Ampliação do parque termelétrico segue no radar da Petrobras

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Ampliação do parque termelétrico segue no radar da Petrobras

Estatal tem 4,9 GW de capacidade no mercado e reverteu o entendimento do início desta década, quando pretendia privatizar sua geração elétrica

Por Chico Santos

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Termorio, de 989 MW, maior termelétrica do portfólio da Petrobras (Foto: Divulgação)

A partir do entendimento expresso em seus posicionamentos corporativos de que o gás natural é o combustível da transição energética, a Petrobras segue antenada na perspectiva de expansão do seu atual parque gerador termelétrico de 4.902 MW, o que a coloca entre as dez maiores geradoras de energia elétrica do país.

“A companhia avalia continuamente oportunidades de participação em iniciativas voltadas à expansão da oferta de energia elétrica, buscando manter a competitividade e a relevância de seu parque termelétrico no atendimento ao SIN”, respondeu a estatal à Brasil Energia sobre seus planos de ampliação dessa capacidade.

É de conhecimento público que a empresa pretende participar do próximo leilão de potência (LRCap), previsto para março de 2026 em duas etapas, com novos 800 MW de duas térmicas a serem construídas no Complexo Boaventura, no Rio de Janeiro, além de 3.400 MW em usinas do seu parque existente.

A resposta acima é protocolar, mas confirma a reversão do posicionamento manifestado no final da década passada, quanto a empresa cogitava transformar sua área de geração em uma empresa aberta para pulverizar seu capital em bolsa, nos moldes da privatização da BR Distribuidora.

O projeto acabou não se concretizando, mas a empresa iniciou a alienação do seu parque termelétrico vendendo em 2021 as UTEs Arembepe, Bahia I e Muricy, totalizando 329 MW de capacidade, para o grupo Global Participações em Energia. As três usinas eram movidas a óleo combustível e estavam localizadas no Polo Petroquímico de Camaçari.

Também em 2021 a estatal arrendou até 2030 para o grupo Unigel a UTE Termocamaçari, de 120 MW a gás natural, encerrando sua geração de energia comercial no polo industrial baiano.

Atualmente, a única UTE da Petrobras na Bahia é a Termobahia, de 186 MW, localizada em São Francisco do Conde, cidade que também é sede da Acelen, antiga Rlam, vendida em 2021 para o fundo Mubadala.

Complexo Boaventura

No Complexo Boaventura, a Petrobras prevê construir duas termelétricas a gás natural de 400 MW cada (Foto: Divulgação/Petrobras)

Com a venda das usinas do Polo de Camaçari a Petrobras também eliminou do seu portfólio as últimas UTEs que não eram total ou parcialmente movidas a gás natural, combustível classificado pela empresa como “de transição por excelência”, no Brasil e no mundo.

Das suas atuais 13 UTEs que vendem energia para o SIN, apenas duas, Canoas e Termoceará, não são 100% a gás ou a reaproveitamento de vapor gerado por turbinas a gás, as usinas de ciclo combinado. Em agosto, a empresa realizou testes para substituir o diesel por biodiesel na Termoceará.

Das 13 UTEs da Petrobras atualmente em operação comercial, somente uma, a UTE Baixada Fluminense, de 530 MW, não é remanescente do Programa Prioritário de Termelétricas (PPT), criado pelo governo federal em 2001. A Lei 10.312 estabeleceu estímulos tributários a investimentos em termeletricidade como solução emergencial para a recomposição do parque gerador, após a crise do apagão instalada naquele ano.

De acordo com relatório do Conselho de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas (CMAP) de 2023, avaliando as Políticas de Subsídio à Termeletricidade, já em 2001, quando vigorava o racionamento de 20% do consumo, a estatal colocou em operação duas UTEs, ambas no Rio de Janeiro, a Termomacaé, de 923 MW e a UTE Seropédica, de 360 MW.

Pode-se dizer que a Petrobras foi induzida pelo governo federal da época a assumir a frente dos investimentos em térmicas, únicos que poderiam ficar prontos na velocidade necessária à retomada da segurança energética do SIN, dada a sua condição privilegiada de ainda monopolista na produção e importação de gás natural, apesar da quebra formal do monopólio pela Lei nº 9.478/97.

Termoceará

Termoceará, de 220 MW, passou por testes em agosto para substituir o diesel por biodiesel (Foto: Divulgação)

Em 2002 foram inauguradas em MG as UTEs Juiz de Fora (87 MW) e Ibirité (235 MW), além da Termoceará, de 220 MW. No ano seguinte foi a vez da UTE Canoas RS (249 MW) e em 2004 entraram as UTEs Nova Piratininga (386 MW), em São Paulo, Três Lagoas (386 MW), no Mato Grosso do Sul, Termobahia (186 MW) e a Termorio (989 MW), maior usina do seu portfólio.

O relatório também menciona que a capacidade de geração termelétrica brasileira saltou de 4.506 MW em 1997 para 11.292 MW em 2003, aumento de 151%, só comparável, na década atual, à velocidade do crescimento das gerações eólica e solar, realçando o esforço feito na época para recuperar a segurança energética perdida.

A participação do gás natural na geração térmica total, que fora de escassos 450 GWh em 1999, equivalentes a 2% do conjunto de fontes termelétricas, alcançou 9.073 GWh em 2003, representando 26% da produção total de energia elétrica de fontes térmicas naquele ano.

Ainda de acordo com os dados do CMAP, de 2001 a 2023 as termelétricas a gás natural beneficiadas pelos incentivos do PPT geraram 548 TWh de energia, com destaques para os períodos de escassez hídrica. O pico de produção dessas usinas no período analisado foi em 2014, com 58 TWh.

Os números da produção foram baseados nos dados de 22 UTEs, das quais 13 eram 100% da Petrobras na maior parte do período. A estatal tinha ainda participação minoritária em uma delas, a UTE Araucária, de 484,15 MW, tendo vendido os 18,8% que detinha em julho do ano passado para a Âmbar Energia.

No total, a Petrobras detinha mais de 60% da capacidade instalada das térmicas a gás, não estando incluída entre elas a UTE Baixada Fluminense, que é de 2014. Todas as demais foram colocadas em operação entre 2001 e 2009, quando entrou no mercado a UTE Cubatão, de 250 MW.

As estatísticas de outorgas da Aneel indicam que existem atualmente em operação 25 UTEs 100% pertencentes à Petrobras, totalizando 5.578,5 MW, sendo 18 a gás natural, cinco a gás de refinaria, uma a “outros energéticos de petróleo” e uma a óleo combustível.

A Petrobras não explicou o motivo da diferença, mas os dados indicam que ela está concentrada nas térmicas de menor porte que operam diretamente dentro das suas próprias refinarias. Das 25 UTEs em operação, dez são usinas de autoprodução e duas - Atalaia e Lubnor -, ambas com menos de 5 MW, são apenas registradas, sem outorga de autorização ou concessão. Os números da agência incluem ainda a construção da UTE a gás de 257,1 MW no Complexo Boaventura.

Segundo a Petrobras, 88% da sua potência total em térmicas opera vendendo energia ao SIN e os 12% restantes fornecem energia para unidades próprias. Este ano, as usinas geraram 817,4 MWmed, sendo 789,2 injetados no SIN e 28,2 usados para consumo interno.

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