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Mercado de seguros para energia e os riscos de eventos extremos

Modelos de cobertura como os paramétricos, que consideram aspectos como velocidade do vento e irradiação solar, ganham tração

Por Nelson Valencio

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Torre de transmissão tombada depois de ventania no Mato Grosso do Sul: seguradoras especializadas têm usado softwares que permitem mensurar a incidência e a frequência de raios e ventos (Foto: Divulgação/Energisa)

Os riscos diretamente associados à energia ocupam o sétimo lugar no ranking dos top 10 do Future Risks Report 2024, da seguradora Axa. Além desse sinal de alerta, três principais ameaças podem afetar indiretamente o setor. São elas, pela ordem: mudanças climáticas, instabilidade geopolítica e ataques cibernéticos.

“O mercado brasileiro de energia está em constante evolução, especialmente o de renováveis. No entanto, na perspectiva de seguros, ainda há um mar de oportunidades e exemplos mais evoluídos na Europa do que aqui”, comenta a CEO da Axa Brasil, Erika Medici (foto), em conversa com a Brasil Energia.

Entre as novidades, ela chama a atenção para o crescimento do chamado seguro paramétrico para riscos climáticos. Ele é particularmente interessante para contrabalançar variações como velocidade de vento e irradiação solar, que podem afetar a lucratividade de geradoras.

“Esse modelo associa a cobertura a indicadores climáticos definidos e análise e regulação do sinistro são automatizadas e baseadas diretamente nos parâmetros”, explica Érika. “Tudo acima do indicador definido é considerado sinistro”, completa.

Richelli Lima (foto), superintendente da corretora Howden Brasil, lembra que, dentro do modelo paramétrico, um destaque é a cobertura da flutuação do preço da energia. “São inovações que tornam os projetos mais viáveis financeiramente e aumentam a capacidade de resposta frente a imprevistos”, argumenta.

Ela lembra que a diversidade de riscos no setor elétrico exige uma personalização. Para isso, Richelli destaca que algumas seguradoras especializadas têm usado ferramentas como softwares que permitem mensurar a incidência e a frequência de raios e a probabilidade de alagamento em determinadas áreas.

Além das novidades, as coberturas tradicionais também estão sendo melhoradas. Nessa lista estão as iniciativas que envolvem riscos de construção, atrasos em projetos, além da crescente preocupação com ameaças cibernéticas.

“Observa-se uma evolução na cultura de seguros no Brasil, impulsionada em parte pelos obrigatórios. A implementação de seguros em áreas onde não são exigidos requer um processo mais complexo”, argumenta Érika, da Axa.

Um ponto a favor do setor elétrico é a presença de empresas grandes e com operações transnacionais, muitas vindas de mercados mais maduros na adoção de seguros. Mesmo assim, em função da evolução das coberturas, uma das tendências é a inclusão cada vez maior de cláusulas contratuais que exigem práticas preventivas, como controle de vegetação e construção de barreiras contra chuva, entre outras.

Em alguns casos, as seguradoras estão desenvolvendo serviços de consultoria com engenheiros para mapear riscos e trabalhar junto com clientes e corretores na prevenção. Com isso, elas podem diminuir a exposição ao risco, permitindo coberturas mais direcionadas e potencialmente de menor custo.

Na avaliação de Érika, as principais coberturas tradicionais podem ser divididas em alguns guarda-chuvas de riscos e na forma como o mercado segurador e as empresas estão lidando com eles.

Os mais visíveis são os riscos operacionais, que podem envolver, por exemplo, movimento em barragens de usinas hidrelétricas (risco de severidade) e superaquecimento em fontes solares e eólicas (combinação de frequência e severidade). Nos casos citados, os problemas levam à interrupção da geração e, consequentemente, interrupção da receita.

Reservatório de Sobradinho na maior seca da história: cobertura da flutuação do preço da energia, definida pelas condições hidrológicas e nível de água dos reservatórios, é outra tendência além do seguro paramétrico (Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

“Há também o risco de explosão e incêndio associado ao acúmulo de calor ou vegetação descontrolada ao redor das plantas. A cobertura dos chamados lucros cessantes - que deixaram se ser arrecadados em função de paralisação - é importante em função da interrupção da receita”, completa.

Comum no mercado são os riscos de construção e atraso na entrega de obras. Devido à rápida expansão do setor, há grande pressão por prazos e recursos e os problemas podem incluir desde falhas na cadeia logística até a elaboração de plantas. Ela destaca que os modelos tradicionais são os seguros de engenharia (para a construção em si) e o de garantia (para compromissos contratuais). Ambos são frequentemente obrigatórios.

O mesmo crescimento de demanda – tanto na geração como na modernização de redes de transmissão e distribuição – também envolve a potencial risco de na conectividade e na garantia da estabilidade do fornecimento.

A queda dessa estabilidade pode gerar lucros cessantes para a fornecedora e responsabilidade civil devido a processos associados à falta de fornecimento por parte de clientes (pessoas físicas e jurídicas). Eventos climáticos ou falhas operacionais podem causar essa quebra de fornecimento.

Os riscos cibernéticos também entraram no radar dos seguros em energia. Richelli, da Howden, lembra que a incorporação de novas tecnologias contribui para a operação, manutenção e gestão dos ativos, mas defende a necessidade de um equilíbrio entre eficiência operacional e segurança cibernética.

Além da prevenção nas elétricas, a ideia é que esses riscos não sejam transferidos para o mercado de seguros. Para evitar o processo, a especialista adianta que há recursos, combinando telemetria e inteligência artificial, para avaliar a maturidade de segurança cibernética das concessionárias e modular os termos do contrato de cobertura.

Érika, por sua vez, lembra que os ataques cibernéticos podem interromper a transmissão, geração e toda a cadeia energética, mas ainda são considerados incipientes no setor. “Trata-se de uma cobertura complexa, exigindo a clara definição do fator causador e do tamanho da exposição. Pode cobrir sequestro de dados e lucros cessantes por interrupção”, exemplifica.  

As duas especialistas concordam que a contratação de seguros no setor elétrico aumentou nos últimos anos, impulsionada por uma maior conscientização dos riscos, pela complexidade crescente dos projetos e pela exigência de investidores e financiadores. “O seguro deixou de ser acessório e passou a ser incorporado à estratégia de viabilidade e continuidade dos empreendimentos no longo prazo”, finaliza Richelli.

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