Opinião

Os esforços para a retomada da construção naval

A mobilização de estaleiros e a rede de fornecedores para iniciar o processo de retomada da construção naval terá como incentivo a demanda prevista de encomendas

Por Ivan Leão

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Os esforços para a retomada da construção naval vêm ocorrendo de forma sistemática no Brasil. Existem orientações políticas do Poder Executivo, resultando em atividades no legislativo da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Indústria Naval Brasileira, presidida pelo deputado federal Alexandre Lindenmeyer (PT-RS); na Petrobras, com definições de aumento do conteúdo local para 40% e 30%, nos fornecimentos dos FPSOs do projeto Sergipe Águas Profundas, SEAP-1 e SEAP-I2, respectivamente; na Transpetro, com a decisão de construir em estaleiros locais navios petroleiros e aliviadores, com financiamentos discutidos entre a Petrobras e o BNDES.

Além disso, existe a necessidade articular grandes empresas para reestabelecer o foco nos fornecimentos à construção naval. A Frente Parlamentar Mista propõe, para o fortalecimento de rede de fornecedores, a prerrogativa de o estaleiro e contratantes selecionarem se vão trabalhar através do regime de SPE (sociedade de propósito específico) ou regime de segregação contábil. O que viabiliza, por exemplo, a participação das empresas como a Andrade Gutierrez, UTC Engenharia e Novonor, recém incluídas no cadastro de fornecedores da Petrobras.

Viabiliza também o arrendamento do estaleiro Inhaúma, na cidade do Rio de Janeiro, anunciada pela Petrobras em 24 de julho. São cerca de 321,6 mil metros quadrados de área e todas a instalações e infraestrutura existentes. O Inhaúma, sob a administração do Enseada Industria naval, realizou a conversão cascos de FPSOs destinados ao campo do pré-sal de Búzios. A oportunidade pode atrair a participação de empresas associadas à ABEMI (Associação Brasileira de Engenharia Industrial) como a Camargo Corrêa, acionista do EAS - Estaleiro Atlântico Sul, e a Tenenge, do grupo OEC/Novonor, acionista do Enseada Industria Naval.

O panorama do primeiro semestre de ações para a retomada da construção naval é uma resposta ao documento apresentado pelo SINAVAL, em abril, ao Governo Federal. A mobilização de estaleiros e a rede de fornecedores para iniciar o processo de participação nestes fornecimentos terá como incentivo a demanda prevista de encomendas. No seminário sobre a apresentação do "Relatório Anual de Exploração 2022 – Diagnóstico e Perspectivas da Exploração de Petróleo e Gás Natural no Brasil", em 19 de julho, a ANP informou que as empresas detentoras de contratos para exploração e produção de petróleo e gás estimam investimentos de R$ 21 bilhões até 2027, na fase de exploração

É uma boa notícia, considerando a taxa de sucesso na descoberta de novas áreas de produção, que conduzem a investimentos e a aquisição de FPSOs e serviços de apoio marítimo e construção submarina. A Petrobras trabalha para aumentar visibilidade das futuras contratações desses ativos e serviços. O objetivo é apresentar ao mercado uma demanda cada vez mais consistente, com base em contratos firmes.  A demanda gerada para apoio marítimo aos FPSOs, que iniciam operação entre 2024 e 2027, é de 121 navios de apoio logístico e 45 de engenharia e construção submarina. A previsibilidade da demanda e contratos mais longos é a principal reivindicação deste segmento, com impacto na programação de construção de novos navios.

O SINAVAL identifica a requalificação e a formação de recursos humanos como uma das questões mais relevantes para a retomada do setor. Cerca de 48 mil empregos foram perdidos desde 2014. O aumento do emprego e a geração de renda é o objetivo do Governo neste esforço de retomada. A participação do Estado na formação de pessoal será de grande relevância para os grandes estaleiros.

O EAS, em recuperação judicial, está se reposicionando no mercado, apostando na indústria de petróleo e de produção de energia eólica offshore. O Enseada Indústria Naval, por sua vez, foi autorizado pela Antaq, em 20 de julho, a movimentar granel sólido nas instalações de terminal de uso privado (TUP). Uma estratégia para diversificar atividades, conforme plano de negócios na aprovação da recuperação judicial em 2021. Já o Ecovix Construções Oceânicas (Estaleiro Rio Grande), em recuperação industrial, venceu, em parceria com a Gerdau, o contrato para desmantelamento da P-32, um nicho de mercado que poderá ter demanda pelos próximos cinco anos.

A atuação consorciada poderá ampliar as possibilidades do EBR-Estaleiros do Brasil, já atuante em construções para o setor offshore. A empresa, do Grupo Toyo-Setal Participações e Investimentos, está conectada a uma rede global com escritórios no Brasil, Japão, Índia, Estados Unidos, Canadá, Venezuela, Europa, Rússia, Irã, China, Malásia, Indonésia e Coreia do Sul. Permitirá aos estaleiros locais, BrasFels (realizou o comissionamento do FPSO Almirante Barroso, em fevereiro) e Jurong Aracruz (entregou em outubro de 2022 a integração de módulos do FPSO P-71) atuem consorciados no Brasil. Ambos, agora, são parte do grupo Seatrium (fusão da Sembcorp e Keppel) de Singapura.

O novo plano estratégico da Petrobras para o período de 2024 a 2028 deverá prever investimentos de cerca de US$ 78 bilhões, segundo disse o presidente da empresa, Jean Paul Prates, à Reuters: “Essa é uma empresa de pré-sal, de offshore de petróleo, mas vai se transformando aos poucos". No mercado, existe a compreensão que a posição de Brasil no cenário mundial de produção de petróleo avançou. Um fato que pode ampliar o interesse de investidores internacionais. Poderá promover a substituição dos financiamentos de bancos internacionais para a construção de FPSOs destinados ao Brasil. Mas, também pode atrair competidores para disputar o mercado local, tanto de construção naval para o setor offshore, quanto de fontes renováveis.

O país tem reservas provadas de 14,8 bilhões de barris de petróleo e de 406 bilhões de m3 de gás natural. A incorporação de novas reservas é fundamental, já que a estimativa é que, antes do ano de 2030, haja um declínio significativo da produção de hidrocarbonetos no país. Uma situação que provocará a redução nas receitas de royalties para os Governos federal, estadual e municipal, além de reduzir as receitas de impostos e das exportações de petróleo. Segundo o Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), com base em fontes como ANP, Ministério da Fazenda, BP, EPE, IEA, Opep e IBGE, a atividade de O&G é o alicerce da matriz energética brasileira. Em 2021, o setor respondeu por 47% da oferta de energia no país, sendo 34% petróleo e 13% gás natural.

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