
TSB vê no gás argentino oportunidade de longo prazo para o Brasil
TSB vê no gás argentino oportunidade de longo prazo para o Brasil
Walter Farioli, diretor-geral da transportadora, defende retomada do projeto Uruguaiana–Porto Alegre como elo estratégico entre Vaca Muerta e o mercado consumidor brasileiro

A Transportadora Sul Brasileira de Gás (TSB) enxerga uma nova janela de oportunidades para o projeto do gasoduto Uruguaiana–Porto Alegre, concebido há 25 anos para integrar as malhas de gás da Argentina e do Brasil. Com a confirmação das imensas reservas de Vaca Muerta, uma das maiores jazidas de shale gás do mundo, a proposta ganha novo fôlego e passa a ser vista como parte de um plano estruturante de integração energética regional.
“O Rio Grande do Sul deixa de ser apenas um mercado de destino e passa a ser uma ponte natural para o gás argentino chegar ao Sudeste, que é o grande centro consumidor do país”, afirmou o diretor-geral da TSB, Walter Farioli, em entrevista à Brasil Energia. Segundo ele, o projeto, que previa inicialmente suprir usinas térmicas locais e a indústria gaúcha, agora deve ser pensado em escala maior, capaz de conectar diretamente as reservas argentinas à “grande piscina” da malha brasileira.
Hoje, o gasoduto opera apenas em um trecho de 25 km entre a fronteira e Uruguaiana e outro trecho da mesma extensão entre Canoas e o Polo Petroquímico de Triunfo, mas poderia atingir 650 km em sua configuração plena. Para Farioli, a infraestrutura já existente — direitos de passagem, licenças ambientais e estudos técnicos — confere vantagem competitiva ao empreendimento. “Não é simplesmente tirar o projeto da gaveta. É preciso atualizá-lo, mas ele já nasce com um diferencial: está pronto para ser retomado”, disse.
Na visão do executivo, o novo momento exige abandonar soluções de curto prazo e pensar em gasodutos mais robustos. Ele defende que o Uruguaiana–Porto Alegre seja projetado já em maior escala, com diâmetros de 30 a 36 polegadas, garantindo espaço para crescimento futuro. “Se vamos construir um duto hoje, precisamos pensar no amanhã. Em energia, dez anos passam rápido. Não podemos repetir erros do passado, como fazer gasodutos telescópicos que depois limitam a capacidade de transporte”, afirmou. Para ele, a escala é o que garante tarifas mais competitivas: “Se eu abro um túnel pequeno, o pedágio fica caro. Se eu faço de início uma infraestrutura maior, o custo marginal compensa e a tarifa unitária cai.”
Os cálculos originais da TSB, feitos no início dos anos 2000, estimavam investimentos de cerca de US$ 1,2 bilhão para alcançar uma capacidade de 12 a 15 milhões de m³/dia. A tarifa de transporte projetada ficava próxima a US$ 1 por milhão de BTU. Embora defenda a atualização desses números, Farioli acredita que o gás argentino poderia chegar competitivo ao Brasil. “As contas apontam para algo em torno de US$ 6 a US$ 7 por milhão de BTU, o que é viável para o mercado nacional”, avaliou.
O executivo também destacou que, além de abastecer a indústria e a geração elétrica no Rio Grande do Sul, a interconexão abriria caminho para reforçar a segurança energética do país. Isso exigiria, no entanto, uma coordenação binacional semelhante à que estruturou o Gasbol entre Brasil e Bolívia. “É fundamental que Brasil e Argentina sentem juntos, com apoio de agentes públicos e privados, para definir um modelo de longo prazo. Se pensarmos apenas em soluções provisórias, ficaremos nos remendos”, alertou.
Com reservas que podem atender à demanda de toda a América Latina por até 90 anos, segundo estimativas argentinas, Farioli defende que a discussão vá além da flexibilidade de rotas. “Não se trata de competição entre gasodutos. O desafio é aproveitar a abundância de gás de forma integrada, para gerar escala e reduzir tarifas. Esse é o caminho para transformar potencial em riqueza”, concluiu.
Assista à entrevista na íntegra:
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