Opinião

Eficiência energética, fator de integração da América do Sul

Por Redação

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Uma área com potencial para avançar durante a crise financeira global é a de eficiência energética. Durante uma crise como esta que atravessamos, governos e empresas são forçados a diminuir custos, seja para realocar recursos financeiros em áreas prioritárias, como educação, saúde e segurança, no caso dos governos, seja para continuar competitivas ou mesmo apenas sobreviver, no caso das companhias.

A eficiência energética mostra-se, assim, uma excelente ferramenta para tempos difíceis como o que atravessamos. A ideia de gastar menos, postergar investimentos – especialmente no setor elétrico –, preservar o meio ambiente e “gerar” uma energia limpa e barata é muito atrativa. Ela agrega muito valor, podendo facilitar a captação de recursos, mesmo num momento de escassez global de créditos, e até incrementar o comércio internacional de equipamentos e serviços.

Eficiência energética é assunto com presença certa na agenda da maior parte dos governos. Não por acaso, um dos relatórios finais do Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, declara que não será suficiente o aumento da quantidade de fontes renováveis de energia, com baixas emissões de dióxido de carbono, para que a temperatura global deixe de alcançar níveis arriscados, e que não se pode subavaliar a importância da eficiência energética na redução da demanda de energia.

Na mesma linha, o Plano de Energia de Barack Obama dedica as duas últimas páginas à eficiência energética e compromete-se a liderar o esforço para tornar os EUA o país mais energeticamente eficiente do mundo. Para atingir esse objetivo, o governo norte-americano defende propostas agressivas, como o estímulo aos consumidores para que economizem U$ 130 bilhões até 2020 em energia e a redução da emissão de 5 bilhões de t de CO2 até 2030.

O Brasil se destaca na área de eficiência energética, com iniciativas que o colocam bem à frente dos outros países das Américas do Sul e Central. Os arcabouços financeiro, legal e de recursos humanos montados nas últimas três décadas são invejáveis. O país desenvolve três programas nacionais, o Programa Nacional de Conservação de Energia (Procel), criado em 1985 e operado pela Eletrobrás; o Programa Nacional de Conservação de Energia em Derivados de Petróleo e Gás (Conpet), surgido em 1994 e gerido pela Petrobras; e o Programa de Eficiência Energética (PEE), criado em 2000, operado por 64 distribuidoras de energia elétrica e regulado pela Aneel. Somados, esses programas investem atualmente cerca de R$ 400 milhões por ano. Além disso, o Brasil foi um dos poucos países do mundo que incluiu a eficiência energética em sua matriz energética, como pode ser visto no Plano Nacional de Energia para 2030.

Toda essa experiência e estrutura habilitam o Brasil a liderar ações de integração regional e a elaborar e estender programas nacionais, como o de substituição de refrigeradores, recém-aprovado pelo presidente Lula e que, segundo o Ministério de Minas e Energia, gerará uma economia de energia equivalente a uma hidrelétrica de 550 MW e adiará investimentos da ordem de R$ 1,6 bilhão por, pelo menos, 20 anos. Isso sem contar a reciclagem de 10 milhões de refrigeradores e o recolhimento de 5 mil t de CFC, gerando empregos e fortalecendo esta indústria. A extensão dessa ação para a América do Sul, com seus 375 milhões de habitantes, teria impactos globais.

Assim, a integração energética sul-americana por meio, também, da eficiência energética apresenta um ângulo com enorme potencial de agregação ambiental, financeira e tecnológica. É um tema no qual o Brasil tem tudo para liderar, desenvolvendo-se energética e industrialmente, ajudando no avanço de seus vizinhos e na sustentabilidade continental.

George Alves Soares é assistente da Diretoria de Tecnologia da Eletrobrás

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