Revista Brasil Energia | Vitória PetroShow 2024
O país precisa saber desmantelar sucata, um mercado de US$16 bi
Mauro Destri, da Destri Energy Consultoria, detalha o tamanho do mercado de descomissionamento a ser atendido pelas empresas fornecedoras no Brasil
Com base nos PAT – Programa Anual de Trabalho que a ANP coleta entre as operadoras, o Brasil deverá produzir 500 mil toneladas de sucata até 2030, como resultado do descomissionamento de 14 plataformas flutuantes (semi-submersíveis e FPSOs), 28 plataformas fixas e cerca de 3.000 km de linhas de 3.783 poços a serem abandonados. Esse será um mercado entre US$ 14,5 bilhões e US$ 16 bilhões até 2029 no país, ou 11% dos US$ 85 bilhões previstos para descomissionamento no mundo na próxima década.
Boa parte desse mercado a ser desenvolvido abre diversas frentes novas de serviços, já que o país até bem pouco tempo resolvia o descomissionamento mandando as estruturas descomissionadas para serem desmanteladas no exterior. “O Brasil, um importador de sucata de aço, estava mandando seu aço para ser desmantelado lá fora, para depois importar. Para se ter uma ideia, tinha uma cláusula no leilão, até dois anos atrás, obrigando as plataformas descomissionadas a serem transportadas para fora do Brasil direto da locação. É um paradoxo muito grande, disse Mauro Destri, CEO da Destri Energy Consultoria, na sua entrevista à reportagem da Brasil Energia, após fazer uma apresentação sobre o tema “Descomissionamento Offshore” na Vitoria Petroshow. “Só no mercado específico do Espírito Santo estamos falando de R$ 1,82 bilhão nos próximos quatro anos”.
Em sua visão, há muito mercado a ser desenvolvido no Sudeste, principal região produtora offshore do país. “Como carioca, não que o Brasil não seja um só, me doeu ver a P-32 e a P-33, unidades que estavam aqui do nosso lado, na Bacia de Campos, serem transportadas para um estaleiro do Rio Grande do Sul para ser desmantelada. E doeu porque significa que nós aqui não estamos preparados para receber [um serviço desse]. Aqui no Espírito Santo nós temos quatro grandes estaleiros. A Imetame e o Jurong não vão trabalhar com descomissionamento em princípio, pelo que se ouve falar. Temos ainda a V-Port, que também está em Aracruz, e o Nova Holanda. Ambos precisam de obras e investimento para estarem prontos em um ano e pouco, depois de muito trabalho.”
E que serviços são esses? Destri explica que, no caso das plataformas, só para chegar ao estaleiro precisa de calado de 10 a 12 m, indisponível nesses dois portos capixabas, o que demanda serviços de dragagem. “Nós temos que ter um atracadouro propício pra ela chegar e ficar abrigada. Para desmantelar, temos que ter guindastes e toda uma estrutura de corte, temos que estar preparados de acordo com as normas regulamentadoras brasileiras, que são 38 NRs. Temos que estar preparados para limpar e recolher esse resíduo e mandar para uma estação de tratamento”. Já o descomissionamento, que antecede o trabalho do desmantelamento da plataforma, inclui a desconexão das linhas submarinas, liberação da plataforma e linhas e transporte de tudo até os limites do estaleiro.
- É toda uma infraestrutura do ponto de vista físico, ambiental e humano, de treinamento, uma senhora oportunidade para o Espírito Santo. Então é isso que esses dois estaleiros, se quiserem, terão que se preparar para fazer, sentenciou o consultor. “E por incrível que pareça, esse desmantelar, que parecia uma coisa fácil, está se tornando uma coisa complicada pelo desconhecimento que se tem de fazer isso em larga escala. Hoje, se nós temos que pegar as linhas e cortar, encontramos oito camadas entre aços e plásticos, e para cada camada dessa existe uma ferramenta de corte. Hoje tudo está muito manual, com risco para o ser humano, tem custo pela demora e é preciso mecanizar mais. Para se ter ideia, a última vez contei 58 oportunidades para profissionais diferentes numa cadeia de descomissionamento.
No entender de Destri, o Brasil perdeu muita oportunidade de aprender com esse mercado, quando mandou várias plataformas para serem desmanteladas no exterior. O FPSO Capixaba foi embora, o Rio de Janeiro, o Rio das Ostras e o Piranema também. “Essas nós não aprendemos. Estamos aprendendo agora com a P-32 e a P-33 e está dando muito problema. No mundo, o desmantelamento é um mercado enorme, estimado em 200 plataformas por ano”
“Até 2020 tínhamos a resolução 27/2006, que precisou ser revista. Criou-se a 817, com a qual estamos aprendendo a trabalhar. Uma excelente oportunidade para todo mundo e tudo isso vira negócio; a sucata sem contaminante, limpeza e tratamento do óleo, imagina! Técnico de segurança, técnico em meio ambiente, químicos, estação de tratamento, mecânica, elétrica, instrumentação”.
Para o consultor, muitas dessas atividades sustentarão uma nova indústria. “Pensa, mesmo o técnico de química ou um engenheiro químico vai ter que fazer muitos testes que até então não conheciam. Ele conhece a química? Conhece, ele estudou. Tem a teoria dele? Sim, mas ele vai ter que botar em bancada, testar para limpar, isso vai demandar tempo e é a oportunidade”.
Assista a vídeo-entrevista:
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