Campos maduros, eficiência operacional e sustentabilidade
Opinião
Campos maduros, eficiência operacional e sustentabilidade
O petróleo do futuro não será apenas o proveniente de novas fronteiras exploratórias, mas, sobretudo, da extração eficiente e inteligente de ativos já existentes, com tecnologias digitais, novas metodologias operacionais e gestão de integridade orientada à longevidade dos sistemas
O mercado de petróleo e gás vive uma transformação silenciosa, porém decisiva. Os campos maduros, por muito tempo vistos apenas como áreas em declínio, estão ganhando relevância estratégica e se tornando um dos pilares do futuro da produção no Brasil. O Anuário do Petróleo no Rio, publicado pela Firjan em comemoração aos seus dez anos, traz uma visão clara dessa tendência, reforçada por um artigo da Prio sobre o papel das operadoras independentes na revitalização desses ativos.
Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), dos 433 campos de produção em operação no país, 302 são considerados marginais, áreas que já ultrapassaram o auge de sua viabilidade econômica. Esse cenário revela um enorme potencial de transformação, especialmente quando observamos o fator de recuperação, indicador crucial para medir o quanto do petróleo presente no reservatório é efetivamente produzido.
A média mundial de fator de recuperação é de cerca de 35%, enquanto no Brasil esse índice é de aproximadamente 21%. Na Bacia de Campos, berço dos campos maduros do país, o número cai ainda mais, para cerca de 15%. Em contrapartida, países como Noruega e Reino Unido alcançam 62% e 82%, respectivamente, demonstrando que há um enorme espaço de evolução e que o aumento da vida útil dos ativos é uma das alavancas essenciais para ampliar esse potencial.
O petróleo do futuro não será apenas aquele proveniente de novas fronteiras exploratórias. Ele virá, sobretudo, da extração eficiente e inteligente de ativos já existentes, baseada em tecnologias digitais, novas metodologias operacionais e gestão de integridade orientada à longevidade dos sistemas.
Revitalizar campos maduros exige uma mudança de mentalidade: operar de forma mais inteligente, o que significa também reduzir impactos ambientais. A otimização de ativos existentes diminui a necessidade de perfurações em novas áreas, reduz emissões associadas à exploração e contribui diretamente para compromissos como os discutidos na COP30, no qual o setor energético reafirma sua missão de conciliar produção de energia e redução de emissões de gases de efeito estufa.
Projetos de revitalização técnica e econômica são fundamentais para garantir a viabilidade sustentável desses ativos. A idade mais avançada dos ativos de produção acarreta desafios como aumento de falhas em equipamentos, elevação de custos e comprometimento de poços e sistemas de escoamento. Por isso, a gestão de integridade e a execução de intervenções em campos produtores (brownfields) tornam-se cruciais para estender a vida útil dos ativos, preservar sua rentabilidade e promover operações mais limpas e eficientes.
Soluções como tiebacks, que conectam novos poços a infraestruturas existentes, ampliam a produção sem a necessidade de investimento na construção de novos ativos, mostrando como tecnologia e planejamento estratégico podem transformar campos marginais em ativos produtivos e mais sustentáveis.
A crescente relevância dos campos maduros aponta para um mercado potencial de manutenção, integridade e inovação tecnológica. Mais do que uma tendência, trata-se de uma evolução necessária: manter a competitividade da indústria brasileira de petróleo e gás passa por operar com inteligência, segurança e sustentabilidade, conciliando produção energética e responsabilidade ambiental. O futuro do setor será moldado não apenas pelas novas descobertas, mas pela capacidade de transformar o existente.



