Opinião

Muita energia, pouca mão de obra

Artigo de Marcelo Braga, da Search Consultoria em Recursos Humanos

Por Redação

Compartilhe Facebook Instagram Twitter Linkedin Whatsapp

Cada vez mais economicamente viáveis, as energias renováveis geram números impressionantes. Em todo o mundo, somente em energia eólica, a capacidade instalada saltou de 6,1 GW para 282,4 GW entre 1996 e 2012, segundo dados do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC). A China é o maior investidor em energia renovável, enquanto o Brasil é o quinto da lista, segundo relatório da ONU de 2011. Com a abundância de rios, sol e ventos, era de se esperar que o Brasil trilhasse este caminho. Seu potencial eólico instalado é o 15º maior do globo e o primeiro da América Latina.

Os investimentos por aqui ainda se concentram em eólica, solar e em biocombustíveis. Grande parte vem do setor privado, com apoio do BNDES, e de gigantes multinacionais. Até 2012, os investimentos aumentaram. Em 2013, porém, houve queda, causada pelo baixo crescimento econômico local, pela crise mundial e pela Medida Provisória 579, que assustou investidores e gerou incertezas regulatórias.

O recuo mudou o patamar da energia limpa na América Latina, redirecionando investimentos para outros países, como Chile (solar), México (eólica) e Uruguai (eólica e solar), que juntos somaram mais de US$ 1 bilhão no ano passado.

As perspectivas para 2014, porém, são positivas. Estudo recente da Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA) afirma que o setor deve abrir em todo o mundo mais de 11 milhões de postos de trabalho, e o Brasil também irá se beneficiar.
E de onde viriam os profissionais? Estamos preparados para a demanda? Infelizmente, a resposta é a mesma: não. O alerta não é novo. É notória a carência de engenheiros e tecnólogos, em quantidade e, sobretudo, em qualidade. Há 15 anos nossos engenheiros “de ponta” não deviam aos dos países desenvolvidos. Hoje, nossos engenheiros “de ponta” vão fazer graduação no exterior. E o pior: muitas vezes acabam ficando por lá.

O número de cursos e de vagas em engenharia cresce, mas a maioria dos estudantes ingressa sem base adequada ao aprendizado. Resultado: os engenheiros que se formam, de maneira geral, apresentam um nível mais baixo que os “de antigamente”. Mesmo com o aumento no volume, o número de formandos é insuficiente. Segundo o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), o déficit no Brasil é de 20 mil engenheiros por ano.

O cenário é exatamente o mesmo para tecnólogos. Diante disso, é preciso atentar para a qualidade. Caso contrário, jogaremos a responsabilidade pela formação dos profissionais para as empresas, que contratarão mão de obra sem a base necessária e terão de suprir essa carência com forte treinamento.
Outro dado é que a maior parte dos investimentos em pesquisa no país está nas universidades, enquanto nos países desenvolvidos está nas empresas. Se isso não mudar, a falta de profissionais será mais um gargalo para o crescimento econômico brasileiro, juntando-se aos outros, de infraestrutura, saúde e ética.

E no caso de um setor relativamente novo, como o de renováveis, isso é ainda mais latente. Sem investimentos necessários na formação de profissionais, vai ocorrer uma migração de talentos de setores mais maduros, como automotivo, químico e petroquímico, para energias renováveis. Atraídos pelo novo, por desafios inéditos e certamente por propostas financeiras mais atrativas, esses talentos experimentarão a mudança.

Outra possibilidade será a importação de mão de obra especializada, em que as empresas investidoras no país trarão consigo o capital intelectual. Isso obviamente tem um preço. Esses profissionais são mais caros, e isso sem dúvida impactará também o custo da energia. Entretanto, o maior impacto é não estimular o desenvolvimento do conhecimento local.

Tudo indica que o Brasil, novamente, vai exportar matéria-prima e importar produtos de alto valor agregado, deixando os lucros para os países desenvolvidos. Se não mudarmos o rumo, o mesmo acontecerá com os profissionais. Os brasileiros terão os empregos básicos, e os estrangeiros, os melhores postos.


Marcelo Braga é sócio da Search Consultoria em Recursos Humanos

Outros Artigos