Geração a partir da casca de arroz busca lugar nos leilões

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Geração a partir da casca de arroz busca lugar nos leilões

Os resíduos são abundantes, baratos e têm alta eficiência de queima. As cinzas também são aproveitáveis na composição de biopolímeros para a indústria de plásticos e concreto ou na indústria de tijolos. Já existem 14 UTEs de arroz no país

Por Eugênio Melloni

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UTE São Sepé, da Creral, de 8 MW: usinas movidas a casca de arroz apresentam fator de capacidade de 85% a 90%, com poder calorífico igual ao do carvão mineral (Foto: Divulgação/Creral)

Empreendedores industriais, rizicultores e a Cogen Sul reivindicam a inclusão da geração termelétrica de energia a partir da queima da casca de arroz nos próximos leilões de energia. Alegam que contratos maiores, que viabilizem projetos de geração com maior capacidade instalada, poderão permitir o aproveitamento, de forma virtuosa, do potencial de uma fonte limpa e eficiente de energia que permanece intocado nas lavouras de arroz. E um passivo ambiental para a indústria de beneficiamento.

Além de solucionar o passivo ambiental causado pela deposição irregular da casca, termelétricas à base dos resíduos do cultivo e beneficiamento do arroz podem ser competitivas porque há grande disponibilidade de matéria-prima nas regiões de rizicultura, o preço cobrado pelo resíduo casca é relativamente baixo e a queima tem elevada eficiência. Em tempos de busca por fontes firmes de energia, a geração térmica a partir da queima da casca oferece tanto a possibilidade de gerar energia na base, quanto de operar somente no horário de ponta.

“Para o Rio Grande do Sul, que lidera o ranking da produção de arroz no país, a expansão da geração térmica a partir da casca de arroz contribuiria para proporcionar segurança energética ao estado, que importa 30% da energia que consome”, justifica o diretor da Cogen Sul, Luíz Leão.

Dados da associação indicam que existem atualmente no país 14 usinas térmicas à base da casca do arroz, somando capacidade instalada de 68,9 MW. O Rio Grande do Sul, maior produtor nacional de arroz, conta com nove desses empreendimentos, com 48,5 MW de capacidade. A Cogen Sul estima que exista um potencial para o desenvolvimento de projetos com capacidade instalada conjunta de 200 MW somente em terras gaúchas.

Historicamente, a casca de arroz sempre representou uma dor de cabeça para os produtores do cereal no Rio Grande do Sul.  A casca de arroz é um material de difícil decomposição. Quando a deposição desses resíduos é feita de forma irregular, eles permanecessem expostos por longo tempo nas áreas, provocando a emissão de gás metano. Leão lembra que, devido à falta de locais para a deposição da casca, algumas safras chegaram a ser interrompidas no Rio Grande do Sul.

Foi justamente para pôr fim a esse passivo ambiental que surgiram as primeiras térmicas, com capacidade de geração de 1 a 2 MW. Com o passar do tempo, com a evolução da tecnologia para a queima da casca, os empreendedores passaram a olhar para a queima da casca como um negócio a parte.

Nesse meio tempo, a eficiência do processo de queima melhorou de forma acentuada. Nos primeiros anos dessa atividade, eram consumidas entre 4 e 5 toneladas para gerar 1 MWh. Atualmente, as usinas consomem 1,2 tonelada para cada MWh. Segundo a Cogen Sul, as usinas térmicas que utilizam a casca de arroz apresentam um fator de capacidade de 85% a 90% da potência instalada.

“A casca é um excelente combustível. Seu poder calorífico é igual ao do carvão mineral aqui do Rio Grande do Sul, que é de 3.200 calorias por quilo”, comparou Leão. A baixa umidade do material, de apenas 12%, contribui para o desempenho do resíduo agrícola na queima.

Entre os projetos já desenvolvidos, um foi vencedor de um leilão A-3, realizado em 2015: o da UTE São Sepé, de 8 MW de potência, construída pela Creral - Cooperativa de Geração de Energia e Desenvolvimento, de Erechim (RS). Alguns projetos com até 12 MW foram erguidos visando a autoprodução de energia. “Os últimos projetos que foram construídos tinham 5 MW de capacidade para se ajustarem na classificação de geração distribuída”, afirmou Leão. Segundo ele, a expectativa é que nos próximos leilões, juntamente com outras fontes energéticas em biomassa, a casca de arroz possa ser contemplada.

Complexo Energético São Sepé

No complexo energético São Sepé, a cooperativa Creral conta com usinas solares e térmica de biomassa (Foto: Divulgação/Creral)

UTE São Sepé

A Creral - Cooperativa de Geração de Energia e Desenvolvimento, que atua desde 1997 com a produção de energia elétrica, viu na geração térmica a partir da casca de arroz uma oportunidade para ampliar seu parque gerador com uma fonte de energia limpa.

A companhia decidiu investir no projeto da UTE São Sepé, localizada “numa região com grande disponibilidade de casca de arroz, aliada a necessidade de se encontrar uma solução para o passivo ambiental da casca com a nossa disposição de ampliar a matriz energética”, informou a empresa por comunicado.

A empresa contava com um parque de geração baseado na fonte hídrica e passou a buscar a diversificação das fontes. Com potência instalada de 8 MW, a usina gera 56 milhões de kWh por ano com a queima de 70 mil toneladas de casca de arroz.  Atualmente, a Creral conta com 26 usinas, em um mix que envolve geração hidráulica, solar e biomassa.

Toda a energia gerada pela empresa é comercializada no mercado regulado desde 2018. A empresa conta com contratos de 20 anos com 28 distribuidoras do país.

Com apoio da Finep, a empresa construiu uma planta para produção de biopolímeros, com aplicação nas indústrias de plásticos e de concreto. O produto foi batizado de Bioroz/Cinroz devido ao fato de contarem para a sua produção de um pó derivado da casca de arroz com um ligante natural e da cinza da casca de arroz que sobra da queima para gerar energia. 

Fumacense

Com sua origem associada à rizicultura no Rio Grande de Sul, a geração térmica à base de casca de arroz acabou seguindo para outras regiões, acompanhando o desenvolvimento da cultura em outros estados, como Santa Catarina e Tocantins. Em Santa Catarina, a Fumacense Alimentos e Bebidas, localizada em Morro da Fumaça, passou a produzir energia utilizando a casca de arroz como combustível em 2020.

Usina a casca de arroz da Fumacense

Duplicada em 2021, usina a casca de arroz da Fumacense abastece todo o parque fabril da empresa e ainda gera excedente (Foto: Divulgação/Fumacense)

Em 2021, a companhia transformou mais de 31 mil toneladas da casca do grão em energia elétrica, gerando 6.720 MWh. A queima proporcionou solução para o resíduo agrícola.

Além disso, a cinza gerada pela combustão da casca passou a ser destinada a empresas ceramistas, siderúrgica e cimenteiras de Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais, que reutilizam o resíduo em seus processos produtivos. Das cerca de 6.130 toneladas de cinzas geradas, mais da metade foi utilizada na fabricação de tijolos.

No ano passado, a Fumacense investiu R$ 10 milhões para dobrar a produção de energia em sua UTE, que passou a abastecer todo o parque fabril da matriz, além de gerar excedente. Foram adquiridos novos equipamentos, entre os quais uma nova turbina, em um sistema que conta com condensação a vácuo, que facilita a passagem do vapor e, por consequência, aumenta os resultados.

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