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O avanço de infraestrutura própria de telecom entre as elétricas
Cemig terá a maior rede privativa de 4G LTE do Brasil em 450 MHz enquanto outras concessionárias aplicam o recurso para comunicação em missões críticas

O uso de infraestrutura de telecomunicações sem fio na indústria de energia é comum, mas a telefonia celular convencional não é tida como suficientemente confiável para as chamadas missões críticas. A adoção das redes privativas 4G LTE e 5G, por outro lado, é recente e avança nas distribuidoras.
Como o próprio nome diz, são redes proprietárias, operadas pelas concessionárias, usando as tecnologias 4G, na sua versão mais aprimorada de LTE, sigla para “evolução de longo prazo”, em inglês. São redes licenciadas e que dependem de autorização da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Apesar do pioneirismo da Neoenergia, que ativou a primeira rede privativa 4G LTE no Brasil em 2020, a iniciativa mais arrojada no momento é a da Cemig. De acordo com o gerente de Projetos de Redes e Telecom da distribuidora mineira, Sandro Bernardes Oliveira (foto), a empresa terá a maior rede LTE privativa no Brasil e talvez na América Latina.
No edital, lançado dia 27 de janeiro último e encerrado em 17 de fevereiro, o objetivo da iniciativa ficou claro: implementar uma rede multisserviços que envolve a automação de religadores, concentradores de medição e “eventualmente prover a comunicação de veículos”, ou seja, a frota da distribuidora.
Oliveira comenta que a implantação da rede privativa vai aumentar a disponibilidade da comunicação de dados para automação da rede elétrica e, por consequência, fortalecer a resiliência do sistema elétrico da Cemig, principalmente em relação aos eventos climáticos severos.
Religadores na Cemig: empresa vai implementar rede multisserviços com nova rede LTE privativa (Foto: Divulgação/Cemig)
“Hoje utilizamos a rede LTE das operadoras de telefonia públicas, redes que não possuem a disponibilidade requerida para os serviços de missão crítica, como é o caso da distribuição de energia elétrica. Para melhorar o atendimento aos clientes, tendo cada vez mais uma rede elétrica disponível e resiliente, é necessário a migração da comunicação para um sistema próprio, adequado ao nível de serviço esperado”.
Ronaldo Santarém (foto), vice-presidente da UTC América Latina (UTCAL), entidade que reúne especialistas em telecom das elétricas, explica que a rede da Cemig terá 88 ERBs em 33 cidades de todo o estado, na faixa de 450 MHz. “É uma primeira resposta do setor à Anatel, mostrando que realmente existia uma demanda represada de conexão, esperando pela liberação das frequências”.
Em conversa com a Brasil Energia, ele conta que, antes da liberação oficial da frequência de 450 MHz, algumas empresas desenvolveram projetos em 250 MHz. Um dos exemplos é o da EDP, mas a concessionária já teria licença também para avançar com projetos na frequência de 450 MHz em São Paulo e estaria pleiteando mais uma licença para operar – também nessa faixa - no Espírito Santo.
Como especialista no tema, Santarém lista outros projetos atualmente em andamento, caso da CPFL, no Sul do Brasil, em 250 MHz, o qual seria alvo de estudos de ampliação, com a possibilidade de troca de frequência. O grupo paulista ainda teria ainda dois projetos em estudo que devem ser operados na faixa de 450 MHz.
“São iniciativas mapeadas entre os associados da UTCAL”, ressalva o vice-presidente da entidade. “Há outras iniciativas, que podem ser até sensíveis e que ainda não foram oficializadas”, lembrando que o projeto pioneiro da Neoenergia, no interior de São Paulo, adota a frequência de 700 MHz.
Procurada, a Neoenergia confirmou que o empreendimento continua ativo e faz parte de sua estratégia de digitalização em duas frentes: primeiro, na interligação de mais de 80 mil medidores inteligentes e, segundo, estabelecendo um esquema completo de automação da rede, inclusive com self-healing.
Iberdrola utiliza drones para inspeção: conectados a redes privativas 4G/5G, podem viabilizar inspeções remotas em locais perigosos ou de difícil acesso (Foto: Divulgação/Iberdrola)
O superintendente de Smart Grids, Jader Carneiro, diz que, desde a implantação do projeto, a região de Atibaia reduziu o DEC (duração de interrupção de energia) em 50%. Além disso, a infraestrutura levou a uma redução de 80% na inadimplência e 20% nas perdas não-técnicas.
O projeto mais recente da Neonergia, no entanto, acontece em Brasília, e foi ativado no ano passado. Trata-se de uma rede multisserviço, na faixa de 450MHz, envolvendo a instalação de quatro estações rádio-base (ERBs) no Distrito Federal, com expansão planejada para outras regiões a partir deste ano.
Segundo a distribuidora, o licenciamento das estações para uso de rádio frequência está autorizado pela Anatel pelo prazo de 15 anos e seria o primeiro para uso desta frequência no país.
Com o currículo de duas experiências diferentes, Carneiro avalia que as redes LTE privativas oferecem uma infraestrutura de comunicação confiável para a transmissão dos dados, com alta capacidade de conexão, além de impulsionar a distribuidora a explorar novas oportunidades, incluindo a aplicação da Internet das Coisas (IoT) em sua rede.
Oliveira, da Cemig, à frente do novo projeto da distribuidora, avalia que o movimento de implantação de redes privativas é uma tendência, no que é apoiado por outro especialista ouvido pela Brasil Energia, Marcelo Entreconti (foto), chefe da área de vendas da Nokia para esse segmento.
No Brasil, a fabricante europeia atende o grupo Iberdrola, com soluções para aprimorar a automação da rede e otimizar a comunicação com equipes de campo, o que influiria na melhoria da eficiência operacional e na redução dos tempos de interrupção.
No mercado de energia, Entreconti vê aplicações reais a partir das redes próprias, caso dos drones conectados a 4G/5G, equipados com câmeras HD ou térmicas, além de sensores Lidar. Esse exemplo viabiliza as inspeções remotas em locais perigosos ou de difícil acesso. São usos que reduzem a necessidade de inspeções baseadas em veículos, reduzindo o consumo de combustível e, em consequência, de emissões.
De acordo com ele, um dos fatores-chave na implementação de redes privadas sem fio para empresas de energia é a disponibilidade de espectro. A faixa de 410/450 MHz é crucial, na sua avaliação, para comunicações confiáveis. Isso é particularmente mais impactante em áreas rurais ou remotas, onde frequências mais baixas são necessárias para cobrir longas distâncias e penetrar obstáculos como edifícios e árvores.
“Com a evolução da indústria de energia, a conectividade confiável tornou-se mais crítica do que nunca”, comenta Entreconti. “A crescente adoção de redes inteligentes, recursos energéticos distribuídos (DERs) e automação de redes aumentou a necessidade de redes de comunicação seguras e de alto desempenho”.
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