Revista Brasil Energia | Ações em Transição Energética
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Mandioca: do fracasso nos anos 70 a novas expectativas de sucesso
Nos anos 70, nos primórdios do Proálcool, a mandioca esteve na mira das autoridades brasileiras como alternativa para a produção de etanol combustível. Não deu certo. Hoje as pesquisas evoluíram e apontam para sua viabilidade.
Em busca de alternativas para o petróleo, que após os choques realizados pela Opep consumia as parcas reservas cambiais brasileiras, o governo brasileiro testou a mandioca em paralelo à cana de açúcar como matéria-prima para a produção de um combustível nacional.
A Petrobras encomendou ao Instituto Nacional de Tecnologia (INT), na época, pesquisas com o objetivo de viabilizar a produção de etanol a partir da mandioca. Como parte dessa iniciativa, o INT participou da construção, em 1975, de uma usina em Curvelo (MG) para a produção de até 50 mil litros de etanol de mandioca. O instituto conseguiu superar alguns entraves importantes. O projeto esbarrou, contudo, na irregular disponibilidade da matéria-prima para abastecer a usina, o que minava a viabilidade econômica do empreendimento.
De acordo com pesquisadores do Centro de Raízes e Amidos Tropicais (Cerat), do campus Lageado da Unesp em Botucatu (SP), foram realizadas, ao todo, experiências com nove usinas de etanol de mandioca nos anos 70. Todas enfrentaram os mesmos problemas: dificuldades na articulação com os produtores do tubérculo terminaram por impedir a formação de uma cadeia de produção azeitada.
Em contrapartida, a cana-de-açúcar expandiu-se e tornou-se cultura dominante na paisagem agrícola do Sudeste e do Centro-Oeste do país, contribuindo para que a produção de etanol se transformasse em uma indústria altamente competitiva. Hoje o etanol 2G, produzido e exportado a partir da biomassa da cana e em testes usando a biomassa de outras culturas, inclusive o agave (sisal), já é uma realidade.
Apesar do fracasso inicial, a ideia de utilizar a mandioca para a produção de etanol permaneceu no radar de diferentes centros de pesquisas, que buscaram formas de ampliar a produtividade das lavouras e também extrair mais etanol da planta. Ao mesmo tempo que buscam viabilizar a produtividade das lavouras, os trabalhos miram a possibilidade de oferecer uma alternativa de renda ao pequeno produtor rural, sobretudo de áreas em que a cultura da cana não viceja por condições climáticas.
No começo da década passada, pesquisadores da Faculdade de Engenharia Mecânica (FEM) da Unicamp, em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), por exemplo, desenvolveram estudos visando comprovar a viabilidade do aproveitamento energético da mandioca. Após dois anos de pesquisas realizadas com variedades de mandioca cedidas pelo IAC, os pesquisadores concluíram que os resíduos da produção poderiam não só garantir a produção de etanol de uma usina como também gerar resíduos suficientes para a geração de energia.
Isso seria possível porque, na transformação do amido da mandioca em etanol, os resíduos podem ser queimados na caldeira para a produção de vapor, utilizado, por sua vez, para movimentar uma turbina para a geração de energia elétrica.
Segundo relataram os pesquisadores na época, os excedentes de energia proporcionados por uma usina de etanol de mandioca podem chegar a 21,8 gigajoule por hectare/ano, superando os resultados apresentados na época por usinas de açúcar e álcool, que produziam em média 4,4 gigajoule de eletricidade excedente por hectare/ano. Com essas credenciais, a mandioca representa, de acordo com os pesquisadores, uma alternativa para a produção de etanol e geração excedente de energia para regiões com déficits hídricos, nas quais a cana-de-açúcar não prospera.
Em seus testes, pesquisadores da Unesp de Botucatu também chegaram a números alentadores sobre o balanço energético produtivo da produção de etanol a partir da mandioca. Para cada joule (J) de energia investido na sua produção, o etanol de mandioca gera 1,76 J. No caso do etanol da cana de açúcar, a relação é de 1 para 1,09 J.
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