Opinião
Usinas flutuantes e a otimização do parque hidrelétrico
Implementada em caráter experimental, a hibridização já revela vantagens. Mas, sem regulação própria, o custo do sistema ainda é muito oneroso e impede a exploração de todo o parque hidrelétrico do país
A crise hídrica que assola o país tende a piorar ainda mais com a chegada do período de estiagem, que se intensifica nos meses de julho, agosto e setembro. Nesta perspectiva, o nível dos reservatórios, portanto, tende a baixar ainda mais. Mas mesmo diante das novas projeções de aumento da energia elétrica no País, que já impacta severamente a inflação, pouco se fala da substituição ou redução de investimentos das termelétricas, mais caras e poluentes!
A energia gerada pelas termelétricas custa quase nove vezes mais que as hidrelétricas. Isso explica a alta da energia em todo o país. Apenas em maio, a alta foi de 5,37%, o que correspondeu a 0,23 ponto percentual do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Em junho foram mais de 1,95%, uma alta de 14,20% em 12 meses.
Enquanto o problema da crise hídrica tem sido combatido com medidas paliativas e onerosas ao brasileiro, ainda pouco se debate sobre alternativas concretas e já existentes no mercado para melhorar a eficiência de nosso imenso parque hidrelétrico. Vantagem pouco conhecida é a capacidade de conter, por exemplo, a evaporação dos reservatórios a partir da hibridização das hidrelétricas.
As usinas flutuantes sobre a água amenizam o calor sobre os painéis e ajudam a reduzir a evaporação dos espelhos d’água em até 70%. Esta projeção foi comprovada recentemente em tese de doutorado da Coppe/UFRJ, intitulada “Usinas fotovoltaicas flutuantes como alternativa para a geração de energia e redução da evaporação em açudes do semiárido brasileiro” (2020).
O estudo demonstrou casos como o da bacia Apodi, em Mossoró (RN), que, com o auxílio de uma usina solar flutuante, conseguiria impedir a evaporação de 124Mm3 de água por ano. O mesmo foi observado em algumas usinas já instaladas no Brasil, como no reservatório de Sobradinho (BA) - maior reservatório dentre as hidrelétricas brasileiras -, que perde 200 m3 de água por segundo em evaporação.
Além disso, a geração híbrida, que alia o sol (energia solar) à água (hidrelétricas), aumenta em mais de 17% a capacidade de geração de energia das usinas hidrelétricas, a partir da fusão das duas tecnologias de geração de energia. Mais um ponto de vantagem é que o sombreamento dos painéis sobre a água em lagos e represas evita a proliferação de algas. As plantas prejudicam o desempenho das hidrelétricas que tanto já sofrem com as estiagens.
Sob o ponto de vista da sustentabilidade, outro aspecto relevante é que as usinas solares convencionais sobre o solo, dependendo dos terrenos que serão utilizados, possibilitam eventuais remoções de árvores e de vegetação, gerando um passivo ambiental.
Além disso, para áreas de agricultura, os painéis solares sobre as águas liberam espaço de plantio e aumentam a produtividade das terras. Dessa forma, fazendas agropecuárias ou agrícolas com espelhos d’água podem optar pela instalação de usinas flutuantes, que se tornam uma alternativa de simples e rápida implementação, além de serem uma opção mais lucrativa diante do aumento da eficiência energética e da redução da evaporação da água.
Agora, o mercado aguarda ansioso pela regulamentação da hibridização que tramita na Aneel. Hoje, ela ainda é implementada em pequena escala, em caráter experimental, e já revela todas as vantagens relatadas. Mas o fato é que, sem regulação própria, o custo do sistema ainda é muito oneroso e impede a exploração de todo o parque hidrelétrico do país.
O Brasil é um dos países mais ensolarados do mundo e uma potência mundial de reserva de água doce. Sendo assim, devemos e podemos explorar e utilizar estas fontes inesgotáveis de energia a nosso favor! É preciso se adaptar e procurar alternativas que nos tornem independentes dos períodos de chuva. Em um país repleto de sol, a implementação deste tipo de usina híbrida é bastante promissora.
Luiz Piauhylino Filho é especialista em legislação internacional na área de energia, sócio da Sunlution e da KWP Energia