Opinião
Arthur Lavieri: A solução que vem dos ventos
Por Arthur Lavieri, CEO da Suzlon
Está mais do que claro que o mercado brasileiro de energias renováveis muito evoluiu desde o Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (Proinfa) e outras iniciativas que buscaram lançar as sementes para a exploração de energias mais limpas. Os recentes leilões dedicados a esse tipo de energia têm sido fundamentais para que se possa investir de forma séria e perene no Brasil.
Entre as fontes renováveis, aquela que reúne as melhores características relativas a complementaridade na geração de energia, agilidade na instalação, impacto ambiental, custo e oportunidade de desenvolvimento regional é a energia eólica. Sob o prisma da complementaridade, a eólica é a que melhor se ajusta a todas as outras fontes, em especial à hidráulica, uma vez que, quando não há chuva, há vento, e vice-versa. Quanto à agilidade, a baixa burocracia envolvendo os processos para instalação de uma usina eólica é uma vantajosa opção para evitarem atrasos e prejuízos.
A comparação entre a energia dos ventos e as demais fontes quanto ao impacto ambiental é ainda mais interessante. A implantação de uma usina eólica não requer que grandes comunidades se mudem, não altera cursos de rios, isso somado ao fato de que não há transporte de combustíveis. Ou seja, aproveita-se uma das poucas coisas da natureza que vem e vai gratuitamente: o vento.
Graças ao impulso da sociedade e do governo, o custo de geração eólica tem caído substancialmente. Nos últimos dez anos, a queda supera 30%. Em relação aos últimos leilões, a energia eólica já foi vendida no mesmo patamar de outras energias renováveis. Importante destacar que os preços de equipamentos destinados à geração de energia dos ventos caíram 14% nos últimos quatro anos, em que pese a inflação experimentada por vários grupos de componentes, em especial o aço brasileiro, 70% mais caro do que o asiático.
Além disso, os parques eólicos, que costumam ser erigidos em regiões distantes dos polos naturais de investimentos, são fomentadores de desenvolvimento, uma vez que ativam naturalmente a economia de pequenas localidades, não apenas durante as obras, mas também a partir da operação dos parques.
Do ponto de vista estratégico, há ainda que se notar que o Brasil é o único país da América Latina com chances de se tornar um polo gerador de tecnologia eólica e exportador de equipamentos.
Apesar do início tardio dessa atividade em nosso país, há boas perspectivas para um desenvolvimento positivo. Países como Alemanha, Dinamarca e Espanha, entre outros, já retiram médias superiores a 10% de seu consumo dessa fonte. A Espanha, por exemplo, consegue tirar, dependendo do dia, até 54% de potência do sistema via energia eólica.
O Brasil já é um dos cinco maiores países do mundo em energia renovável (hidráulica), mas ainda não figura nem entre os 15 primeiros no segmento eólico. Com um potencial de cerca de 250 GW e capacidade total instalada na ordem de 900 MW, a possibilidade de crescimento do setor é enorme. As perspectivas dos leilões dos próximos anos indicam que a participação da energia eólica dentro da capacidade total ficará entre 2% e 3% nos próximos anos, um número muito modesto, quando comparado aos benefícios destacados.
É fundamental também que o governo adote medidas de incentivo à energia eólica. A Índia, por exemplo, consolidou-se como a quinta maior produtora de energia eólica do mundo com uma política fiscal favorável, que previa depreciação acelerada de 80% para projetos eólicos no primeiro ano de instalação, isenção do imposto de renda por dez anos, além de outras isenções de impostos alfandegários, de consumo e do imposto sobre as vendas. Além disso, o governo indiano oferece empréstimos a condições suaves para esse tipo de projeto, e desde 2003 uma lei determina que os estados fixem uma porcentagem mínima de energia renovável que as empresas de serviços públicos devem comprar. Na China, a indústria eólica tem crescido a um ritmo frenético desde 2005, quando a Lei de Energias Renováveis determinou que as empresas prestadoras de serviço público têm obrigação de comprar a totalidade da eletricidade produzida a partir de fontes renováveis. Há muitos bons exemplos para o Brasil.
O vento pode trazer muito mais. Mais riqueza, mais desenvolvimento, mais responsabilidade social e ambiental. E mais qualidade para o presente desta geração e o futuro das próximas.