Opinião

Independência energética e redução de emissões através do gás natural no Brasil

Considerando que o Brasil possui gás natural em abundância e ainda não tem demanda firme suficiente para manter os poços em plena produção, é importante olhar para este combustível como uma solução não só mais eficiente, como mais barata e mais limpa, no caminho para a independência energética do país

Por Eduardo Antonello

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O gás natural é o combustível fóssil mais limpo, quando se trata de transição energética, para redução de emissão de gases e o combate ao aquecimento global. A sua combustão, por exemplo, emite cerca de metade do dióxido de carbono do carvão e 30% menos do que o petróleo e, ainda, muito menos partículas sólidas do que outros poluentes, por unidade de energia fornecida. Ao possibilitar reduções substanciais de emissão, o gás natural torna-se um eficiente substituto tanto para o consumo doméstico, industrial e mesmo nos veículos leves e pesados.

Por ser um recurso amplamente disponível e bem redistribuído em todo o mundo, o gás natural desempenha um papel importante na geração de energia e é uma solução simples e imediata para a descarbonização da eletricidade e da indústria – especialmente em setores de alto consumo de energia (mineração, aço, cimento etc.). É considerado fundamental para a transição energética por sua flexibilidade e capacidade de atender ao rápido crescimento da demanda alimentado pela eletrificação dos usos. Além de ser provavelmente a melhor a mais barata alternativa para intermitência e sazonalidade das energias renováveis, por exemplo.

Por ser a alternativa de  combustível de fácil transporte tanto comprimido quanto liquefeito, uma das soluções práticas e imediatas no Brasil, seria o aproveitamento do gás natural para reduzir ainda mais as emissões na substituição por diesel em ônibus e caminhões pesados. Tal transição poderia também trazer benefícios à economia do país, como por exemplo através da redução do custo do frete rodoviário. Uma vez liquefeito, o gás natural transportado teria um volume energético similar ao diesel, podendo igualmente ser transportado e entregue nos locais de consumo. A demanda global por gás natural liquefeito (GNL) vem crescendo fortemente e entre 2015 e 2021 aumentou 9% ao ano.

Comparado com o diesel e a gasolina, o gás natural pode reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 20 a 30 por cento. As emissões de gases de escape dos veículos à gás natural, quando comparadas aos veículos à diesel, oferecem reduções de poluentes urbanos comuns: monóxido de carbono (CO): redução de 70 a 90%; óxidos de nitrogênio (NOx): redução de 75 a 95%; gás orgânico não metano (NMOG): redução de 50 a 75%; dióxido de carbono (CO2): redução de 20 a 30%. Se o gás natural for proveniente do biogás, as emissões são quase que totalmente neutralizadas tamanho o benefício ambiental.

Do ponto de vista político, outra comparação importante é entre os custos e a viabilidade da expansão da rede elétrica versus a expansão de uma rede de gás que também poderia fornecer gases descarbonizados (metano ou hidrogênio renovável), além de fornecer benefícios para a segurança energética.

Segurança para evitar a emissão de metano

Para se concretizar os potenciais benefícios climáticos do gás natural, entretanto, tecnologias e políticas devem ser implementadas para minimizar os vazamentos de metano da produção, coleta e processamento de gás natural, transmissão e distribuição e transporte de GNL. É imperativo que os participantes da cadeia de valor, tanto empresas, quanto estados, trabalhem para reduzir as emissões ao longo da cadeia de GNL. Inclusive, esse foi o compromisso de 105 estados para reduzir as emissões do metano em 30% até 2030, conforme destacado na COP26 em Glasgow.

O gás natural também pode ser uma fonte para o desenvolvimento massivo de “hidrogênio azul”, a partir de gás natural usando reforma de metano a vapor e tecnologia de captura e armazenamento de carbono, o que é consistente com as metas climáticas de 2050. Como o hidrogênio queima de forma mais limpa e reduz a poluição do ar e as emissões de gases de efeito estufa, a mistura do hidrogênio (especialmente hidrogênio produzido a partir de fontes de baixo carbono) com gás natural em dutos é uma das soluções viáveis.

O gás natural como solução em todo mundo

Já nos países que usam ainda o carvão, acaba por ser um componente crucial para se zerar as emissões. Nos Estados Unidos, o gás natural já é a maior fonte de geração de energia elétrica. Essa substituição pelo carvão ajudou a reduzir as emissões do setor de energia para os níveis de meados de 1980.

Segundo uma pesquisa do International Energy Agency (IEA), mudar a geração de energia de carvão por usinas de energia de gás natural já existentes poderia reduzir até 1,2 gigatoneladas de emissões de CO2 em todo o mundo – isso é 1.200.000.000 toneladas métricas ou as emissões do uso de energia de 144,5 milhões de residências por um ano. Isso reduziria as emissões globais do setor de energia em 10% e as emissões totais de CO2 relacionadas à energia em 4%, de acordo com a IEA. Mesmo nos EUA, que experimentou reduções dramáticas na troca de combustível, a IEA afirma que a infraestrutura existente oferece um potencial significativo para mais troca de carvão para gás.

Globalmente os potenciais benefícios do gás natural são amplamente estudados e difundidos. No Brasil, entretanto, ainda há necessidade de fomentar este mercado, não só para a redução de emissões, como também como mais uma alternativa a caminho da independência energética e redução de custos ao consumidor final. É imprescindível estimular políticas de investimento na substituição de combustíveis de transportes pesados e consequentemente desenvolver toda a cadeia.

Por Eduardo Antonello, fundador da Golar Power e da Macaw Energies

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