Revista Brasil Energia | Meio Ambiente

Expedição segue para Foz do Amazonas para investigar ecossistema

O navio de pesquisa hidroceanográfico Vital de Oliveira saiu do Ceará com especialistas e militares em busca de informações adicionais sobre o ambiente nas águas rasas do Amapá à fronteira com a Guiana Francesa. A Brasil Energia visitou o navio e traz detalhes sobre a expedição

Por Fernanda Nunes

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Um laboratório em alto mar, o navio Vital de Oliveira, da Marinha, partiu de Fortaleza (CE) no dia 31 de março, com 130 pesquisadores e militares a bordo, num projeto liderado pela Petrobras. O destino é o extremo norte do Amapá, quase na fronteira com a Guiana Francesa. O objetivo, recolher o máximo de dados sobre o ecossistema das águas rasas da cobiçada Bacia da Foz do Amazonas.

A poucos dias da partida, a tripulação chegava à capital cearense na expectativa do início da expedição. Eles vão navegar por 31 dias, com o mar agitado em alguns trechos, em busca, principalmente, de imagens do fundo do litoral do Amapá, a cerca de 200 metros de profundidade, a 150 km da costa.

A bordo estão especialistas no ambiente marinho, como oceanógrafos, e na indústria do petróleo, como geólogos – de 12 universidades e do Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes). Há também, entre eles, adolescentes, estudantes de graduação, pesquisadores de primeira viagem.

“São alunos da oceanografia, biologia, geologia, que vão receber o material já a bordo, para iniciar as pesquisas. Para eles é muito importante ter essa vivência no mar, essa experiência real, concreta, com o objeto de estudo deles”, afirmou Ana Clara de Souza, professora do departamento de Geologia da Universidade Federal do Ceará.

O conhecimento do litoral do Amapá faz parte dos planos da Petrobras de explorar a Foz do Amazonas. A empresa se defronta com resistências de ambientalistas de peso, inclusive do Ibama e do Ministério do Meio Ambiente (MMA), para levar adiante sua maior aposta em novas fronteiras, frente ao amadurecimento do pré-sal.

O órgão ambiental, no entanto, é rígido na cobrança de informações detalhadas da Petrobras sobre as chances e consequências de um possível derramamento de óleo do poço FZA-M-59, na bacia, alvo do pedido de licenciamento da empresa. A primeira tentativa da estatal de receber a autorização foi frustrada no ano passado.

A expedição que partiu do Ceará não está diretamente relacionada ao licenciamento. O navio sequer vai se aproximar do local onde a empresa pretende perfurar seu primeiro poço, em águas profundas do Amapá, a 500 km da costa.

“Não serão feitos estudos exploratórios de petróleo. Faremos estudos para entender as características ambientais”, disse Halesio Milton de Barros Neto, biólogo marinho do Cenpes, líder da missão. “Para ter segurança ambiental, é preciso ampliar ainda mais o conhecimento disponível na região, que será considerado nos investimentos”, complementa.

A Petrobras está montando uma carteira de projetos de pesquisa para estudar a Margem Equatorial. Nesse momento, a empresa foca no Amapá, mas, ao longo dos próximos anos, serão lançados editais de pesquisa para outros estados da região.

“A pesquisa oceanográfica no Brasil é difícil de se fazer por conta da disponibilidade de navios e tecnologias, que são muito caros”, ressaltou Barros Neto.

 

Equipamentos

No laboratório do Vital de Oliveira há cerca de 30 telas. Por cerca de 24 horas serão coletados e analisados dados de alta resolução pelos pesquisadores. Um exemplo de equipamento que será usado é o sonar de varredura lateral, capaz de delinear perfeitamente uma estrutura no fundo do mar. Com ele, é possível identificar as dimensões de estruturas. Outra tecnologia permite mapear os relevos submarinos.

É possível chegar com equipamentos a 5 mil metros de profundidades, mas, nessa expedição, os especialistas vão se manter em águas rasas.

“Na parte geológica, vamos fazer o mapeamento do assoalho marinho. Esse mapeamento começa com a parte superficial e se aprofunda. Nossa perspectiva é encontrar as feições morfológicas que nos permitam mapear e caracterizar esse ambiente. Quais são os tipos rochosos...”, detalhou a pesquisadora da UFC.

No futuro, também devem ser aplicadas tecnologias já usadas na Bacia de Santos, como inteligência artificial e drones.

 

Atividades

O primeiro passo para tirar a expedição do papel foi definir a área a ser investigada, de acordo com o pesquisador do Cenpes. O segundo foi montar um cronograma.

Já no local, vão começar mapeando o fundo marinho e, em seguida, coletar amostras, as testemunhagens, para compreender a formação geológica da região.

A grande novidade dessa expedição, em relação à primeira, de 2023, será a produção de imagens de alta qualidade para identificar a biodiversidade do ambiente, que poderá ser reconhecida também por meio da análise de DNAs presentes na água.

Todas as informações serão distribuídas entre o Cenpes e as universidades, que, apesar do compromisso de manter as pesquisas em sigilo num primeiro momento, vão liberá-las à comunidade científica em seguida.

“A gente vai se debruçar sobre os dados, fazer um pós-processamento e, em laboratórios do Cenpes e de universidades brasileiras, serão analisadas as amostras físicas de sedimentos e faunas”, afirmou Barros Neto.

O navio Vital de Oliveira é compartilhado pela Petrobras, Marinha, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e pelo Serviço Geológico do Brasil (SGB). A operação é militar, mas a decisão sobre as expedições parte de um comitê gestor formado pelos quatro membros.

Assista à entrevista completa com o biólogo marinho do Cenpes, Halesio Milton de Barros Neto:

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