Opinião
Avanços e Desafios da Energia Solar Térmica
Se houver estímulo governamental, o setor de aquecimento solar, que cresceu 28% em 2021, poderá multiplicar a criação de empregos e os investimentos.
O volume de produção de coletores solares térmicos somou 1,81 milhão de metros quadrados em 2021, representando aumento de 28% em relação a 2020. No acumulado dos últimos 25 anos, chegamos à marca de 21 milhões de metros quadrados instalados. Em 2022, estima-se incremento de 30%. Os resultados são frutos de muito empenho dos empresários, da Abrasol, entidade de classe representativa do setor, e dos próprios clientes.
A quantidade de reservatórios comercializados em 2021 foi de 201.398 unidades, com crescimento de 18,1% na comparação com 2020. Os de baixa pressão equivalem a 64% do total, com 128.895 unidades. Quanto aos de alta pressão, foram vendidos 72.503, significando 36% do total.
No desenvolvimento do mercado, temos feito tudo sozinhos. Não tivemos, até agora, apoio ou incentivo do governo, embora nossa atividade tenha assumido, mais do que nunca, um papel estratégico para a economia e as famílias brasileiras. Afinal, somente os chuveiros elétricos, que podem ser desligados com vantagens por nossa tecnologia, representam 7% do total da demanda do País e 37% do consumo de eletricidade das famílias”.
O setor tem muito potencial de crescimento também em 2022, pois está com capacidade ociosa superior a 50% em sua estrutura de produção. Assim, se houver estímulo governamental à atividade, como a inclusão do aquecimento solar térmico nos programas habitacionais, por exemplo, compraremos muito mais matérias-primas, em grande parte nacionais, e multiplicaremos a criação de empregos e os investimentos.
Os resultados de 2021, com aumento de 28%, e as perspectivas positivas para 2022, com crescimento estimado em 30%, refletem a percepção crescente dos brasileiros, independentemente do governo, sobre as vantagens da nossa tecnologia. O desempenho é coerente com o avanço do setor nos últimos anos. É o que demonstra a “Pesquisa de Produção e Vendas de Sistemas de Aquecimento Solar 2022 (base 2021)”, realizada pela Abrasol.
O estudo também identificou o comportamento do mercado, em 2021, com relação aos segmentos dos compradores. O setor mais significativo é o residencial (76%), seguido pelo comercial (14%), industrial (4%) e serviços (5%). Projetos sociais ficaram com 1%. No tocante à divisão regional da comercialização, o Sudeste é o mais representativo, com 54% das vendas, seguido do Sul (26%), Centro-Oeste (9%), Nordeste (8%) e Norte (3%).
Observam-se mais diversificação e ampliação quantitativa e regional da comercialização, refletindo o paulatino aumento da consciência da população sobre os benefícios dos nossos equipamentos. Esses são resultados tangíveis do trabalho da Abrasol no sentido de difundir os benefícios da tecnologia. Contudo, apesar dos avanços, temos muito ainda para caminhar. Na comparação com outros países, o Brasil está atrás no contexto dessa fonte limpa e renovável. A China, por exemplo, tem mais de 500 milhões de metros quadrados de aquecedores solares, mas nós temos 21 milhões. Vamos continuar trabalhando com muita força para avançar!
Considerada sua importância para a matriz energética brasileira e o aumento de fontes limpas e renováveis, fundamentais para a sustentabilidade, seria muito importante o governo olhar para o aquecimento solar térmico da mesma forma como está tratando outros segmentos. A lei nº 14.300, de 6 de janeiro de 2022, proposta pelo deputado federal Silas Câmara (Republicanos-AM) e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, instituiu o Marco Legal da Microgeração e Minigeração Distribuída, o Sistema de Compensação de Energia Elétrica (SCEE) e o Programa de Energia Renovável Social (PERS), regulamentando e conferindo segurança jurídica à fonte fotovoltaica. Porém, o aquecimento solar de água continua sendo ignorado pelo poder público.
É muito importante lembrar que este sistema não é ligado à rede elétrica, funcionando de modo independente. Ao contrário, porém, a geração fotovoltaica integra-se à eletricidade produzida pela malha concessionária, cujas tarifas são crescentes, onerando as famílias e as empresas e contribuindo para o aumento da inflação, fator que tem causado grande preocupação no contexto da economia nacional. Aliás, os aquecedores solares de água também são cerca de quatro vezes mais eficientes do que os painéis fotovoltaicos e atendem a aplicações residenciais de baixa até alta renda, bem como empresas e condomínios.
Portanto, é inadmissível, em especial numa conjuntura de carência de expansão energética, que os aquecedores solares de água não sejam incluídos nos planos de expansão do setor, pois poderiam ajudar muito mais o País e contribuir para que milhões de pessoas físicas e jurídicas reduzissem seus gastos com eletricidade. Há, ainda, a questão ecológica, levando-se em conta que a tecnologia não tem qualquer impacto ambiental negativo, não emite gases de efeito estufa e usa unicamente o Sol como fonte, ajudando o Brasil a cumprir as metas relativas à redução da emissão de carbono.
O descaso com o setor é uma contradição com estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), vinculada ao Governo Federal. O relatório constatou que, nos últimos dez anos, o Brasil não atingiu os valores planejados para a expansão da geração. A quebra da meta quase equivale à capacidade instalada da Usina de Itaipu, de 14 gigawatts. Este volume é praticamente o mesmo da produção acumulada dos aquecedores solares de água em operação no País, de 13,5 gigawatts. Apesar disso, a companhia estatal não reconhecia esses equipamentos na matriz energética e não os incluía entre as soluções para a expansão da oferta. Agora, porém, o aquecimento solar aparece, pela primeira vez, no Balanço Energético Nacional (BEN), publicado pela EPE. Esperemos que seja um passo inicial rumo ao reconhecimento da tecnologia na matriz energética.
Era uma omissão inexplicável, pois se trata de uma tecnologia quase totalmente nacional, extremamente eficiente e capaz de ajudar o Brasil a evitar blecautes, diminuindo o consumo de eletricidade principalmente no horário de ponta. Os equipamentos geram energia térmica durante o dia e a armazenam para ser consumida também à noite, funcionando como uma bateria. Proporcionam água quente nas torneiras e banhos quentes mesmo quando ocorrem apagões, ao contrário de qualquer tipo de aquecimento gerado a partir da rede elétrica.
O aquecedor solar de água é a alternativa mais eficaz para evitar o consumo dos chuveiros elétricos, que sobrecarregam muito o sistema no horário de ponta (entre 17 e 21 horas), representando mais de 7% de toda a eletricidade gasta no País e cerca de 37% da residencial, segundo dados do Balanço Energético Nacional da Empresa de Pesquisa Energética (EPE, 2021) e Pesquisa de Posse de Hábitos de Uso e Consumo (Eletrobrás, 2019). O equipamento está presente no Brasil há mais de 40 anos, é altamente eficiente e sua tecnologia e matérias-primas são em grande parte nacionais, gerando muitos empregos apenas no País.
Estima-se que os aquecedores solares estejam presentes em 5% das residências brasileiras, representando 1,03% da matriz de consumo elétrico nacional. Com incentivo e programas governamentais de acesso ao equipamento, a proporção poderia ser ampliada para 24% das residências brasileiras até 2050. Diante dessa projeção, torna-se mais difícil ainda entender por que essa tecnologia continua sendo ignorada pelas autoridades da área, inclusive como solução para as moradias dos planos habitacionais do setor público.
Nosso parque fabril está preparado para atender a demandas elevadas, garantindo o fornecimento a todos os que quiserem comprar um aquecedor solar de água para melhorar o conforto, reduzir suas contas de luz e ajudar o País a mitigar o risco de crises energéticas e se alinhar às mais contemporâneas tendências relativas às fontes limpas, gratuitas e renováveis. O setor também tem elevado potencial de gerar postos de trabalho, à medida que aumenta sua produção, o que também seria importante para o Brasil neste momento de grave desemprego.