Opinião

O Brasil deveria ter uma grande participação de energia eólica na sua matriz energética

Por Redação

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Não é surpresa que o Brasil já seja um dos dez países que mais utiliza energia eólica no mundo. O pais é privilegiado com relação à disponibilidade de recursos eólicos. As pesquisas recentes da consultoria UL International GmbH (antes Dewi) estimaram que o potencial eólico brasileiro, tecnicamente realizável, pode ser superior a 500 GW em terra e 350 GW no mar, para projetos eólicos offshore em águas rasas.

O preço da energia eólica já contratada até o momento no Brasil, que nos últimos seis anos totalizou mais de 16.000 MW de potência, mostra que esta fonte renovável é muito competitiva perante as demais fontes de energia existentes no país.

Existem cadastrados na Aneel dezenas de milhares de MW de projetos eólicos em desenvolvimento no país, e o reflexo disso é a indústria eólica, presente no país desde 1994, fortalecendo sua presença local e se estruturando para produzir uma quantidade maior de equipamentos e oferecer serviços de operação e manutenção visando atender às necessidades dos projetos brasileiros, tanto do ponto de vista da logística de fornecimento quanto para conquistar melhores condições de financiamento e seguros. 

Entretanto, nos últimos anos, a escassez de energia oriunda das hidrelétricas, em função da depreciação dos reservatórios de água das grandes usinas, sobretudo nas regiões castigadas pela falta de chuvas, aliada à demanda crescente de energia, em consequência do crescimento populacional e da mudança de hábitos de consumo, nem tanto pelo desenvolvimento e a produção industrial, causaram uma situação indesejável ao país: a necessidade de utilização de todas as usinas termelétricas existentes, com custos entre 6 a 10 vezes mais caros que a energia eólica, a plena capacidade durante 100% do tempo. Todos sabem que o uso dessa energia de reserva, extremamente cara e altamente poluente, da forma como está sendo despachada, trazendo consequências imediatas para a conta de eletricidade da população e de longo prazo para a natureza, não é sustentável nem inteligente.

O Brasil pode, neste momento, tomar uma decisão importante para reverter esse quadro, espelhando-se no exemplo recente de outros países, como a Alemanha, que resolveu desenvolver uma matriz energética renovável, abolindo fontes caras e poluentes (e com riscos associados à segurança) e investindo nas fontes eólica e solar. Atualmente, a Alemanha, que tem um potencial eólico e solar muito menor que o Brasil, já produz 20% de toda a eletricidade consumida no país a partir dessas duas fontes de energia. Enquanto isso, as estimativas atuais indicam uma tímida participação da energia eólica no Brasil de apenas 11,5% em 2023, com base no consumo elétrico de hoje.

Para alcançar um desenvolvimento proporcional ao potencial existente, visto aqui como estratégico para o Brasil, uma adaptação do planejamento do setor para os próximos dez anos deveria ser feita, de forma que as fontes eólica e solar possam ter uma participação futura maior diante da demanda crescente da energia elétrica, e também, aproveitando a conhecida complementaridade eólica-solar-hídrica, para minimizar os efeitos negativos causados pela baixa capacidade de armazenamento dos reservatórios das hidrelétricas. O setor esperaria, por exemplo, um maior número de leilões e regras estáveis para estimular investimentos em projetos de energias renováveis. Outro fator que o Dewi considera essencial para o sucesso das energias eólica e solar no Brasil é o investimento em pesquisa e desenvolvimento, pois este ainda é um mercado novo, carente de formação profissional especializada e de desenvolvimento de tecnologia própria.

Mas no cenário econômico atual, imprevisível e adverso, as exigências para financiamento de projetos, não exclusivamente para projetos eólico e solar, serão maiores. Quando o risco aumenta, mesmo grandes empresas do setor poderão não conseguir viabilizar seus projetos caso não consigam provar a sua qualidade.

Como é um segmento relativamente novo, com pouco histórico de funcionamento, até mesmo grandes projetos precisam de referências, precisam ser auditados e certificados com selos de qualidade reconhecidos mundialmente, precisam de garantias para viabilizar um fluxo constante de financiamentos. A análise de risco é um serviço primordial ao setor.

Quanto antes forem avaliados os riscos de cada fase de desenvolvimento do projeto, mais fácil será evitar desvios e minimizar erros, garantindo um bom resultado econômico aos investidores.

Alexandre Pereira é diretor presidente do DEWI do Brasil

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