Opinião

Um maior equilíbrio no setor elétrico

"Não será possível um sistema elétrico de potência operar sem sincronismo e controlabilidade das duas variáveis básicas: frequência e tensão", aponta em artigo o presidente da Abraget, Xisto Vieira Filho

Por Xisto Vieira Filho

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Temos observado as formas de debate a respeito do setor elétrico brasileiro e a tão em voga “transição energética”. Podemos notar um aspecto extremamente interessante: a grande maioria dos atores que falam publicamente sobre praticamente todos os aspectos desse setor não têm estudos que suportem suas teses, ou pior, estudos incompletos. Inclusive, uma porção bastante considerável destes estudos são mais acadêmicos, mas falham ao não abordarem alguns aspectos relevantes.

É extremamente importante que haja um equilíbrio nos debates atuais a respeito da famosa “transição energética”, tão em moda hoje em dia, quando há uma verdadeira avalanche de artigos sobre a forma da mencionada transição.

Sim, porque cada dia em que abrimos os jornais, vemos análises sobre o setor elétrico cheias de modismos, lançamentos de novas teses sem embasamento técnico, e sempre com conclusões fortes e definitivas, até certo ponto espantosas.

Recentemente, temos lido declarações sobre o nosso setor feitas por notáveis especialistas em clima, os quais muito respeitamos dentro de suas especialidades. O tema, aliás, é de fundamental importância. Mas, eles, os especialistas em clima, em cima dos palcos da COP 27, falam que é importante eliminar o gás natural da nossa matriz energética.

Aí, ficamos pensando: será que esses especialistas em clima sabem o que significa segurança elétrica e energética? Será que eles têm conhecimentos dos custos de interrupções com blecautes? Será que eles sabem o que significa para o País um racionamento, como quase tivemos em 2021? Será que eles conhecem bem os atributos técnicos de cada tipo de fonte? Será que eles sabem da riqueza em gás natural que o nosso País tem no pré-sal e em diversos campos onshore ou offshore a serem ainda explorados? Vamos deixar essa riqueza longe do nosso Tesouro, é isso mesmo?

Poderíamos até discutir essas questões em maiores detalhes, mas será que os nossos prezados amigos do clima sabem que o setor elétrico brasileiro é responsável por apenas 2% de todas as emissões do País? Ou voltaremos ao passado de aguardar apagões e quando eles acontecerem sairemos atrás de térmicas movidas a qualquer combustível?

Talvez tenhamos que chegar a conclusões diferentes quando se vê algo assim cadenciado. Como era de se esperar, o pessoal especializado em clima quer alcançar no Brasil, em poucos anos, as metas que o restante do planeta pretende chegar em 2050.

Como todos nós sabemos, a probabilidade de se chegar em 2050 com emissão zero no mundo inteiro é bem próxima de zero, como demonstrou recente matéria de capa “Adeus a 1,5˚C”, da revista inglesa The Economist. E, aqui no Brasil, certamente vai ser mais rápido, pois muito antes desse prazo, teremos usinas térmicas movidas a hidrogênio verde e outras com captura e uso do carbono (CCUS), que poderão, inclusive, produzir o hidrogênio azul.

A nossa Associação fará um seminário em 2023 sobre “Descarbonização com Segurança Elétrica e Energética”, para o qual, desde já, convidamos de público nossos amigos especializados no clima, a quem, volto a insistir, respeitamos profundamente, dentro de suas especialidades e ideologias. O princípio básico da democracia é o debate, a discussão, a conversa. Ninguém é dono completo da verdade.

A Abraget está sempre disposta a conversar com todos os atores do setor elétrico, expor seus pontos de vista técnicos e, principalmente, analisar outras argumentações. Dessa forma, e somente dessa forma, é possível chegar a soluções otimizadas.

E, por gentileza, tenham sempre em mente: o sistema elétrico evolui, mas as leis da eletricidade permanecem as mesmas, e não tem como revogar leis como as de Maxwell, Kirchoff, Ohm, e tantas outras, pois são leis físicas.

Dessa forma, voltamos a insistir: temos total convicção técnica de que não será possível um sistema elétrico de potência operar sem sincronismo e controlabilidade das duas variáveis básicas: frequência e tensão. Um dia, todos nós entenderemos isto, pois se contrariarmos as leis básicas de um sistema elétrico, ele mesmo pune.

Um dia, todos nós entenderemos isto, pois se contrariarmos as leis básicas de um sistema elétrico, ele mesmo pune.

Xisto Vieira Filho é presidente da Abraget 

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