Opinião

A era de ouro do gás: será que evaporou?

A Diretora Executiva da Agência Internacional de Energia questionou a possibilidade de a “era de ouro” do gás natural vir a se tornar um fenômeno global

Por Redação

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A Conferência Mundial de Gás (WGC 2015) realizada em Paris no início de junho reuniu cerca de 3.500 delegados e contou com a participação dos CEOs das principais empresas internacionais de petróleo e gás natural.  A despeito dos cortes de despesas e investimentos decorrentes da queda do preço do petróleo, a exposição contou com um número respeitável de empresas.

As apresentações dos CEOs focaram quatro temas principais: as vantagens do gás com relação ao carvão; a importância de equilbrar investimentos em renováveis com investimentos em gás natural; a necessidade de restabelecer um mecanismo para taxar as emissões de carbono; o compromisso de investir em exploração e produção se os governos permitirem o acesso aos recursos de gás natural.

A crescente participação do gás natural no portfólio das empresas petroleiras internacionais já chega em algumas delas a 50%. A perda de mercados na Europa e a desaceleração da China talvez expliquem por que seus executivos têm sido tão enfáticos na defesa do gás como o melhor combustível para o mix energético mundial.

Várias empresas lançaram um ataque frontal ao carvão, buscando demonstrar os riscos para a saúde humana decorrentes de emissões de poluentes atmosféricos substancialmente maiores do que o gás natural. O CEO da empresa australiana Woodside citou estatísticas da Organização Mundial da Saúde que mostram a ocorrência de sete milhões de mortes prematuras em 2012, devido à poluição do ar. Vários palestrantes advogaram que o gás não deve ser considerado como um combustível de transição e que os governos deveriam agir mais prontamente para apoiar a  indústria do gás e construir infraestrutura para levar gás aos consumidores.

Embora não tenham ocorrido discussões específicas sobre a queda dos preços do petróleo, os efeitos globais começam a preocupar, com a desaceleração dos investimentos em projetos de GNL, incluindo os projetos flutuantes, os cortes de investimento em shale gas nos EUA, bem como a maior preocupação em reduzir os custos dos projetos.

A Diretora Executiva da Agência Internacional de Energia questionou a possibilidade de a “era de ouro” do gás natural vir a se tornar um fenômeno global, devido ao gás estar atualmente imprensado entre o carvão barato e as energias renováveis subsidiadas. 

Seis empresas europeias de petróleo e gás – BP, Shell, BG, ENI, Total e Statoil – assinaram um manifesto em favor do estabelecimento de um sistema global de preços para as emissões de carbono, mas os executivos de duas petroleiras americanas – Exxon e Chevron – manifestaram-se contra tal mecanismo e recomendaram que os países europeus apoiem o desenvolvimento do shale gas, que contribuiu para uma redução significativa das emissões nos Estados Unidos. O presidente da American Gas Association prevê que os preços do gás nos EUA se manterão estáveis na próxima década, devido às abundantes reservas de shale gas, que além de manter os preços baixos, contribui para a redução das emissões. O embate entre as empresas europeias e americanas é emblemático, porque as últimas professam sua fé nos mecanismos de mercado para reduzir emissões e manter preços baixos, enquanto as primeiras buscam mecanimos extrínsecos, como preços de carbono, que não somente não foram bem-sucedidos na Europa, como seu colapso contribuiu para a maior penetração do carvão na matriz energética europeia.

Em face dos desafios mundiais, a indústria do gás precisa desenvolver novos mercados. Daniel Yergin mostrou os resultados de um estudo recente, mostrando o potencial do gás no setor de transportes. Segundo ele, em 2030 o gás poderia vir a deslocar 1,5 milhão de barris/dia de petróleo no setor de transportes. Para Yergin,”as novas avenidas para o gás natural são as estradas e rotas marítimas”. Vários expositores também trouxeram sistemas compactos de cogeração, alguns deles com capacidade de 3 kW a 5 kW, a preços accessíveis, e que podem ser instalados em residências e estabelecimentos comerciais de pequeno porte.

O Brasil contou com a presença de quase 60 delegados, além de vários palestrantes em diversos painéis e mesas redondas. Pouco se falou sobre a indústria brasileira de gás, embora o Brasil tenha se tornado um importador importante de GNL.  A próxima Conferência Mundial de Gás vai ser realizada em junho de 2018 em Washington DC. Até lá se prevê tempos palpitantes para a indústria.

Ieda Gomes
ieda@energixstrategy.com

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