
Revista Brasil Energia | Termelétricas e Segurança Energética
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Cada vez mais indústrias produzirão sua própria energia no Brasil
A autoprodução já participa com 20,1% da energia gerada no país. Em 2023 foram 81,1 TWh produzidos e consumidos sem passar pelo SIN. Até 2034, a previsão é que a geração distribuída de grande porte reduza o consumo na rede em 92 TWh ou 11% do total de energia consumida no país

O mercado de autoprodução participou com 20,1% do total de energia produzido no Brasil em 2023, alcançando 142 TWh. Desse total, 57% (81,1 TWh) não foram injetados na rede, ou seja, foram produzidos e consumidos pela própria instalação geradora, sobrando mais energia no sistema para os outros consumidores. Essas são informações do Balanço Energético Nacional (BEN) 2024 da EPE.
Para os próximos anos, a previsão é que a geração distribuída de grande porte continue crescendo. Até que em 2034 o consumo de energia da rede pelas indústrias alcance uma redução de 92 TWh, ou cerca de 11% do consumo total. Segmentos industriais como siderurgia, celulose e papel, petroquímica, refino, produção de açúcar e álcool, entre outras, aumentarão a capacidade instalada para a produção de sua própria eletricidade. São estimativas que constam do Plano Decenal de Expansão de Energia 2034.
Segundo o Balanço Energético Nacional de 50 anos da EPE, a participação do setor industrial no consumo de energia foi de 32,1% do consumo final energético total do País, apresentando, de modo geral, uma trajetória de crescimento ao longo de meio século. Mas a partir de 2011 a trajetória de crescimento da participação do setor industrial no consumo final energético passou a cair junto com a retração da indústria. Assim, a década de 2010 foi a única onde o consumo energético da indústria recuou (7,5%) ao longo desses 50 anos. Como resultado, neste último decênio, a indústria reduziu sua participação no consumo final energético do país.
Fonte: BEN 50 Anos
Esse declínio no consumo vem acompanhado do aumento na autoprodução, movimento que está na origem da industrialização brasileira, segundo o livro História da Autoprodução no Brasil, da Associação Brasileira dos Investidores em Autoprodução de Energia (Abiape). Segundo o presidente da Abiape, Mário Menel (foto), em entrevista a Brasil Energia, a autoprodução é o arranjo mais antigo do Brasil, quando os industriais investiam na geração de energia para desenvolver seus negócios sem depender da oferta das companhias elétricas de então. No início, ainda no século XIX, o investimento era em usinas hidrelétricas.
Mais recentemente a geração cresceu com a biomassa, principalmente a bagaço de cana e a lixívia ou licor negro, entre as décadas de 1970 e 2000, produção associada aos setores sucroalcooleiro e de papel e celulose. A participação na produção total de eletricidade era em torno de 2% e a partir do ano 2000 a biomassa ganhou relevância, crescendo a taxas de 10,8% ao ano e elevando a sua participação na matriz elétrica para 8%.
Fonte: BEN 50 Anos
Para Menel, esse investimento se justifica pelos altos encargos do setor elétrico e pela necessidade de controle dos custos de um insumo tão importante quanto a eletricidade. E, claro, para o aproveitamento dos resíduos gerados no processo produtivo. As novas fontes de geração de energia são basicamente destinadas à produção de calor de processo, necessário, por exemplo, para as caldeiras, ao aquecimento direto, para os fornos, e eletricidade, através da cogeração, que reduz as perdas nas conversões energéticas pela conjugação da geração de eletricidade e de vapor para uso nos processos industriais.
É o caso, por exemplo, da Piracanjuba que atua com cogeração gerando eletricidade com biomassa de madeira de eucalipto de florestas próprias para suas ETEs de tratamento de efluentes, obrigatório para a atuação da empresa, e para a usina de geração de vapor para a produção industrial. O plano da empresa, segundo seu diretor de Meio Ambiente e Sustentabilidade, Jefferson Dias de Araújo, é melhorar a eficiência e a produtividade da companhia, mas também reduzir a emissão de CO2 e contribuir para o meio ambiente, impactando a percepção dos consumidores e dos funcionários quanto à preocupação da marca com a preservação do planeta.
ETE da Piracanjuba em Três Rios (RJ): indústria utiliza a cogeração de eletricidade a partir de biomassa de madeira de eucalipto de florestas próprias em suas estações de tratamento de efluentes (Foto: Divulgação/Piracanjuba)
A Suzano, que atua na área de papel e celulose, também aproveita a biomassa e os resíduos da produção para gerar a própria energia, tornando a empresa 100% autossuficiente no consumo de energia elétrica em suas unidades industriais. E como a companhia prioriza o uso de energéticos renováveis em seu processo produtivo, 90% de sua matriz é oriunda de fontes limpas. E ainda envia o excesso de energia produzida em algumas de suas unidades para o Sistema Interligado Nacional (SIN).
Para a EPE, nos próximos anos até 2034, a eletricidade autoproduzida a partir da lixívia advinda do processo produtivo suprirá a totalidade da expansão da produção de celulose no Brasil. E a oriunda do aproveitamento energético da biomassa gerada no processamento industrial da cana-de-açúcar, se destina tanto ao autoconsumo quanto à produção de excedentes de energia elétrica, que são exportados para o SIN. Segundo a EPE, a capacidade de geração a biomassa de cana atingiu 12,7 GW em novembro de 2024, pelos dados da Aneel.
A Suzano já é 100% autossuficiente no consumo de energia elétrica em suas unidades industriais, através do aproveitamento da biomassa e dos resíduos da produção (Foto: Divulgação/Suzano)
Das 360 usinas sucroenergéticas em operação em 2023, cerca de 69% (249 unidades) comercializaram energia. Por isso mesmo, a bioeletricidade gerada a partir da cana-de-açúcar é a 4ª fonte mais importante da matriz elétrica brasileira. De acordo com a Unica – União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia, em 2024, a produção de bioeletricidade de cana foi de 21,2 mil GWh, representando 75% de toda a geração de energia elétrica a partir de biomassa no país.
Mas há potencial para muto mais. Se houvesse o aproveitamento pleno da biomassa nos canaviais, segundo a Unica, a bioeletricidade teria potencial técnico para chegar a 151 mil GWh, o que representaria atender mais de 30% do consumo de energia no sistema interligado. Hoje o que é aproveitado representa apenas 15% do potencial.
Há, portanto, um enorme potencial para o crescimento da autoprodução. Com isso, pode ocorrer a redução da demanda contratada junto à distribuidora local, aumentando a segurança energética para o sistema como um todo.