Opinião

A demanda do sistema é clara: Precisamos de Leilões de Potência

Levantamento identificou 33 GW de projetos novos de térmicas a GN com potencial para participar do LRCAP 2024 e, desses, 5 GW possuem maior competitividade. Já entre os 7 GW de UTEs existentes, 4 GW são mais competitivos

Por Alex Farias

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A EPE publicou, em 15 de julho de 2024, o caderno de “Requisitos de Geração para Atendimento aos Critérios de Suprimento”, indicando os requisitos de energia e potência do sistema para o horizonte 2034. O caderno apresenta um dado muito importante para o setor elétrico: a necessidade de potência (Figura 1)! A oferta adicional para suprir o requisito de potência se inicia já em 2027, chegando a ordem de 5,5 GW em 2028 e 35 GW em 2034.

Figura 1: Requisitos de potência. Fonte: PDE 2034

Os requisitos do sistema sinalizam a necessidade de contratação de oferta adicional para garantir o suprimento de energia elétrica. É a direção apontada para garantir confiabilidade. A partir desta informação, o requisito de potência nos traz uma reflexão: em um cenário de rápido crescimento das fontes intermitentes, qual o melhor produto para atender a este requisito? 

Como temos restrições sociais e ambientais para expansão das hidrelétricas e, enquanto os sistemas de baterias ainda não estão maduros o suficiente, a geração termelétrica se apresenta como uma das melhores soluções para atender ao requisito de potência, com alto grau de confiabilidade, escala, custo e disponibilidade. 

A Figura 2 demonstra o papel das termelétricas ao longo dos últimos anos. Na crise hídrica de 2020-2021, cobriram o déficit da geração hidrelétrica, garantindo a confiabilidade energética. Recentemente, com o aumento das fontes intermitentes, aumentam a confiabilidade de potência. Em especial, caros leitores, as termelétricas a gás natural, que podem atender ao requisito de potência, são flexíveis e têm papel fundamental na segurança energética e de potência. 

Além disso, UTE a gás natural tem o melhor perfil de emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) por MWh, quando comparada com outros combustíveis fósseis, funcionando também de forma complementar às fontes renováveis. É um produto que fortalece a transição para um mundo de baixa emissão de carbono, e no cenário de GEE do Brasil, tem baixíssima representatividade, pois a matriz elétrica já é 87 % renovável (Aneel, 2024).

Figura 2: Geração termelétricas nos últimos anos. Fonte: ONS, 2024

Diante deste contexto, os leilões de reserva de capacidade na forma de potência são fundamentais para dar confiabilidade para o sistema elétrico e não podem mais demorar. A adição de capacidade é necessária mesmo no cenário atual em que temos sobra de energia. Como os dados apresentados pela EPE indicam: já em 2028 há uma necessidade de oferta de 5,5 GW de potência. 

Outro ponto fundamental nesta reflexão são também os leilões que possam atender a requisitos locacionais, usinas próximas aos centros de carga. Mais um atributo que pode ser atendido pelas usinas termelétricas a gás natural. Na região sul, por exemplo, a EPE no PDE 2031 aponta a demanda de 7,5 GW de geração termelétrica flexível.

Buscando atender à exigência de potência do sistema, o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou a portaria nº 774, em 7 de março de 2024, divulgando a minuta das diretrizes para a realização do Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência de 2024 – LRCAP 2024. O Leilão é esperado para ocorrer no segundo semestre deste ano. Os produtos objetos do leilão, são: 

 

Figura 3: Produtos do LRCAP. Fonte: MME 2024 adaptado por Arpoador Energia

No cenário nacional, um levantamento preliminar feito pela Arpoador Energia, identificou 33 GW de projetos termelétricos novos com potencial para participar do LRCAP 2024. Desses, 5 GW possuem maior competitividade em função de questões logísticas, escala e de acesso à molécula de gás. Além disso, há 7 GW de UTEs existentes a gás natural que podem participar do leilão, sendo que, 4 GW foram mapeados com maior potencial competitivo para serem vencedores.

Figura 4: Levantamento preliminar de projetos termelétricas a gás natural. Fonte: Arpoador Energia, 2024.

A demanda de potência é clara: precisamos de novos leilões para atender os requisitos exigidos pelo sistema. Por fim, e não menos importante, a realização desse tipo de leilão irá gerar benefícios que extrapolam questões meramente técnicas, são projetos de capital intensivo, criam milhares de empregos, geram oportunidades de crescimento econômico, proporcionam maior arrecadação tributária, alavancam o mercado de gás natural no Brasil e fortalecem a transição energética, que deve ser feita de forma justa, ordenada e equitativa. 

Diferentemente do resto do mundo, o Brasil já realizou a transição no setor elétrico. Em 2023, por exemplo, a participação de fontes renováveis atingiu 93% do SIN. O sonho de muitos países que esperam alcançar em 2050 já é uma realidade verde e amarela. Precisamos dar segurança para garantir a sustentabilidade do sistema.

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