Opinião

Ampliar fontes renováveis de energia deve ser meta do governo

Luiz Antônio dos Santos Pinto, presidente da Abrasol, destaca em artigo que a definição de uma política energética para atender à expansão demográfica e o crescimento econômico passou longe dos debates

Por Luiz Antônio dos Santos Pinto

Compartilhe Facebook Instagram Twitter Linkedin Whatsapp

Apesar da importância da definição de uma política estratégica capaz de garantir a produção de energia para atender à expansão demográfica e o crescimento da economia nacional, o tema passou longe dos debates das campanhas eleitorais. Uma questão preocupante dada a premência de se ampliarem as fontes renováveis na composição da matriz energética brasileira.

Segundo dados da 2ª Revisão Quadrimestral das Previsões de Carga para o Planejamento Anual da Operação Energética – 2022-2026, o aumento previsto para este ano é de 2% na carga, atingindo 70.948 megawatts médios, considerando um incremento do Produto Interno Bruto (PIB) de 1,9%. De 2022 a 2026, a previsão é de um crescimento médio anual da carga de 3,4%, atingindo 81.032 megawatts médios ao final do período.

A demanda poderá ser ainda maior se o país retomar patamares de produção industrial similares ao de 2008, quando o setor representava cerca de 25% do PIB. Hoje, sua participação é de apenas 11,3%, conforme os dados mais recentes. Se isso ocorrer sem que se aumente a oferta de energia, é imenso o risco de vermos fábricas paradas, quedas do sistema elétrico provocadas por sobrecarga e a volta dos apagões.

Por isso, o Brasil precisa ampliar rapidamente a produção de energia eólica e solar (térmica e fotovoltaica), que, embora ainda incipientes ante a demanda, já integram oficialmente a matriz energética. Tecnologia eficiente, socialmente inclusiva e renovável por inteiro, a energia termossolar precisa entrar de imediato na pauta dos que serão empossados em janeiro próximo.

Vale ressaltar que neste ano, e pela primeira vez, o setor de energia solar térmica foi incluído no Balanço Energético Nacional (BEN), publicação anual da Empresa de Pesquisa Energética, que tem como finalidade apresentar a contabilização relativa à oferta e ao consumo de energia no Brasil.

Segundo o BEN, em 2021, a oferta interna de energia foi dividida entre fontes renováveis, com 44,7% de participação, e não renováveis, com 55,3%. Entre as renováveis, a biomassa de cana aparece com a maior fatia do mercado (16,4%), seguida pela hidráulica (11,0%), lenha e carvão Vegetal (8,7%) e por outras renováveis (8,7%). A energia solar térmica foi incluída na categoria outras renováveis, com 3,6% de participação.

A conquista reflete o grande esforço do setor e a paulatina conscientização dos brasileiros sobre os ganhos econômicos e ambientais do aquecimento solar. Em termos globais, conforme os dados do Solar Heat Worldwide 2022, que usa a base de dados de 2021, o Brasil ficou em segundo lugar entre os países onde o uso de energia termossolar mais cresceu, com 28% de aumento, atrás apenas da Itália, com 83%, e à frente dos Estados Unidos (19%), Grécia (18%), Polônia (17%), Índia (16%) e México (7%).

Ainda de acordo com o Solar Heat Worldwide 2022, em termos da capacidade instalada de coletores planos, o Brasil aparece em 5º lugar, mas apenas em 31º quando se fala na capacidade instalada por 1.000 habitantes (dados de 2020).

O potencial brasileiro é imenso, considerando que o país tem a presença da luz solar, com as maiores intensidades do mundo praticamente o ano inteiro, em todo o seu território, tecnologia própria avançada na área e um parque industrial com capacidade imediata para atender a um crescimento expressivo da demanda.

A capacidade instalada de 14,7 gigawatts (GW), com os 21 milhões de metros quadrados de aquecedor solar instalados nas últimas décadas até 2021, pode ser multiplicada por mais de 15 vezes se considerarmos o potencial para atender a todos os domicílios, estabelecimentos comerciais e industriais, como já ocorre em muitos países, gerando centenas de milhares de empregos – a atividade mantém atualmente 42 mil postos de trabalho, com o crescimento de 22% no ano de 2021.

Além disso, a tecnologia fortalece a cultura em favor do meio ambiente. Com o atual parque instalado, é possível evitar anualmente a emissão de mais de 4 milhões de toneladas de CO₂, com o potencial para chegar a mais de 60 milhões de toneladas de CO₂, o que reduziria em mais de 13% as emissões anuais e honraria o Acordo de Paris, de 2015.

Em resumo, trata-se de uma tecnologia que não expele resíduo algum, não tem custo operacional, baixos gastos com manutenção – os aquecedores solares têm vida útil de mais de 30 anos –, não faz barulho e ainda permite um payback rápido, fazendo com que o investimento realizado na compra seja pago entre um e três anos de uso.

Luiz Antônio dos Santos Pinto é presidente da Associação Brasileira de Energia Solar Térmica (Abrasol)

Outros Artigos