Opinião
O que fazer com o gás do pré-sal?
Além de alternativas de escoamento como a sugerida pelo BNDES, outras soluções como a geração elétrica na plataforma deveriam ser estudadas
Recentemente o BNDES divulgou um excelente relatório intitulado “Gás para o Desenvolvimento”, que apresentou um diagnóstico sobre os diversos elos da cadeia (produção, transporte, distribuição e consumo), apontando para as oportunidades e possíveis formas de atuação do banco.
Por demandar fortes investimentos com período de maturação longos, o setor sempre se apoiou em segmentos “âncoras” (i.e. grandes consumidores) porque o crescimento do consumo vegetativo em horizonte longo implicaria em duradoura ociosidade, que inviabilizaria investimentos. A âncora histórica têm sido o setor elétrico. É fácil perceber porque: uma usina a ciclo combinado com 1.000 MW consome o mesmo que toda a demanda agregada do setor residencial, comercial e veicular do país.
Transportar o gás natural associado dos campos offshore do pré-sal tem tido menos sucesso que a alternativa de simplesmente reinjentá-lo para aumento de produção de óleo, que tem maior interesse econômico. Será que o destino do gás que chega à superfície é voltar às profundezas dos campos? O que está faltando para dar um fim “mais nobre” ao gás do pré-sal? Tema complexo com muitas dimensões (legislação, regulação econômica, política energética etc.). Concentremos-nos no aspecto econômico.
A geração térmica a gás precisa ser mais barata que as alternativas de equivalente resultado energético, por exemplo, uma combinação entre usinas renováveis (eólicas e solares) e fontes flexíveis (hidrelétricas e armazenamento de energia). Se isto ocorrer, algumas poucas térmicas de grande porte poderiam deslanchar os investimentos. Estamos vendo os primeiros movimentos neste sentido, com um projeto com gás do pré-sal transportado por gasoduto tendo vencido leilão de energia. O BNDES sugere um modelo em que as diversas empresas operadoras do pré-sal se unam (literalmente) para construir um grande gasoduto que traria gás de seus campos até a costa, com economias e diluição de custos.
Outra possibilidade tem sido discutida, ainda na esfera acadêmica: produzir energia nas plataformas e transportar a eletricidade ao continente por cabos submarinos em corrente contínua. Um dos aspectos mais atraentes deste modelo é a injeção do CO2 da queima nos campos. Pesquisadores da Escola de Química da UFRJ avaliaram esta possibilidade para um campo com gás com alto teor de CO2 e concluíram – de forma até pouco intuitiva - que este alto teor de CO2 seria economicamente vantajoso[1]. O “gás pobre” aumentaria a potência líquida (MW) das turbinas aero derivadas convencionais, que funcionariam próximas a seus limites operativos. Haveria ainda redução de CAPEX porque o CO2 não seria separado antes da queima. Os únicos processos, além da produção de eletricidade, seriam a separação de hidrocarbonetos pesados (fonte de renda) e a injeção de CO2 nos campos, com benefício indireto de aumento da produção de óleo. Se existem antecedentes para os componentes individuais deste processo, a combinação de todos seria inovadora e teria grande apelo pelo aspecto de neutralizar as emissões. É solução complexa, que deve ser estudada a sério contra a mais óbvia opção de trazer o gás por gasodutos. Ambientalmente sai na frente.
Outra forma de gerar um “choque de demanda” é massificar o uso do gás no transporte, em especial nos caminhões de carga pesados por liquefação do gás natural. O relatório do BNDES enfatiza bem esta possibilidade. A competição deixaria de ser pelos elétrons mais baratos e passaria a ser pelo combustível mais barato: gás natural comprimido ou liquefeito x óleo diesel. Tema para um próximo artigo.
[1]Low-emission offshore Gas-To-Wire from natural gas with carbon dioxide: Supersonic separator conditioning and post-combustion decarbonation, Elsevier -Energy Conversion and Management 195 (2019) 1334-1349.
Rafael Kelman é diretor na consultoria PSR[/vc_column_text][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][vc_raw_html]JTNDZGl2JTIwcm9sZSUzRCUyMm1haW4lMjIlMjBpZCUzRCUyMm5ld3NsZXR0ZXItb3Bpbmlhby02ZWY3ZjBkYWRiMWJmYzA0YTA5MyUyMiUzRSUzQyUyRmRpdiUzRSUwQSUzQ3NjcmlwdCUyMHR5cGUlM0QlMjJ0ZXh0JTJGamF2YXNjcmlwdCUyMiUyMHNyYyUzRCUyMmh0dHBzJTNBJTJGJTJGZDMzNWx1dXB1Z3N5Mi5jbG91ZGZyb250Lm5ldCUyRmpzJTJGcmRzdGF0aW9uLWZvcm1zJTJGc3RhYmxlJTJGcmRzdGF0aW9uLWZvcm1zLm1pbi5qcyUyMiUzRSUzQyUyRnNjcmlwdCUzRSUwQSUzQ3NjcmlwdCUyMHR5cGUlM0QlMjJ0ZXh0JTJGamF2YXNjcmlwdCUyMiUzRSUyMG5ldyUyMFJEU3RhdGlvbkZvcm1zJTI4JTI3bmV3c2xldHRlci1vcGluaWFvLTZlZjdmMGRhZGIxYmZjMDRhMDkzJTI3JTJDJTIwJTI3VUEtMjYxNDk5MTItOCUyNyUyOS5jcmVhdGVGb3JtJTI4JTI5JTNCJTNDJTJGc2NyaXB0JTNF[/vc_raw_html][/vc_column][/vc_row]