
Opinião
JASON CARNEIRO: Elogio da Fronteira
País, estados e empresas precisam se preparar e criar oportunidades para si e colaborar na conquista de diferentes fronteiras
“It is the unknown that excites the ardor of scholars, who, in the known alone, would shrivel up with boredom.”
― Wallace Stevens
É um pensamento quase irresistível, dada a imensidão ainda inexplorada da área sedimentar do Brasil e a quantidade relativamente baixa de poços perfurados, imaginar que outros plays, gigantes ou não, podem estar aguardando pela sua descoberta. E não só, vale dizer, nas duas dimensões dos mapas: a terceira dimensão, a profundidade, pode também guardar riquezas, de modo que mesmo uma bacia madura pode oferecer oportunidades. O Pré-Sal é um exemplo eloquente de como isso pode acontecer¹.
As fronteiras exploratórias permanecem fronteiras ou por causa do acesso, como nos casos do Alaska ou da nossa Margem Equatorial, ou porque são também fronteiras tecnológicas: é preciso dar o passo, às vezes o salto que tornará eficiente a exploração, ou possível a produção, vencendo barreiras físicas ou econômicas. São fronteiras do conhecimento. É preciso descobrir se é possível, ou ainda melhor, como é possível conduzir a atividade petroleira de forma sustentável dos pontos de vista econômico e ambiental nessas áreas.
As fronteiras do conhecimento podem ser estendidas, reclamando terreno ao desconhecido. Tão ou mais interessantes e férteis são as fronteiras entre os conhecimentos, nas quais um se vale do outro para avançar. É a região da multidisciplinaridade, da criatividade e da colaboração, é um lugar de aprendizado e crescimento, e poucas indústrias o conseguem gerar como a indústria do petróleo. Basta pensar em quantas áreas do saber e do fazer precisam trabalhar juntas para que os plays sejam compreendidos, os prospectos sejam perfurados, os campos sejam desenvolvidos, a produção seja escoada, o meio-ambiente seja protegido, as empresas funcionem, a sociedade se beneficie.
A fronteira é o mundo da incerteza e do risco, do empreendedorismo, do pioneirismo. Mesmo conquistada, pode exigir esforços dobrados e novos breakthroughs, como o shale americano exigiu das empresas, na primeira vez perguntando como produzir, na segunda vez perguntando como fazê-lo a custos mais baixos. A fronteira é o lugar da ideia brilhante, às vezes solitária; é também o lugar da construção em equipe. Competição e colaboração. É difícil pensar em ambiente mais rico para o desenvolvimento de pessoas. A fronteira ilumina os talentos, cria mestres e alunos que não cabem no modelo intergeracional: são de idades parecidas, em profissões diferentes.
Da molécula de gás às arquiteturas contratuais, da micropaleontologia às mesas de negociação, do chão de fábrica à geopolítica mundial, a indústria do petróleo é a indústria das fronteiras. Competências pessoais e organizacionais respondem aos desafios: a Petrobras ficou famosa pelo sucesso em águas profundas; a Maersk Oil, recém-adquirida pela Total, pelos avanços em reservatórios complicados; a irlandesa Tullow, pela série de descobertas na África². Claro que a queda dos preços do petróleo iniciada em 2014, afetando duramente os balanços de todas as empresas, obrigou-as a focar energia na fronteira dos custos – os portfolios foram deixando apostas mais ousadas, a criatividade foi alocada primordialmente à eficiência.
A estratégia é um jogo de preparação e de oportunidade. Estados e empresas podem, igualmente, preparar-se e criar oportunidades para si. Podem, sim, colaborar na conquista das diferentes fronteiras. Ao tempo em que o governo brasileiro alinha claros sinais de que deseja recompor a atratividade do país, e cria portas como o leilão permanente e o calendário de leilões, para além do desinvestimento da Petrobras, pode ser a hora de escolher em que fronteiras tomar posição, sem esquecer a eficiência aprendida.
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¹Vejam também: CUIÑAS FILHO, Elio Perez; BACOCCOLI, Giuseppe. Aplicação do Indicador de Intensidade Exploratória como Ferramenta de Focalização. In: Rio Oil and Gas 2004 Expo and Conference.
²Mais informações em https://www.tullowoil.com/about-us/our-story