Opinião

A segurança energética do Brasil está nas hidrelétricas

A sociedade brasileira precisa conhecer melhor como funciona o seu sistema elétrico, a sua matriz, que precisa ser equilibrada entre as fontes e quais são os impactos e benefícios de cada uma

Por Alessandra Torres de Carvalho

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As hidrelétricas oferecem ao Sistema Elétrico Brasileiro (SEB) tudo aquilo que o setor  necessita: suprimento, armazenamento, sazonalização, modulação da carga, segurança energética, flexibilidade, confiabilidade, geração de energia no horário de pico e a tarifa final mais barata ao consumidor. Hidrelétricas e seus reservatórios são questões de segurança nacional. Dizem respeito à segurança elétrica, hídrica e alimentar.

O apagão de terça-feira, 15 de agosto, ainda não tem suas causas completamente esclarecidas. Mas, independente das causas, uma constatação é certa: a segurança energética do Brasil está nas hidrelétricas, a fonte mais renovável de todas e com a menor pegada de carbono, segundo o IPCC.

Dados do ONS mostram claramente o comportamento das fontes de energia no momento do ocorrido. Houve queda abrupta das fontes intermitentes, eólica e solar, queda menor na fonte termelétrica, mas as fontes nuclear e hidrelétrica se mantiveram praticamente inalteradas, conforme mostra a figura do Operador a seguir:

Quando olhamos o comportamento das fontes, no momento de uma ocorrência sistêmica, a constatação é nítida: a hidrelétrica é a fonte renovável firme que sustenta a geração na base, sendo a mais confiável. Sua capacidade de recomposição do sistema, é o que permite a mais rápida retomada, como mostra a figura.

O ocorrido demonstra claramente que passou da hora de rever o planejamento da expansão do Sistema Elétrico Brasileiro. 

Nos últimos 20 anos, o Brasil permitiu e aceitou um discurso absurdo de demonização de hidrelétricas e seus reservatórios, certamente promovido por quem tem interesses econômicos e políticos contrários. Isso atingiu inclusive as hidrelétricas de pequeno porte, que têm grande disponibilidade para implantação imediata, mas enfrentam dificuldade colossal na obtenção de suas licenças ambientais e na implantação de seus empreendimentos. 

Para que se tenha ideia, atualmente, o país dispõe de 15 GW de PCHs inventariadas e que poderiam ser viabilizadas.

Segundo dados do Órgão Ambiental do Estado do Paraná, as PCHs, estão reflorestando 3 vezes mais vegetação do que aquilo que suprimem para fazer as obras, em estados onde tem Mata Atlântica e outros biomas importantes, além de inúmeros outros benefícios e mitigações socioambientais que outras fontes de geração não trazem. 

Todas as fontes de geração têm impactos e benefícios, mas os impactos das renováveis só são imputados às hidrelétricas. Nosso país tem abundância de recursos energéticos renováveis, mas continua sendo  um país de vocação hídrica. 

Em tempos de transição energética, mudanças climáticas e futuras previsões de escassez, o sábio a se fazer é reservar água, não só para geração de energia, mas para todos os demais usos.

As hidrelétricas não só fazem a segurança energética do sistema como trazem estabilidade aos sistemas de transmissão, reduzem perdas, entregam serviços ancilares, tão importantes ao sistema de transmissão, atributos que hoje não são remunerados e que as renováveis intermitentes não oferecem. Das energias renováveis, é a fonte com indústria e expertise 100% nacional, gerando renda e emprego no Brasil e não fora dele.

O Brasil saiu da tarifa mais barata do mundo na década de 1980 onde as hidrelétricas eram 85% da matriz, para hoje ter a 2ª. Tarifa mais cara do mundo, mesmo com uma matriz das mais renováveis do planeta. Alguma coisa no planejamento foi equivocada e passou da hora de rever esse modelo.

A sociedade brasileira precisa conhecer melhor como funciona o seu Sistema Elétrico, a sua matriz, que precisa ser equilibrada entre as fontes e quais são os impactos e benefícios de cada uma. É importante fazer os reforços no sistema de transmissão com novas linhas, além do reforço do sistema de distribuição, que permita a entrada de novas PCHs, mas é imprescindível retomar um programa de expansão de novas hidrelétricas e novos reservatórios no cenário atual.

Alessandra Torres de Carvalho é presidente da Abrapch (Associação Brasileira de Pequenas Centrais Hidrelétricas e Centrais Geradoras Hidrelétricas)

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