Opinião

A agenda internacional e o setor elétrico

Por Redação

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O Brasil deverá, brevemente, intensificar sua agenda de relações internacionais, na qual a intensa pauta de negócios incluirá necessariamente, com destaque, o setor de energia. E nesse setor a China desponta como o primeiro destino dessas iniciativas.

As relações comerciais entre Brasil e China viveram momentos cinematográficos no passado recente. De forma intencional ou pelo desejo de gerar fatos positivos, muitas das perspectivas de negócios acabaram sendo infladas e nem tudo o que foi dito se converteu em investimento. Uma das exceções, porém, tem sido o setor de energia, onde o apetite dos chineses nas várias etapas da cadeia, desde o fornecimento de equipamentos até a distribuição de eletricidade para o consumidor final, se confirmou.

O interesse declarado da gigante chinesa State Grid por distribuidoras de energia no Brasil diz muito sobre a situação do setor nesse momento – e também sobre o desafio que o Brasil terá para garantir esse novo fluxo de investimentos de forma que também preserve o interesse do investidor brasileiro, que manteve suas posições nos últimos anos, apesar dos percalços que surgiam no caminho.

O atual modelo do setor elétrico tem inúmeras vantagens e a maior delas foi justamente viabilizar a expansão na oferta de energia ocorrida nos últimos anos. Sofreu, porém, um profundo estresse nos últimos anos, com eventos de natureza climática e política, que culminaram em um forte desequilíbrio em seus elos mais sensíveis.

A MP 579 reduziu a tarifa de energia e fez o setor carregar um passivo que, mesmo equacionado, ainda expõe suas cicatrizes. Tal encargo acabou majorado também pela crise hídrica, que impôs um custo de geração para o qual praticamente nenhum agente estava preparado. O prejuízo foi realizado em 2015, quando o impacto nas tarifas de energia foi realmente sentido. As fragilidades, porém, permanecem.

Empresas como a State Grid são muito bem-vindas, mas a sinalização sobre as medidas que serão tomadas pode ajudar a precificar corretamente os ativos. Por um lado, evita que os compradores assumam passivos que de outra forma não podem ser claramente mensurados. De outro, garante um tratamento mais justo aos acionistas que financiaram parte da expansão do setor nos últimos anos.

É importante sinalizar para os chineses e para os investidores em geral , também, a manutenção das políticas corretamente adotadas nos últimos anos.
As linhas de transmissão que, em um futuro próximo, permitirão que a energia produzida no norte do país chegue ao sul e vice-versa são essenciais para dar segurança aos investidores onde quer que estejam. Sem elas, fontes renováveis como as eólicas, que mesmo nos piores momentos da crise mantiveram o acesso a linhas de crédito e o interesse dos investidores, tornam-se extremamente frágeis não apenas para o consumidor, mas principalmente para o investidor.
A própria State Grid já é uma investidora relevante no setor de transmissão. No ano passado, ao dar o lance vencedor no leilão da segunda linha de transmissão de Belo Monte, se comprometeu com um investimento de R$ 7 bilhões, cujas obras passarão por cinco estados, para trazer a energia do Alto Xingu para o Sudeste, chegando à região metropolitana do Rio de Janeiro.

Na Energia Eólica, um dos segmentos de renováveis que despontou nos últimos anos, os chineses também vêm manifestando forte interesse. Pouco, porém, se concretizou nessa área. Empresas chinesas já anunciaram interesse em ativos de geração de energia eólica em várias regiões do país. Como efeito, o setor está entre aqueles que podem ser relevantes para que todo o discurso de cooperação entre os dois países  se consolide de fato.
Em várias situações, o interesse dos chineses foi seguido de perto pela mobilização de empresas europeias, particularmente por espanhóis, mas também italianos e franceses, que já têm investimentos relevantes na área elétrica brasileira. Bom será para o país se conseguir manter esse interesse, atraindo um número crescente de competidores da China, mas também de outros países que, certamente, entrarão na agenda externa que o País está  preparando para o futuro próximo.

Sérgio Malta é diretor do Conselho
de Energia Elétrica da Firjan

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