm para agregar. Por meio delas, a maior absorção de energia solar é garantida, o que dará certa vantagem a essa matriz energética em relação às demais renováveis. Ademais, com a possibilidade de armazenamento, ter energia durante o período noturno não será nada além do óbvio, fazendo com que o futuro do setor seja brilhante.
Daniel Timm é diretor de Engenharia e Construção na STI Norland