Opinião

Bons ventos para a energia fotovoltaica no Brasil

Por Paula Scheidt, assessora técnica da GIZ/Instituto Ideal

Por Redação

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Depois de a energia eólica encontrar o seu rumo, agora parece ser a vez de a energia solar se estabelecer no território nacional. Desde o seu início, 2011 tem dado bons sinais de que deve se tornar um marco para o desenvolvimento do mercado da eletricidade solar no país.

Em janeiro, as indústrias da cadeia produtiva da geração fotovoltaica (FV) decidiram instalar um grupo setorial na Abinee, o qual vem se reunindo mensalmente. Em maio, houve a conexão à rede da primeira usina em escala comercial do país, de 1 MW, em Tauá, no Ceará, pela MPX. E no segundo semestre, a Coelba, em parceria com o governo da Bahia, deu início à instalação de uma usina de 400 kW no estádio de Pituaçu, em Salvador. Com a planta, a arena será a primeira da América Latina a ser alimentada por energia solar.

Enquanto isso, em Florianópolis, a Eletrosul está licitando a primeira usina FV integrada a um edifício público no país, com 1 MW, na sua sede. Tanto esse projeto quanto o da Coelba têm o apoio da Cooperação Alemã para o Desenvolvimento (GIZ), do Instituto Ideal e da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O Megawatt Solar, da Eletrosul, conta ainda com o apoio do banco de desenvolvimento alemão KfW, por meio de um financiamento a fundo perdido.

Para incentivar outras empresas a tomarem iniciativas similares, o Instituto Ideal se prepara para lançar no próximo ano um selo solar, que será concedido aos empreendimentos que utilizarem a geração solar, seja instalando um sistema próprio ou comprando energia oriunda dessa fonte. Assim, a população também terá uma ajuda para identificar os pioneiros no consumo de eletricidade solar.

Em paralelo, a Aneel vem discutindo a regulação da conexão, tema que vinha preocupando muitas distribuidoras. Para reduzir as barreiras à instalação de sistemas de energia alternativa com até 1 MW, o órgão colocou em audiência pública uma minuta de resolução normativa que estabelece os procedimentos para a conexão à rede de mini e microgeradores e propõe a criação de um sistema de compensação de energia (net metering). Basicamente, o sistema acabará com a necessidade de coincidência da geração com o consumo, já que o proprietário de uma pequena usina (em uma residência, por exemplo) poderá injetar na rede a eletricidade que não consumir e receber créditos em kWh na conta de luz nos meses seguintes.

A resposta para a questão do custo está vindo do próprio mercado. Enquanto a tarifa elétrica segue em uma curva crescente, o valor da instalação de sistemas FV cai de modo incomparável a todas as outras fontes de energia. Em seis anos, o custo dos sistemas FV caiu pela metade, passando de cerca de € 5/Wp, em 2006, para € 2,19/Wp, no segundo semestre de 2011, para sistemas até 100 kWp, segundo dados da Associação da Indústria Solar da Alemanha (BSW). Somente nos últimos oito meses, a queda foi de 25%. Para usinas com mais de 100 kWp, estima-se que o custo esteja em torno de € 1,80/Wp.

Tal movimento é resultado de políticas de desenvolvimento tecnológico em países como Alemanha, Itália, Japão, EUA e, recentemente, a China, que alavancaram o crescimento do número de fabricantes em toda a cadeia produtiva. Os sistemas têm se tornado mais eficientes, e o mercado, mais competitivo.

Até onde vai chegar essa queda? Não sabemos. Mas uma análise da consultoria Ernst & Young, divulgada em junho, sugere que o preço dos painéis pode chegar à metade dos custos de 2009 já em 2013. Considerando a escalada dos preços dos combustíveis fósseis, as instalações de larga escala de geração FV alcançariam custos competitivos em menos de uma década, segundo a consultoria.  

No Brasil, se considerarmos as estimativas de empresas do setor, de que o custo da geração solar pode estar em torno de R$ 400/MWh, a paridade tarifária já seria uma realidade para consumidores residenciais da maioria das concessionárias. Esses clientes já pagam tarifas acima deste valor e estão em regiões do país com níveis elevadíssimos de irradiação solar, como Ceará, Tocantins, Minas Gerais, Maranhão e Goiás. Isto significa maior geração elétrica com o mesmo custo de instalação do sistema.

Tudo isso converge para a consolidação de um cenário promissor para a geração de eletricidade solar no Brasil nos próximos anos. Algo que possivelmente levará o país a ser o primeiro do mundo a não precisar de subsídios diretos para desenvolver uma fonte com enorme potencial e fortes benefícios para a rede elétrica brasileira.

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