Opinião
Gás natural pode ser a saída para enfrentar a crise energética
Uma das maiores preocupações do setor elétrico este ano, além do risco de racionamento, é o custo de energia, que para a indústria subiu 48% desde o início de janeiro, de acordo com análise da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). As termelétricas, que não eram muito utilizadas por serem soluções mais caras, aumentaram consideravelmente a participação no Sistema Interligado Nacional (SIN) para suprir o déficit das hidrelétricas, o que provocou uma alta nos custos da matriz energética.
Diante deste cenário, um dos principais questionamentos do setor no momento é: qual é a solução mais adequada e de baixo custo para garantir a estabilidade do sistema energético nacional e, ao mesmo tempo, atender ao consumidor?
Primeiramente, é preciso considerar que a demanda energética dos segmentos industrial, comercial e residencial pode ser atendida por diversas fontes, como óleo diesel e gás natural. O cenário no Brasil, no entanto, é de que há à disposição uma quantidade expressiva de gás que não é utilizado, do qual grande parte tem custo reduzido ou, em alguns casos, nulo. Somente nas três principais produtoras brasileiras de gás – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro –, há um excedente de produção diário de 3 milhões de m3 do combustível, o que seria suficiente para projetos da ordem de 600 MW.
No Norte, onde a produção está centralizada em Urucu, a população não está sendo abastecida pelo gasoduto da região (Urucu-Coari-Manaus). De acordo com a Companhia Gás do Amazonas (Cigás), de um total diário de 5 milhões de metros cúbicos, 1,5 milhão do volume não tem utilização, ou seja, 30% da produção de gás transportado por dia fica sem uso e é devolvido à terra. A situação gera prejuízos para o negócio e poderia ser integrado ao sistema energético brasileiro no fornecimento para outras regiões por um custo pelo menos 30% mais barato do que a atual solução a diesel, além de ser mais sustentável.
A indústria de gás brasileira se estruturou por meio de um misto dos contratos Take-or-Pay (ToP) ou Ship-or-Pay (SoP), que preveem o pagamento, pelo comprador, de volumes mínimos de gás natural pré-acordados, independentemente de sua utilização. Tais cláusulas foram definidas para assegurar a cobertura dos investimentos por meio da geração de receitas compatíveis com os custos de implantação de infraestrutura para esse tipo de fornecimento. Considerando que o metro cúbico do gás natural é comercializado a cerca de R$ 1 e que a multa para os produtores do combustível com contrato ToP é cerca de R$ 4,60, a perda diária dessas empresas sobre o gás produzido e inutilizado pode representar aproximadamente R$ 4 milhões.
Essa situação evidencia a importância de ser otimizada a utilização de combustíveis disponíveis no Brasil, sobretudo se considerarmos a infraestrutura das regiões Norte e Sudeste. Utilizar melhor o potencial de gás justifica o investimento feito em sua viabilização e possibilita a ampliação da oferta de energia de maneira economicamente viável. Empresas de fornecimento temporário de energia também podem fazer uma importante contribuição nesse sentido, pois disponibilizam soluções distribuídas por meio de geradores abastecidos, com opções de combustível que podem ser instalados em infraestruturas diversificadas para usinas térmicas e outras indústrias.
O aproveitamento do gás excedente é uma forma de garantir uma geração de energia confiável ao longo do ano, diminuir os custos do sistema e, consequentemente, das tarifas do consumidor. Diante do cenário de dificuldades do atual sistema hidrotérmico brasileiro, é imperativo que as entidades do setor avaliem a sobra de gás produzida e inutilizada pelos consumidores de acordo com o previsto pelos contratos ToP. ?
O crescimento da quantidade de fontes de produção e de consumidores ligados à rede aumentaria os desafios e as oportunidades para o setor, pois permitiria uma rápida e ampla combinação de possibilidades de atendimento ao mercado consumidor sem desperdícios de recursos. Ao considerar a diversificação do mix de energia, usinas temporárias são outra opção importante, visto que a velocidade e a agilidade permitidas por elas têm um valor crucial em sistemas ou períodos energéticos instáveis.
Pablo Varela é diretor geral
da Aggreko Brasil