Opinião

Gás em favor da competitividade

Artigo de Antônio Carlos Kieling, superintendente da Anfacer

Por Redação

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O atual cenário da economia brasileira deixa clara a diminuição da competitividade das empresas nacionais. A situação fica ainda mais delicada quando se consideram os processos fabris que usam o gás natural de forma intensiva. É o caso dos fabricantes de cerâmica para revestimento, da qual 25% do custo do metro quadrado se referem à energia, fundamentalmente ao gás natural. O segmento viu o mercado nacional ser invadido por produtos de países onde o combustível é comercializado a preços menores. De 2007 para cá, o volume de importações cresceu exponencialmente, ocupando boa parte do espaço de crescimento do consumo nacional.

Um dos impactos da perda da competitividade no setor refletiu-se na queda das exportações. Como mostra o gráfico, o Brasil já chegou a vender ao mercado externo quase 30% da sua produção de revestimentos cerâmicos. Hoje exporta cerca de 7% – menos de 60 milhões de m2.

O problema teve início após a crise de 2008, quando a combinação de excesso de oferta e desaquecimento econômico aumentou a concorrência global. Esse novo ambiente levou diversos países a adotarem estratégias mais agressivas para elevar sua competitividade, por meio de políticas industriais. E o Brasil ficou para trás. 

Para setores industriais fortemente dependentes da energia, houve o agravante da revolução do gás não convencional, o gás de xisto. A tecnologia de perfuração horizontal e fraturamento de rochas permitiu a recuperação da produção norte-americana de gás natural a baixíssimo custo. O custo do insumo fornecido às fábricas instaladas nos Estados Unidos despencou nos últimos anos para a faixa de US$ 3 por milhão de BTU. 

Já a indústria brasileira enfrentou fenômeno inverso. Os fabricantes de cerâmica viram o custo do gás natural aumentar mais de 60% desde janeiro de 2011. Hoje é, em média, de US$ 14 por milhão de BTU.

O Brasil pode não ter reservas de gás de xisto tão promissoras quanto as dos Estados Unidos, tampouco a enorme quantidade de agentes atuantes na exploração e produção do insumo. Mas tem potencial, conforme previsões da ANP, para mais do que triplicar a oferta de gás natural na próxima década, bem como para fornecê-lo a custos que permitam a recuperação da competitividade nacional. 

Alguns sinais indicam que o Brasil não está totalmente alheio a essa situação e que um cenário de preços de gás na faixa de US$ 7 por milhão de BTU é possível. Um exemplo é a retomada dos leilões de áreas de exploração pela ANP, inclusive com a realização de leilão específico de áreas com potencial de gás. Também servem de alento iniciativas em favor da comercialização em condições competitivas em Minas Gerais e São Paulo. Minas está definindo as regras para o mercado livre de gás, enquanto São Paulo trabalha com a possibilidade de organizar leilões para contratar gás natural nos moldes do que é feito no setor elétrico. Desde que permita a participação da grande indústria no processo, tal mecanismo deve ser importante forma de fomentar o desenvolvimento de soluções mais competitivas para a contratação do energético.

É preciso seguir nessa linha, mas o tempo é curto. A revolução do gás de xisto nos Estados Unidos criou uma nova geografia de investimentos produtivos que os distancia a passos largos do Brasil. A acentuada perda de competitividade da indústria nacional mostra que os aperfeiçoamentos são fundamentais, fruto da boa vontade de agentes que realmente têm compreendido a situação da indústria e a importância do gás natural como forma de recuperar sua competitividade. O problema é que esses aperfeiçoamentos não são suficientes sozinhos. E, mais grave ainda, são para ontem.

 

Antônio Carlos Kieling é superintendente da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos, Louças Sanitárias e Congêneres (Anfacer), que apoia o projeto Mais Gás Brasil

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