Opinião

Novo Plano da Petrobras: uma visão da transição energética

A Petrobras deu bons passos na definição de sua estratégia de transição energética, combinada com a expansão do desenvolvimento dos seus recursos fósseis, mas faltam ainda alguns ajustes finos.

Por José Sergio Gabrielli de Azevedo

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A Petrobras anunciou seu novo Plano de Negócios 2025-29, focando na exploração e produção de petróleo e gás, mas ampliando seu compromisso com a transição energética, visando seus objetivos estratégicos para 2050. Retoma uma prática de separar o Plano Estratégico de longo prazo, até 2050, com a visão do Plano de Negócios de 2025-2029, assim como reconhece a participação conjunta do Conselho de Administração, Diretoria Executiva e de técnicos da companhia na elaboração dos planos.

A missão estratégica definida pela empresa implica em construir “um mundo mais sustentável, reafirmando o foco em óleo e gás, mas conciliando com a diversificação em negócios de baixo carbono”. Adota um conceito de que a transição energética, - com o adjetivo justa, - é um processo transversal a todos os segmentos de negócio e amplia os projetos em avaliação, especialmente no gás, energia e projetos de baixo carbono (8 bilhões de dólares dos 13 bilhões da carteira em avaliação).

A Petrobras reconhece sua relevância na oferta de energia do país (31% da oferta primária de energia), destacando o seu crescimento de 4,3 exajoules (EJ), em 2022, para 6,8 EJ em 2050, buscando atingir a situação de emissões líquidas neutras no meio desse século. O PN 2025-2029, mesmo prevendo aumentar sua produção de petróleo e gás, não pretende ultrapassar as emissões de 2022, que representam uma redução de 15% em relação aos gases de efeito estufa emitidos em 2015.

No Refino, Transporte e Comercialização, mais petroquímica e fertilizantes, a Petrobras aumenta seus investimentos, com destaque para produtos de alta qualidade, como diesel S10, biorrefino, lubrificantes e combustíveis de baixo carbono. O segmento de fertilizantes se refere a projetos de utilização do gás natural na UFN-III (MS) e de resíduos asfálticos da ANSA (PR). Quanto à petroquímica, a estratégia continua imprecisa, apenas avançando nas ideias de maior integração com o refino.

Para o segmento de Gás e Energia (G&E) há a menção à inserção de fontes renováveis. Os projetos de baixo carbono que contemplam projetos e estudos, portanto, em etapa de avaliação, referidos ao escopo 3 das emissões, – aquelas dos fornecedores e consumidores, fora da empresa, - são nominados como “geração renovável onshore (eólica/solar); bioprodutos (etanol, biodiesel e biometano); hidrogênio de baixo carbono; captura, transporte e armazenamento (CCUS) e outros”.

Nota-se que não há, como havia até o Plano de Negócios de 2024-2028, referência às eólicas offshore, que podem já ter evoluído para a fase de projetos de implantação ou tenham sido excluídas do atual PN 2025-2029. Também no que se refere aos projetos de CCUS, mesmo que a utilização do carbono capturado, presente na sigla em inglês (a letra U) esteja registrado, ela não aparece na sua tradução. Uma das formas de utilização é o emprego do CO2 biogênico, em conjunto com o H2 eletrolítico, para produzir hidrocarbonetos, quimicamente iguais aos fósseis, sem utilização de petróleo. A conferir!

A apresentação dos projetos classificados como de transição energética destaca os US$ 5,3 bilhões em mitigação nos escopos 1 e 2, dentro dos próprios processos produtivos da empresa, e chama de “diversificação rentável”, na mesma tradição dos últimos PNs, com US$ 5,7 bilhões para energias de baixo carbono (US$ 0,5 bilhão para Hidrogênio) e US$ 4,3 bilhões para bioprodutos. Um bilhão de dólares estão alocados a projetos de P&D em baixo carbono. O plano cria também um Programa Petrobras de Baixo Carbono, de US$ 1,3 bilhão, para financiar atividades de redução de suas próprias emissões.

A Petrobras reconhece que sua longevidade depende não somente do aumento da produção de petróleo e gás, mas também de sua atuação em “negócios” de baixo carbono. Destaca-se a palavra “negócios” que vai além de projetos de P&D. Em termos de estratégia para esses negócios, a empresa prefere alianças com outras empresas, em comparação com o desenvolvimento de projetos próprios, para minimizar seus riscos.

No entanto, algumas preocupações persistem, refletindo a inércia dos Planos de Negócio da empresa, que não podem mudar drasticamente. Como no PN 2024-2028, há alguma imprecisão nos investimentos previstos para implantação para o Gás, Energia e Baixo Carbono, que aloca US$ 2,4 bilhões distribuídos em menos de US$ 0,8 bilhões nos próximos cinco anos, sendo que a percentagem de projetos sancionados, com autorizações de dispêndio, é declinante até 2029. Isso representa somente 22% dos investimentos previstos para o segmento, indicando que os 78% restantes estão alocados como estudos ou projetos não aprovados ainda.

Outra preocupação refere-se, como acontece com outras empresas de petróleo, ao maior detalhamento dos produtos renováveis de origem orgânica, em comparação com os derivados de hidrogênio de fonte eletrolítica, que praticamente inexistem no resumo divulgado pela empresa até agora. Há previsões para Diesel R5 e projetos de bioquerosene de aviação, mencionando inclusive suas rotas tecnológicas de HEFA (Hydroprocessed Esters and Fat Acids) e estudos de ATJ (Alcohol to Jet) com etanol. Em relação ao hidrogênio há apenas a menção ao seu título geral de H2 de baixo carbono, genericamente.

Quanto aos fertilizantes, que podem também ser produzidos com amônia verde a partir de disponibilidade de H2 eletrolítico, não há qualquer referência. Os processos de produção de combustível sustentável de aviação derivado do hidrogênio, diferente do bioquerosene, também não existem no resumo divulgado pela empresa até agora.

A Petrobras deu bons passos na definição de sua estratégia de transição energética, combinada com a expansão do desenvolvimento dos seus recursos fósseis, mas faltam ainda alguns ajustes finos. Em particular, é importante considerar os sinais dados pelos países da Europa, da América do Norte e da China e Índia, que consideram as soluções de combustíveis de origem orgânica como rotas de curto prazo, mas que enfrentarão limites, especialmente pela disponibilidade de longo prazo de terras e matérias primas. Esses países desenvolvem, para o longo prazo, depois de 2030, estratégias para avançar na exploração das fontes renováveis de eletricidade, eletrificação da mobilidade, e expansão de uma economia do hidrogênio. O Plano Estratégico da Petrobras 2025-2050 não parece considerar essa possibilidade, mas há sempre tempo e espaço para evoluir.

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