Opinião
GLP e gás natural: oportunismo, oportunidades e pioneirismo
Artigo de Marcio Balthazar da Silveira, consultor e sócio sênior da NatGas Economics, com colaboração de Ieda Gomes, colunista de Brasil Energia Petróleo & Gás
As vendas de GLP no Brasil cresceram em 2012. No entanto, as margens de comercialização encolheram, em parte como resultado da política de preços do governo para um combustível que atende uma parcela da população mais carente.
O GLP ainda é visto como um combustível para fogão, direcionado às residências. Esse segmento responde por 90% das vendas e apresenta um crescimento quase vegetativo. A demanda industrial é pouco representativa, na faixa dos 7% do total comercializado (BEN 2012).
O produto responde por apenas 3,4% da demanda de energia no Brasil, mas é fundamental por sua flexibilidade logística, que viabiliza o atendimento a consumidores em áreas remotas. Qualquer modal de transporte, da bicicleta ao navio propaneiro, se presta ao transporte do GLP.
É um mercado rentável e maduro do ponto de vista regulatório. Cresceu 2,4% em 2011, ano em que seu concorrente direto, o gás natural, avançou 6,2%.
Em razão da forte concorrência de outros combustíveis, as empresas do setor atuam agressivamente. Competindo com óleo combustível, lenha, etanol, GNC e GNL, o setor aposta em agilidade, flexibilidade e forte suporte de assistência técnica como diferenciais.
Alguma melhoria nesse cenário poderá advir do Projeto de Lei 2.943/11, do deputado federal Eduardo Gomes (PSDB-TO), aprovado na Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, que derruba a proibição do uso de GLP em aquecimento de saunas, condomínios e piscinas. Entretanto, a melhor oportunidade virá com a expansão da oferta de gás natural. Embora paradoxal, a ampliação da produção do principal concorrente não representará necessariamente uma ameaça ao mercado do GLP.
Para extrair óleo e gás natural, os novos produtores enfrentarão barreiras de acesso à infraestrutura de escoamento e distribuição de gás, hoje sob controle da Petrobras e das distribuidoras de gás canalizado. Novas rotas alternativas terão de ser buscadas. Assim, haveria espaço para interessados em investir em transporte e comercialização, bem como na ampliação da capacidade de processamento de gás natural. E ampliar essa capacidade significa ampliar a produção do GLP, que é uma fração do gás natural.
Esses novos clusters irão demandar uma capacitação logística e de conhecimento de mercado compatível com a excelência das empresas de GLP, que poderão ingressar nesses empreendimentos como associadas ou offtakers. Ao prover soluções de logística e comercialização para aproximar mercados, capilarizar a distribuição e até mesmo exportar parte da produção de GLP, as empresas do setor poderão agregar valor à estrutura de escoamento dos volumes excedentes.
Diante disso, é razoável supor que a opção mais viável seria a exportação de GLP, em vez de exportar gás natural via GNL. O eventual acesso do GNL brasileiro ao competitivo mercado da Ásia-Pacífico ou Europa, já suprido por produtores tradicionais, seria mais lento, dispendioso e incerto. Por outro lado, o ingresso dos novos produtores poderá reduzir os preços do gás natural, contribuindo para que o destino do combustível seja o mercado interno, deslocando, inclusive, o próprio GLP.
A liberalização do mercado de gás natural deverá resultar ainda na adoção de modais de transporte via GNC ou de conceitos mais recentes, como o “Small LNG”, no atendimento a áreas remotas ou não atendidas pelas redes de gás natural.
Tal cenário abre oportunidades compatíveis com a excelência do setor de GLP no país e que poderão adicionalmente combinar a oferta de gás natural ou GNL com o backup de GLP, oferecendo uma solução completa em energia.
Se concordarmos nesses pontos, qual a razão para que um setor que há décadas oferta um combustível com características tão semelhantes ao gás natural resista em se apresentar ao mercado com capacitação para prover essas soluções? Não seria a vez da cultura “oportunista”, tão característica à indústria de GLP no Brasil, ceder espaço a uma posição de pioneirismo e de conquista de novas oportunidades?
Marcio Balthazar da Silveira é consultor e sócio sênior da NatGas Economics
* Colaborou Ieda Gomes