Opinião
Termelétricas cada vez mais aquecidas
Hoje, a geração nessas usinas representa 24% do total produzido. Há um ano representava 15% e, em 2012, era de apenas 6%.
Passados dois terços de 2014, a baixa quantidade de chuvas no Brasil, mais especificamente na região Sudeste, deixa suas marcas no setor elétrico. Junto com a redução das precipitações, as altas temperaturas nos primeiros meses causaram um aumento na demanda por energia para atender especialmente a climatização.
Como resultado, o nível dos reservatórios de hidrelétricas das regiões Sudeste e Centro-Oeste, responsáveis por cerca de 70% de toda a energia produzida no país, chegou ao fim de janeiro com média de 40,57%, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Foi a 4ª marca mais baixa para janeiro desde 2000.
No entanto, esta situação mostrou-se muito melhor do que a observada nos anos de 2000 e 2001, quando os mesmos reservatórios registraram marcas de 29% e 31,41%, respectivamente, pouco antes de o governo decretar o racionamento de energia. E um dos principais fatores que possibilita a atual conjuntura, felizmente, é a maior disponibilidade de termelétricas, ampliada após a crise vivida há 13 anos. Os números não deixam dúvidas, já que a produção termelétrica bateu recorde em 2014. Hoje, a geração nessas usinas representa 24% do total produzido. Há um ano representava 15% e, em 2012, era de apenas 6%.
O contexto atual comprova como a diversificação da matriz energética é importante. Mais ainda: o alto valor estratégico que tem não apenas o uso, mas sobretudo a manutenção e melhoria das condições para o funcionamento adequado das térmicas. Fáceis e rápidas de serem instaladas e distribuídas por diversas localidades do território nacional, as termelétricas se mostram uma solução viável para eventuais emergências como a enfrentada hoje. Usinas temporárias são outra opção importante a se considerar, pois sua velocidade e agilidade de instalação tende a ter valor cada vez maior.
A importância estratégica do uso das termelétricas fica ainda mais evidente ao se verificar que os recordes de produção se devem não apenas às regiões Nordeste e Sudeste, mas também à exportação de energia feita por térmicas instaladas no Norte nos últimos seis meses. Isto é significativo, pois ao conectar a região ao Sistema Interligado Nacional (SIN), o intuito era abastecer a rede local com a energia produzida por hidrelétricas distantes e o que ocorre hoje é justamente o contrário, com Manaus, por exemplo, exportando 200 MWm para outros estados e regiões.
Outra questão essencial que a demanda térmica evidencia é a importância de otimizar a utilização de combustíveis à disposição no Brasil, especialmente no Norte. Isso porque alguns locais da região já possuem gás natural e gasodutos prontos para uso, mas que ainda não foram colocados em atividade. Estima-se que, atualmente, usa-se apenas metade dos 10 milhões de m3/hora disponíveis no país. Aproveitar o potencial do gás faz com que a demanda por energia possa ser suprida pelas térmicas de forma mais sustentável e economicamente viável. Nesse sentido, companhias de fornecimento temporário de energia também podem fazer uma importante contribuição, pois disponibilizam ao mercado geradores abastecidos por diversas opções de combustível que podem ser instalados em infraestruturas variadas para usinas térmicas.
Diante desse contexto, como garantir o pleno funcionamento das termelétricas é mandatório, a manutenção dessa infraestrutura passa a ser fundamental. Essa é uma questão bastante sensível, principalmente ao se considerar que as termelétricas brasileiras foram projetadas para complementar a matriz energética e atender a situações de emergência. Em outras palavras, significa que os equipamentos, em tese, não deveriam funcionar em tempo integral como ocorre hoje por força das circunstâncias, o que tem causado avarias em algumas térmicas por stress de componentes de sua estrutura. Para contornar esse problema, soluções como fornecimento temporário de energia, por exemplo, são importantes aliados para dar suporte à atual produção intensiva que as térmicas estão tendo de entregar.
Pablo Varela é Diretor Geral da Aggreko Brasil