Opinião

Conteúdo Exportável

Tudo começa pela educação sistêmica, treinamento objetivo, pesquisa, desenvolvimento, continuidade, simplificação brutal da complexidade do país, articulação entre países, tudo comparável à exportação

Por Redação

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O sistema produtivo de Óleo e Gás - O&G é suportado por uma imensa rede de fornecedores de bens, serviços e construções, de diferentes origens, características e modelos de organização. Um sistema complexo e com uma dinâmica que envolve centros de pesquisa e desenvolvimento avançados, posicionamento de plantas industriais estratégicas, marketing nas soluções e colaboração contínua.

Fazer parte desta rede e se manter vivo por tempo longo requer um conjunto de atributos de mercado não convencionais. Não se trata de uma simples decisão de Conteúdo Local Regulatório de Governo que mantém empresas vivas em um determinado país. As flutuações normais de gestão governamental abrem crateras que fazem desaparecer empresas locais protegidas em curto espaço de tempo. Há, certamente, casos de vácuo e inserção, mas em geral as empresas longevas são mais estratégicas do que oportunistas.

Assim, para a Política Industrial Nacional, a questão não é a de definir para o Conteúdo Local um número a ser atingido, mas sim a de estruturar o sistema para o conteúdo exportável. Provavelmente, não haverá  indústria local se esta não for comparável de forma internacional e inserida em uma cadeia de fornecimento que faça sentido comercial ao complexo como um todo. Isto envolve investidores, empreendedores, pesquisa, desenvolvimento e eficiência.

Relatos da Noruega informam que com a queda dramática de reservas e produção no Mar do Norte, tiveram de se adaptar a exportar, para manter o nível de emprego local e as conquistas sociais que haviam alcançado. Obtiveram migrações de competências e recursos da Indústria de Defesa, da Marinha e Indústria da Pesca. Se for feita uma análise das empresas mundiais de Geofísica, por exemplo, muitas são de origem norueguesa e com atividades globais, como PGS, Spectrum. No subsea, FMC, Aker, também são bons exemplos de sucesso internacional.

Alguns fatores que podem ser considerados essenciais para o possível sucesso em empreendimentos desta envergadura seriam:

-Da parte do Estado, regras claras, simples e duradouras. Suporte para educação, treinamento, capacitação e pesquisa. Fomento para empresas intermediárias entre pesquisa e indústria.

-Do Comércio entre países, iniciativas de acordos de compensação (“tradeoff”), onde se organizam e dividem áreas de desenvolvimento menos competitivas e mais colaborativas, com economia compartilhada para os participantes.

-Centros de Pesquisas das primeiras soluções, capacidade de capturar, estudar, desenvolver e promover temas de relevância, trazendo antes de outros capacidade de inovação e disponibilização. Possivelmente em rede, já que por aqui haveriam poucos destes centros, pois as empresas mãe não são daqui originárias.

-Plantas fabris estratégicas, distribuição mundial de unidades fabris para inserção em mercados globais, por conta de mão de obra capacitada e eficiente, e proximidade de demandas.

-Logística otimizada e avançada, capacidade de mover peças, partes, produtos acabados, operação e manutenção, a qualquer ponto do Globo com rapidez e eficácia.

No Brasil, com base na aplicação do percentual da cláusula de P&D do setor de O&G, foi criado o Polo Fundão para pesquisa local, de grandes grupos internacionais, como Schlumberger, Baker Hughes, FMC Technologies, Halliburton, Tenaris Confab, BGE&P Brasil, EMC Computer Systems Brasil, Siemens, V&M do Brasil, GE, dentre outras tão importantes quanto às citadas.

Há sim grande apelo acadêmico e científico local nestas iniciativas, mas precisam se tornar verdadeiramente um elo da rede global de pesquisa e soluções. Não conseguiriam sobreviver sendo apenas construções de prédios e laboratórios sem que seja real a participação global, incluindo o conceito de exportação.

Não há mágica! Não se pula de uma indústria parcialmente obsoleta, protegida por regulação  e dependente do exterior para uma indústria 4.0 ou qualquer outro conceito que se queira transmitir a ideia de modernidade, apenas porque se fala sobre isto em conferências semanais de entidades de classe.

Tudo começa pela educação sistêmica, treinamento objetivo, pesquisa, desenvolvimento, continuidade, simplificação brutal da complexidade do país, articulação entre países, tudo comparável à exportação.

O caminho é árduo, mas o Brasil pode e muito provavelmente irá percorrer e vencer.

Os atores se conversam, ainda não há convergência, mas há a percepção clara de que os mecanismos antigos se esvaíram, que o efeito sanfona não é recomendável e que um percentual de 50% do incerto é pior do que 20% de potenciais crescentes.
Assim, ao invés de Conteúdo Local, a expressão sugerida é Conteúdo Exportável, baseado na competitividade e na comparabilidade à exportação. Nada novo, o Brasil já atuou assim no passado, mas quem sabe desta vez tenha de ser para valer, com um alinhamento total de Governo, Indústria e supply chain.

Que haja vontade para recomeçar, mais uma vez, mas vale por um objetivo nobre de país.

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