Revista Brasil Energia | ROG.e 2024

Pesquisadores mostram que demanda por potência já começou

Trabalho de analistas da FGV e da UFRJ a partir dos dados do ONS indica que o Brasil precisa agilizar condições para dispor de soluções de potência mais econômicas

Por Chico Santos

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Complexo termelétrico Jorge Lacerda (Divulgação/Diamante Energia)

Em estudo apresentado na ROG.e 2024, os pesquisadores Francisco Victer, da FGV, e Severino Virgínio, da UFRJ, demonstraram, com base nos dados de geração térmica disponibilizados pelo ONS, que a esperada pressão por potência esperada, em decorrência do crescimento das fontes variáveis, já é uma realidade, apesar da modulação das hidrelétricas, complementadas pela térmicas.

A pergunta geradora da pesquisa foi: as hídricas disponíveis hoje estão sendo suficientes para modular a pressão gerada pela chamada “rampa solar”, representada pelos cerca de 40 MWmed de geração fotovoltaica que deixam o sistema no fim da tarde, na hora do pico de consumo?

O trabalho consistiu, em uma primeira etapa, em computar os despachos térmicos dos últimos dois anos por razão de despacho, uma ou mais razões por usina e os respectivos tempos de cada despacho. A primeira conclusão obtida foi que 50% desses despachos representavam apenas 0,873% de toda a energia gerada no período, ou seja muitos despachos para pouca energia gerada, indicando que o acionamento tinha a ver com o atendimento à ponta.

Em uma segunda etapa, mais aprofundada, os pesquisadores concentraram a investigação nos despachos térmicos, no mesmo período, por quatro horas ou menos, entendendo que eles refletem o recurso a esses despachos como cobertura dos horários de ponta. A investigação revelou que 78% dos despachos de usinas importantes, como Jorge Lacerda (a carvão), Termomacaé (gás natural) e Viana (óleo combustível) ocorreram por quatro horas ou menos.

Em entrevista à Brasil Energia, Victer disse ter ficado evidente que essas usinas “já estão sendo usadas para complementar a ponta”. O técnico ressaltou que a maior parte das usinas acionadas nesse modo são movidas a gás e não a óleo, por exemplo, que são as geradoras de resposta rápida.

Victer lembrou que as usinas a gás, idealmente, são mais acionadas para complementar as hídricas por um tempo maior, por exemplo, nos casos de crise hídrica. São usinas cujo acionamento exige que sejam ligadas um certo tempo antes da hora para qual são demandadas e o desligamento também é demorado, condições que se refletem na constatação que grande parte dos despachos dessas usinas se dá por unit commitment, o jargão técnico para designar o tempo obrigatório de acionamento e desligamento de suas máquinas.

“O fato de você estar vendo esse tipo de coisa é um sinal muito claro de que no Brasil de hoje você já está usando as térmicas para complementar potência. Não estou dizendo que o fato de você usar essas térmicas hoje seja um problema, mas se você, ao invés dessas térmicas, tivesse outros sistemas de potência rápida, como baterias ou até hidrelétricas reversíveis, você teria uma economia, estaria evitando, por exemplo, unit commitment”, explicou.

Victer ressalvou que a constatação dele e de Virgínio não significa que as baterias vão estar sendo usadas no Brasil já em 2027, mas significa que até lá o cenário constatado na pesquisa que eles fizeram vai aparecer cada vez mais.

Como será o fluxo de ações para gerar essa reserva de potência que cubra as necessidades crescentes, Victer pondera que vai depender do como ficará a regulação de armazenamento em processo de elaboração pela Aneel, lembrando, por exemplo, que uma das definições cruciais para definir quem será competitivo ou não será saber se vai ser permitido ou não o empilhamento de receitas por parte dos vencedores dos leilões.

O técnico, que também trabalha na EPE, prefere não opinar, mas entende que tanto as baterias quanto as usinas reversíveis são alternativas que estarão na ordem do dia em prazos até menores do que os estimados, No caso das hídricas, Victer destaca ainda o potencial de quase 8 mil MW que o país dispõe pela via da ampliação de usinas com “poços” já prontos ou quase prontos em suas estruturas.

“Diante disso, cabe ao mercado estar pronto para abraçar assas mudanças inevitáveis, já ter soluções prontas, ter os dados na ponta da língua e saber indicar exatamente onde entende que vai ser melhor. O regulador tem que seguir realizando a sua agenda e o planejador, diante dos dados, tem que entender qual o volume de capacidade indicado para essas tecnologias”, resumiu.

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