
Geração da siderurgia economiza uma Angra3 ao SIN
Revista Brasil Energia | Termelétricas e Segurança Energética
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Geração da siderurgia economiza uma Angra 3 ao SIN
Parte da energia gerada com o aproveitamento de resíduos produzidos no processo siderúrgico é autoconsumida enquanto o excedente é exportado ao SIN. Somados, os dois blocos têm a potência de Angra 3

A geração própria de energia termelétrica das usinas siderúrgicas brasileiras, segundo os dados da Aneel e computadas somente aquelas instaladas em grandes plantas de produção de aço, soma 1.401,33 MW, o que representa deixar de puxar do SIN quase os 1.405 MW que serão acrescentados pela UTN Angra 3, se um dia ela for concluída, e um pouco mais do que a capacidade da UHE Água Vermelha, segunda maior da cascata do rio Grande, com seus 1.396,2 MW de capacidade.
Tão relevante quanto é o fato de que essa capacidade de geração tem como fonte, basicamente, os gases gerados pelo próprio processo de transformação do minério de ferro em aço. Sem esse aproveitamento, esses efluentes seriam lançados livremente na atmosfera, contribuindo, sem nenhuma utilidade adicional, para aumentar o aquecimento global.
E, como mostram os dados, parte dessa energia também contribui diretamente com o abastecimento do sistema interligado. A térmica de 490 MW que aproveita os gases da antiga Siderúrgica do Atlântico, hoje Ternium Brasil, no Rio de Janeiro, gera um excedente de 200 MW além do que utiliza na sua planta para comercialização, principalmente, no ambiente de contratação regulado (ACR).
A prática das siderúrgicas aproveitarem seus vapores para gerar a própria eletricidade não é nova no Brasil. Os dados da Aneel mostram que ela vem, pelo menos, desde 1981, quando entrou em vigência a autorização para funcionamento da UTE de 225,1 MW da CST, em Serra (ES), hoje uma das usinas do grupo ArcelorMittal no Brasil.
Na época, praticamente todo o parque siderúrgico brasileiro era estatal, controlado pela Siderbrás. Com o processo de privatização realizado na década de 1990 e a posterior consolidação setorial em grandes grupos privados, esse movimento se acentuou, sendo a maioria das outorgas de autorização das termelétricas já deste século.
“As primeiras centrais termelétricas [do grupo ArcelorMittal] foram implantadas em 1983, em Tubarão (ES), no início das operações da unidade, e outras quatro foram incorporadas ao longo das expansões produtivas”, explica Fabrício Assis, diretor de Produção de Gusa e Energia da ArcelorMittal, Unidade Tubarão. A ArcelorMittal tem capacidade outorgada de 590,4 MW.
Em Serra, a ArcelorMittal gera energia própria desde 1981, através da UTE CST, de 225,1 MW (Foto: Divulgação)
Nos registros da Aneel, a ArcelorMittal figura com duas unidades em Tubarão, município de Serra, a primeira e mais antiga (nome original UTE CST), com 225,1 MW e a segunda, UTE Sol, de 147,3 MW. Uma terceira térmica do grupo fica na antiga Siderúrgica de Pecém (CSP), hoje Unidade Pecém da ArcelorMittal, no Ceará, com 218 MW de capacidade outorgada.
A capacidade instalada da indústria siderúrgica brasileira é de 51 milhões de toneladas de aço bruto anual, distribuída por 31 usinas pertencentes a 11 grupos empresariais.
Em estudo do BNDES de 2015 intitulado “Sustentabilidade da Siderurgia Brasileira: Eficiência Energética, Emissões e Competitividade”, os autores observam que de 2007 a 2013 a siderurgia brasileira apresentou uma redução de 34,4% de consumo de energia da rede por tonelada de aço produzida.
UTE do Atlântico, instalada no complexo siderúrgico da Ternium (antiga CSA), no Rio de Janeiro, tem 490 MW e fornece quase metade da sua produção ao ACR, além de comercializar no Mercado Livre (Foto: Divulgação)
Foi justamente em 2013 que a Aneel concedeu a outorga de autorização da UTE da ArcelorMittal em Pecém. A usina cearense é a mais recente siderúrgica integrada, aquela cujo processamento vai do minério de ferro ao produto acabado de aço. Esse modelo de processo industrial gera grande quantidade de gases, proporcionando maior potencial de produção de eletricidade.
Na CSN, em Volta Redonda, duas térmicas fornecem energia, a CTE II, de 235,2 MW, e a TRT, de 21 MW, que utiliza gás de topo de alto-forno (Foto: Divulgação)
Em 2007 havia entrado em vigência a outorga da que hoje é a maior termelétrica de aproveitamento de gases da siderurgia do país, com 490 MW de capacidade, energia suficiente para alimentar cerca de um milhão de residências, dependendo do consumo médio.
A UTE do Atlântico está instalada no complexo siderúrgico da Ternium, antiga CSA, no bairro de Santa Cruz, Rio de Janeiro. A CSA foi adquirida em 2017 pela Ternium, de capital ítalo-argentino, da alemã Thyssenkropp.
De acordo com a Ternium, a UTE do Atlântico entrou em operação comercial em janeiro de 2011, concebida sob o “conceito de circularidade”, voltado para obter o máximo de eficiência energética aproveitando os gases do processo siderúrgico.
Com porte superior ao da UHE Mascarenhas de Moraes (476 MW), uma das principais hidrelétricas do rio Grande, a UTE fornece quase metade da sua produção ao ACR, além de comercializar no Mercado Livre.
Em 2023 a Ternium tornou-se a principal acionista da Usiminas, que também possui um importante parque gerador elétrico em sua unidade integrada de Ipatinga, MG, com três termelétricas de 40 MW, de 18,81 MW e de 63,15 MW, totalizando 121,96 MW.
Apenas as duas usinas maiores estão operando, tendo como combustíveis os gases do processo siderúrgico e “um pequeno percentual de gás natural”, de acordo com a Ternium.
Outras duas grandes empresas do segmento siderúrgico brasileiro possuem geração termelétrica própria expressiva, a CSN e a Gerdau Açominas.
Unidade da Gerdau Açominas, em Ouro Branco (MG), onde está instalada uma térmica de 102,89 MW (Foto: Divulgação)
A CSN, em Volta Redonda, RJ, primeira grande siderúrgica do Brasil, inaugurada em 1941, possui duas térmicas: a CTE II, com potência de 235,2 MW (177,97 MW outorgados) e a TRT, de 21 MW, que utiliza gás de topo de alto-forno para gerar energia.
A empresa explicou ainda que a TRT, embora conste da listagem de termelétricas da Aneel, não é propriamente uma térmica porque utiliza o conceito físico de “cinética dos gases” para gerar energia, em vez de queimar gases de processo, como acontece na CTE. A CST e a CSP, da ArcelorMittal, também produzem energia a partir de gases de topo de alto-forno.
Outras térmicas completam o parque elétrico siderúrgico brasileiro. A Gerdau Açominas, de Ouro Branco, MG, tem uma térmica de 102,89 MW, enquanto duas siderúrgicas produtoras de ferro-gusa, etapa intermediária da produção do aço, geram um bloco menor. São a Vetorial Corumbá, de 10 MW, MS, e a UTE Viena, de 12 MW, em Sete Lagoas, MG. Esta última pertence à Siderúrgica Viena que em agosto anunciou a paralisação de sua planta de gusa mineira.