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Sistemas isolados aos poucos abandonam o óleo

A energia que abastece comunidades da Amazônia não atendidas pelo SIN ainda é produzida majoritariamente a óleo. Mas já existe política pública de incentivo à substituição do diesel pelo gás e renováveis

Por Liana Verdini

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Usina BBF Baliza, em São João da Baliza (RR), é a primeira usina híbrida do Brasil movida a óleo vegetal e biomassa da palma, capaz de abastecer cerca de 31 mil moradores de Roraima (Foto: Divulgação)

A descarbonização dos Sistemas Isolados de energia na região amazônica vem avançando lenta mas consistentemente nos últimos anos e deve ganhar velocidade ainda maior a partir deste ano. Pela primeira vez o Leilão para Suprimento aos Sistemas Isolados, previsto nesta edição para setembro próximo, exigirá um percentual mínimo de 22% de energia gerada a partir de fontes renováveis, exceto para aqueles que utilizem gás natural como fonte de geração. A mudança não atende apenas uma demanda ambiental. A logística do diesel e do OC é cara e já não se justifica em muitas localidades com opções mais baratas.

Ainda hoje a maior parte das usinas que abastecem as comunidades isoladas em sete estados – Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Pernambuco na ilha de Fernando de Noronha, Rondônia e Roraima – são movidas a óleo diesel ou combustível, que emitem quantidade elevada de gases de efeito estufa (GEE).

O diesel e o óleo combustível responderam em 2023, último dado disponível, por 69% da geração de energia elétrica dos Sistemas Isolados. Pouca coisa funciona a gás natural (22%), a biomassa (8%) e a hidreletricidade (1%), segundo dados da EPE. Para 2024, a projeção da EPE é de redução da participação das térmicas a óleo para 67%, queda aparentemente pequena, mas que confirma uma tendência; em 2022 essas usinas representavam 79% da geração de energia elétrica nos Sistemas Isolados.

Transporte fluvial de combustíveis para Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima: diesel e óleo combustível responderam por 69% da geração de energia dos Sistemas Isolados em 2023 (Foto: Maciel Lima)

Hoje, os Sistemas Isolados fornecem energia para cerca de 2,7 milhões de pessoas em 196 localidades não supridas pelo Sistema Interligado Nacional, conforme últimos dados da EPE. São ao todo 175 sistemas desse tipo não conectados ao SIN.

O número de sistemas isolados vem caindo nos últimos anos, e a expectativa da EPE é que essa participação diminua ainda mais nos próximos anos. Pelas projeções oficiais, até 2028 mais 40 sistemas isolados devem ser interligados ao SIN. Em 2018 eram 270, sendo 97% deles movidos a diesel.

E a logística para fazer o diesel chegar a esses sistemas não é algo trivial. De acordo com o Grupo Atem, atuante no transporte de combustível por terra e via fluvial no Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, a logística de combustíveis na Região Norte exige planejamento e alta capacidade de adaptação, diante de eventos climáticos extremos, como as secas históricas de 2023 e 2024 na região amazônica.

Operação Ship to Barge, realizada pela Atem em Itacoatiara (AM), com transferência de cargas de navios para balsas menores (Foto: Caio de Biasi)

Na seca do ano passado, a empresa estruturou dois eixos logísticos: o primeiro, baseado em Itacoatiara (AM), cargas de até 60 milhões de litros foram transferidas de navios para balsas menores. O segundo eixo visou a penetração no interior mais profundo, muitas vezes exigindo o transbordo de balsas para balsas ainda menores.

Devido ao bloqueio do rio Madeira, a Atem usou 80 caminhões para abastecer localidades ao longo de 850 km da BR-319. Em alguns trechos fluviais, como no trajeto até Tabatinga e Benjamin Constant, no extremo oeste do Amazonas, as viagens podem durar até 22 dias, em operações extremamente complexas para levar o combustível a localidades mais distantes.

Isso ajuda a entender a razão de ter diminuído em 35% o número de sistemas isolados no Brasil em apenas seis anos, de 2018 a 2024. Com a questão da redução das emissões de carbono em pauta, especialmente em ano de COP 30 no Brasil, e tamanha complexidade para fazer o diesel chegar às usinas térmicas remotas, a Atem acredita que a Amazônia pode ser palco para soluções vencedoras, como o suprimento de biocombustíveis entre o Centro-Oeste e o Norte.

Logística de entrega de combustível da Atem para usina no interior do AM, em estrada de barro formada no fundo de um lago que secou (Foto: Caio de Biasi)

A atuação em logística levou a Atem a criar a Bioenergia da Amazônia, para transformar resíduos agroindustriais - como o caroço de açaí - em biomassa aproveitável para geração de energia. A empresa já atua no Pará, Amazonas e Amapá, com capacidade para movimentar até 1,4 milhão de toneladas por ano. Essa biomassa já abastece grandes indústrias e poderá atender, futuramente, sistemas isolados com energia limpa e de origem regional.

A Brasil BioFuels (BBF) é outra empresa que tem focado nos biocombustíveis como alternativa ao diesel. De acordo com o CEO do grupo, Milton Steagall (foto), a BBF adota um modelo de negócio verticalizado e integrado, que atua em toda a cadeia de valor da palma de óleo, desde o cultivo sustentável, que recupera áreas degradadas da floresta, à extração do óleo bruto, produção de bicombustíveis, biotecnologia e geração de energia renovável.

Hoje, o grupo opera 26 termelétricas com 86,8 MW de capacidade, usando biocombustíveis e biomassa oriundos da palma, atendendo mais de 140 mil moradores de comunidades isoladas da região Amazônica.

Em 2023, a BBF inaugurou, em São João da Baliza (RR), a primeira usina híbrida do Brasil que combina óleo vegetal e biomassa da palma, para abastecer cerca de 31 mil moradores de Roraima. Para Steagall, o desenvolvimento de uma cultura perene como a palma de óleo (dendê), cria empregos, mantém a floresta em pé e reduz os custos de energia elétrica para a população que vive em comunidades isoladas.

 “Acreditamos que substituir progressivamente os combustíveis fósseis - como o diesel e o gás, ainda predominantes na região - por fontes renováveis é um caminho não apenas possível, mas urgente”, diz Steagall, ressaltando que o modelo em operação pela BBF demonstra a viabilidade técnica e econômica da geração de energia a baixo custo, a partir dos recursos naturais locais.

Atualmente, a BBF cultiva palma em mais de 75 mil hectares no Pará e Roraima. No total, são cerca de 11 milhões de árvores de palma plantadas em áreas degradadas da Amazônia, que contabilizam a captura de mais de 900 mil toneladas de CO2 anualmente. Além das áreas produtivas, há ainda cerca de 60 mil ha de Áreas de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL), responsáveis por estocar por ano mais de 25 milhões de toneladas de carbono.

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