Opinião

As boas novas dos Certificados de energia renovável

O Brasil está se destacando no mercado global

Atualizado em

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Há mais de um ano, eu escrevi, nesta mesma publicação, sobre os Certificados de Energia Renovável, sua importância e crescimento. E se decidi voltar a este assunto agora é por um motivo muito simples e porque temos boas notícias: não apenas o mercado de Certificados está crescendo, como o Brasil também está se destacando no mercado global.

O número de usinas brasileiras com Certificados de Energia Renovável é cada vez maior. No final de 2018, tínhamos 53 usinas registradas e iniciamos o ano de 2020 com 110 usinas. Isso faz com que o Brasil ocupe hoje a liderança na plataforma I-REC, o International REC Standard (I-REC), sistema global que possibilita o comércio de certificados de energia renovável. Nossas usinas certificadas na plataforma somam mais de 7.000 MW.

Outra forma de medir o que vem acontecendo com o mercado de certificados é avaliar os números das emissões de certificado renovável. Antes disso, no entanto, vale apenas fazer uma pausa para explicar exatamente o que são e como funcionam os Certificados. Ainda há muita gente no setor que não se aproximou do assunto.

Vou começar bem do princípio para que também os que não são do setor possam seguir toda a linha que explica a existência e  o funcionamento do Certificado. Como muitos de vocês sabem, a estrutura brasileira de geração, transmissão e distribuição de energia torna impossível rastrear os elétrons de uma usina de geração de energia até seu ponto de consumo. A energia elétrica de um determinado parque eólico, por exemplo, é injetada no sistema elétrico e, portanto, se mistura com as de outras fontes de energia (renováveis ou não). Na etapa seguinte, sua distribuidora local retira essa energia do Sistema elétrico e leva até o ponto de consumo. O que algumas pessoas não sabem é que, ainda assim, existe um jeito de escolher a energia que você irá consumir, por meio de um sistema de certificação da energia. Como isso é possível? Simples, por um sistema de contabilização que controla o equilíbrio entre entrada e saída de certificados.

Quando uma geradora é certificada, a energia gerada é acompanhada da geração dos Certificados de Energia Renovável (RECs) correspondentes ao montante produzido. Um REC é a prova de que 1 MWh (um megawatt hora) foi injetado no sistema a partir de uma fonte de geração de energia renovável. Quando um consumidor compra um REC de uma geradora, ele se apropria, por meio de um certificado, daquela energia que foi injetada no sistema e aquele REC não será usado por mais ninguém e aquela quantidade de energia sai da conta do sistema. Quanto mais cresce a procura por RECs, mais cresce a necessidade de termos geradoras de energia renovável. Resumindo: os RECs são uma maneira de rastrear a energia renovável desde a geração até o consumo, por meio de um sistema de entrada e saída de contabilizações.

Pois bem, voltando aos dados de emissão de certificado. Em 2018, emitimos pouco mais de 300 mil certificados. Em 2019, esse número foi de 2 milhões, sendo que aproximadamente 3 em cada 4 certificados emitidos são de fonte eólica. Vale explicar que mesmo sendo primeiros em números de usinas certificadas na plataforma I-REC, em números de certificados emitidos ficamos atrás da China, que até setembro do ano passado, por exemplo, já tinha emitido 8 milhões de RECs. Estes dados que estou mencionando são fornecidos pelo Instituto Totum, emissor local de RECs no Brasil credenciado pela organização mundial I-REC Services. O Programa de Certificação de Energia Renovável, por sua vez, foi criado pela Associação Brasileira de Geração de Energia Limpa (Abragel) e a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), e já conta com apoio da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) e Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel).

Quando olhamos a plataforma I-REC, há um ponto interessante a considerar: as eólicas representam a fonte que mais tem empreendimentos certificados: são 161 usinas eólicas de todos os 23 países participantes. Na sequência, temos 110 usinas de fonte hídrica, 84 de solar e 22 de biomassa. Isso mostra que além dos Certificados estarem crescendo este é um mercado que casa perfeitamente com o negócio da energia eólica e as empresas do setor tendem a se aproximar cada vez mais deste assunto. E, para isso, precisam passar pelo processo de certificação para que possa emitir RECs e vendê-los.

E também no processo de certificação há novidades. Além do certificado da energia em si, que já é renovável, alguns consumidores também se interessam em saber os benefícios socioambientais decorrentes daquela fonte de energia limpa – aí entra a Certificação REC Brazil. Os critérios utilizados no REC Brazil para o registro são diretamente ligados aos ODS – Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Assim a empresa compradora sabe quais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável aquele empreendimento atende: incentivo à educação, preservação da fauna e flora, preservação dos rios e mares, redução da pobreza, dentre outros. Esse é chamado um REC com garantia de sustentabilidade. No site do Programa www.recbrazil.com.br, é possível ter informações detalhadas sobre todo o processo e como é feita a compra e venda verificadas, em ambiente certificado, de acordo com as legislações vigentes que normatizam este sistema. Além disso, o site tem um vídeo bastante didático que explica o funcionamento dos Certificados.

O crescimento do interesse pela certificação e compra dos RECs sinaliza que as empresas estão preferindo consumir energia renovável e, ao mesmo tempo, mostra o compromisso com a mudança de comportamento energético. São inúmeras as notícias de empresas se comprometendo com o consumo apenas de fontes renováveis. Google, Apple, Facebook, Amazon, todas as big techs, por exemplo, têm seus planos para isso.

Outra iniciativa que tem contribuído para o crescimento da emissão de RECs e usinas certificadas é o Programa mundial RE 100. O Instituto Totum esteve presente nas conferências REC Market Meeting (Europa) e Renewable Energy Markets (Estados Unidos), nos últimos 3 anos, representando o Sistema Brasileiro de Certificação de Energia Renovável. Tais eventos contaram com a participação de mais de 300 pessoas de empresas de energia, grandes consumidores, agências governamentais, consultores e ONGs, e os eventos foram focados na discussão sobre o aumento global da demanda de energia renovável, com destaque para essa iniciativa do RE 100, que congrega as empresas comprometidas com consumo de 100% de energia renovável. Esse grupo RE 100 já conta com mais de 180 empresas, representando uma demanda de mais de 170 TWh.

Em resumo, a mensagem que gostaria de deixar para as empresas é que este é um tema importante e que merece a atenção de todos os empresários conscientes de seu papel de promover a sustentabilidade. Eu escrevi isso neste espaço há algum tempo e repito: nós estamos investindo nesse Programa porque acreditamos em seu enorme potencial e em seus benefícios para a sociedade. Nossos bons ventos estão nos dando mais uma coisa da qual poderemos nos orgulhar e que vai significar uma contribuição para um futuro mais sustentável. E a melhor parte de tudo isso é que estamos vendo isso se transformar em realidade: os números crescem cada vez mais, e mais empresas buscam o Instituto Totum. Termino com nossas expectativas para 2020 que são muito boas: o número de certificados pode passar dos 5 milhões, batendo mais um recorde.

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