Opinião
Afluências abaixo da média histórica acendem a luz amarela
Para complicar, o ONS prevê um crescimento anual de 5% na carga média de energia, atingindo 78.447 MWmed em 2024. E os preços da energia disparam entre 50% e 70%
Na reunião de 6 de março, o Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) determinou medidas para preservar reservatórios de hidrelétricas pois, desde o início do período tipicamente úmido, no final do ano de 2023, a Energia Natural Afluente (ENA) que chega por meio das chuvas até os reservatórios das hidrelétricas, tem se mantido abaixo da Média de Longo Termo (MLT):
- Em dezembro de 2023, a ENA atingiu nos submercados do Nordeste e Sudeste/Centro Oeste os piores valores da série histórica para o mês, enquanto a Norte alcançou o 2º pior;
- Em janeiro de 2024, a ENA atingiu apenas 43% da MLT no Norte, 48% da MLT no Nordeste e, 56% da MLT no Sudeste/Centro-Oeste;
- Em fevereiro, foram verificados valores abaixo da média histórica em todos os subsistemas.
A diminuição da precipitação se deve, principalmente, pela influência do El Niño que retornou após quatro anos e, desde julho de 2023, provoca alterações no clima por aqui e no mundo. De forma geral, no Brasil, o El Niño causa seca e redução das chuvas nas regiões Norte e Nordeste, aumento das temperaturas e chuvas nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e, grande aumento das chuvas na região Sul. Esses efeitos são observáveis no Monitoramento de Precipitação realizado pelo Inmet no período de novembro de 2023 a janeiro de 2024, como ilustrado na Figura 1.
Enquanto isso, na metade do mês de março os reservatórios estão com níveis de armazenamento inferiores ao do ano anterior, registrando 70% no Nordeste, 93% no Norte, 66% no Sudeste/Centro-Oeste e 70% no Sul.
Além disso, para complicar a equação, de acordo com o ONS, a carga média de energia está prevista para aumentar de 74.658 MWmed em 2023 para 78.447 MWmed em 2024, representando um crescimento anual de 5%. Enquanto isso, a demanda máxima instantânea continua a quebrar recordes devido às sucessivas ondas de calor. Desde o final do ano, já foram registrados três novos recordes: 101.475 MW em novembro de 2023, 101.861 MW em fevereiro de 2024 e 102.478 MW dia 15 de março de 2024.
Diante desse cenário, o mercado de energia já sentiu os efeitos do El Niño e os preços dispararam. No segundo semestre do ano passado, o preço da energia para 2024 e 2025 estava na ordem de R$ 110/MWh a R$ 120/MWh. Hoje, esse contrato sairia, pelo menos, a R$ 160/MWh em 2024 e R$ 200 em 2025, ou seja, um aumento de 50 a 70%, respectivamente.
Por isso, caro leitor, vamos rezar para São Pedro para que a chuva venha nos próximos meses, sob o risco de verificarmos preços de energia ainda maiores.