Opinião

Contrastes energéticos

A coluna bimestral de Wagner Freire

Por Redação

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A revista Nature elegeu Steven Chu, prêmio Nobel de Física e secretário de Energia dos EUA, o Newsmaker of the Year. Chu notabilizou-se pelo desenvolvimento de tecnologia baseada em raios laser para captura e estudo de átomos. Dirigiu o famoso Lawrence Berkeley National Laboratory, que tem suas origens no Projeto Manhattan, o qual, com técnicas de enriquecimento de urânio e a descoberta do plutônio, viabilizou o desenvolvimento das bombas nucleares.

O laboratório, hoje com 4.000 empregados e orçamento de US$ 650 milhões, é uma das instituições sob coordenação do Departamento de Energia (DOE) dirigido por Chu, e agora aplica recursos expressivos em projetos sob administração privada voltados para energia solar, uso eficiente de energia, desenvolvimento de materiais para baterias, armazenagem e transmissão eficiente de energia, desenvolvimento de reatores nucleares de 4ª geração e captura e armazenamento de CO2 – projetos com objetivos de médio e longo prazos, direcionados à inovação na área de energia e ao combate às mudanças climáticas.

As atividades relacionadas à exploração e à lavra de recursos minerais estão mais ligadas ao Departamento do Interior (DOI). Sob o comando do secretário Ken Salazar, o DOI administra o tradicional Serviço Geológico Americano (USGS) e o Mineral Management Service (MMS), responsável pelas concessões nas áreas sob controle do governo federal. Um detalhe: mesmo com a mudança de governo, não houve nenhuma alteração no calendário de licitações de áreas petrolíferas para o quinquênio 2007/2012.

A área mais atraente dos EUA é o Golfo do México, que, com as descobertas dos últimos anos, inclusive abaixo de depósitos salinos, permite projetar, para 2013, novo pico de produção de 4,89 MMboe/d, superior ao pico de 2002, de 3,75 MMboe/d. Muitas das novas descobertas ocorrem em situações tão ou mais difíceis que as do cluster de Santos. Trata-se de região com grandes desafios tecnológicos, que vêm sendo superados pela intensa competição entre operadores. A Petrobras atua na área com relativo sucesso, mas esteve praticamente ausente nas últimas licitações. Uma pena, tendo em vista os ganhos tecnológicos que poderiam ajudá-la nas tomadas de decisão no Brasil. Aparentemente, preferiu priorizar investimentos na refinaria de Pasadena.

Continuando na área internacional, o governo iraquiano formalizou contrato de serviço, na modalidade com prêmio, com a Shell e a Petronas, da Malásia, para colocação em produção de Majnoon. Este campo, descoberto e avaliado pela Petrobras nos anos 70, tem 20 bilhões de barris de petróleo de 35º API, com reservatórios a 3.500 m. A Petrobras não se interessou em participar desse projeto, insistindo em contratos de serviço no Irã, apesar dos poços secos que perfurou recentemente em concessões que detinha.

Enquanto isso, no Brasil, entramos no quarto ano sem licitações de áreas, dentro ou fora do pré-sal, que possam despertar interesse das grandes petroleiras. E não há nenhuma expectativa de que haja um detalhado exame da mudança da Lei do Petróleo no Congresso, uma vez que a maioria dos congressistas está mais interessada em garantir eventuais riquezas das futuras concessões e também, de algum modo, antecipá-las para as concessões atuais, dentro da nova demarcação geográfica do “pré-sal”.

É visível o enorme progresso da tecnologia dos carros híbridos e dos carros elétricos, que os torna cada vez mais competitivos, além de amistosos com o meio ambiente. O que vamos fazer com a gasolina e o diesel do pré-sal se e quando nos tornarmos exportadores?

Antes disso, porém, ainda temos que nos preocupar com as distorções no mercado nacional de combustíveis, no qual o único produtor vende gasolina e diesel bem acima dos preços do mercado desde fins de 2008. Compactuando com essa situação, o governo deixa de sinalizar para os produtores de etanol e de outros combustíveis alternativos os fundamentos do mercado (a indexação dos preços dos derivados aos preços prevalecentes na Costa do Golfo e à cotação do dólar, praticada de 1998 a 2001, está fazendo falta!).

Diminuir o percentual de etanol na gasolina é ótimo para a Petrobras, uma vez que os preços de exportação não lhe são favoráveis. E o mercado de etanol, uma tradição brasileira, fica cada vez mais distorcido. Em 2008, a produção de etanol nos EUA, onde os produtores sofreram com a diminuição dos preços da gasolina, superou em muito a produção brasileira (684 mil b/d vs. 474 mil b/d). Seria paradoxal, mas é possível, considerar-se a importação de etanol (de milho!) dos EUA para suprir as necessidades brasileiras

A coluna de Wagner Freire é publicada a cada dois meses

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