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Visibilidade de ativos, segurança e operação das concessionárias
Os recursos de rede inteligente, embora tragam mais automação e controle, ampliam as vulnerabilidades do sistema. O setor elétrico brasileiro tem ativos críticos em operação há mais de 25 anos
A digitalização avança em todas as indústrias e, segundo a Palo Alto, empresa especializada em segurança cibernética, em 2026 serão mais de 15 bilhões de ativos interligados – entre novos e legados – ao ambiente de internet, nuvem e 5G. O setor elétrico não foge à regra. Por questões operacionais e de segurança, as concessionárias têm buscado maior visibilidade desses ativos.
Em sua definição de visibilidade de ativos, a Dragos, outra companhia especializada no tema, destaca que esse processo envolve a tomada de consciência do que existe dentro da rede operacional (OT), incluindo sistemas de controle industrial (ICS), dispositivos de TI, Internet das Coisas (IoT) e ativos de Internet Industrial das Coisas (IIoT).
O documento também aponta cinco objetivos da ampliação da visibilidade. São eles: gerenciamento de riscos, detecção de ameaças, ganhos na eficiência operacional, conformidade para atender os órgãos reguladores e ter respostas mais rápidas a incidentes envolvendo elementos de OT.
Para Ítalo Calvano (foto), vice-presidente da Claroty para a América Latina, o desafio é mundial, mas o setor elétrico brasileiro tem particularidades. Uma delas é monitorar ativos críticos num cenário onde parte deles estão em operação há mais de 25 anos. Outra consideração envolve investimentos, pois o ambiente regulatório atual nem sempre permite a remuneração dos aportes em tecnologia.
“Existe um legado muito grande que, por natureza, não era protegido e que foi crescendo em blocos. Quando se compra um equipamento de automação para uma subestação, por exemplo, ele faz parte de um pacote fechado, com diversos componentes”, explica sobre as concessionárias locais. Segundo Calvano, o setor tem vários desses pacotes funcionando isoladamente. “A grande missão dos times de engenharia e operação é dizer o que existe nas plantas”, completa.
Em conversa com a Brasil Energia, o executivo lembra que a troca parcial de ativos, em função do custo envolvido da substituição total de sistemas, é comum. “Dependendo do cenário, é mais fácil conviver com esses equipamentos, estendendo a vida útil, o que acaba dificultando a visibilidade”, detalha.
Segundo ele, é inviável ativar uma “caixinha” física ou virtual em cada subestação ou centro operativo para ampliar a visibilidade. Existem concessionárias com centenas de subestações, o que leva à priorização dos ativos mais críticos. Nesse caso, são eles que recebem a ativação de um sistema de detecção de intrusão (IDS). “Elas escolhem as joias da coroa e usam IDS tradicionais para isso”, completa.
Uma estratégica mais avançada é aproveitar o legado instalado e ativar coletores de dados que permitam a integração com sistemas de automatização existentes, recuperando informações para o inventário.
Aliás, o inventário é a primeira etapa para se ter a visibilidade dos ativos e deve identificar não só os equipamentos, como também os protocolos específicos usados, ou seja, a linguagem de comunicação de sistemas como o Scada e de dispositivos de IoT. O processo pode ser manual, mas tem avançado para combinações tecnológicas que envolvem o uso de aprendizagem a máquina (ML) com telemetria, segundo a Palo Alto.
A busca de visibilidade é estratégica, como pontua o Nist em um de seus manuais. O Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia dos Estados Unidos é referência para as concessionárias brasileiras, inclusive para a política de cibersegurança. Segundo a instituição, à medida que os sistemas de controle industrial (ICS) tornam-se mais interligados, aumenta a vulnerabilidade em ativos e processos de TO.
Um dos pontos destacados por Calvano é o aumento da superfície de ataque com a adoção de recursos de rede inteligente. Apesar de trazer mais automação e controle, eles ampliam as vulnerabilidades. Para o executivo, é preciso se proteger dos ataques, o que envolve uma jornada. No caso dos equipamentos muito antigos, é preciso avaliar caso a caso.
“Primeiro se eles representam um risco para o setor elétrico, caso sejam paralisados. Segundo, mesmo antigos, normalmente têm algum tipo de conexão, por serial a algum outro equipamento ou gateway, por exemplo. Se isso existe, podemos coletar os dados do ativo”, explica.
Embora o foco das ações atuais envolva muita segurança cibernética, ter informações precisas sobre os ativos em campo também favorece a área operacional das concessionárias e traz ganhos, inclusive de planejamento. “Quando começamos um inventário, descobrimos que as concessionárias têm muitos mais ativos do que imaginavam”, finaliza.
A seguir, um resumo dos vários ganhos que as tecnologias de visibilidade têm trazido às operações das concessionárias.
Eficiência operacional: a visibilidade permite que as empresas de energia acompanhem dados em tempo real, incluindo métricas de desempenho, geração de energia, padrões de consumo e a saúde do sistema.
Segurança e conformidade: como os ativos de energia são vulneráveis a uma variedade de ameaças, mais visibilidade ajuda na detecção precoce de violações de segurança ou atividades irregulares, permitindo respostas rápidas para minimizar danos.
Produção e armazenamento: Com a visibilidade no desempenho dos ativos os operadores gerenciam as flutuações na produção de energia, ajustam a oferta à demanda e otimizam o uso dos sistemas de armazenamento.
Manutenção preditiva: ao monitorar a condição dos ativos, as concessionárias detectam sinais precoces de desgaste, falhas ou degradação. A análise preditiva pode prever quando a manutenção é necessária e oportuna.
Gestão: A visibilidade de dados fornece insights para fazer escolhas estratégicas, monitorando o desempenho da infraestrutura para melhor alocação de recursos e planejamento financeiro.
Metas de sustentabilidade: A visibilidade dos dados capturados nos ativos permite que os operadores acompanhem o consumo, meçam emissões e avaliem o impacto ambiental de suas operações.