Opinião
A estratégia da Petrobras podia ter dado certo
Se os investimentos necessários tivessem sido feitos e os prazos das obras no refino cumpridos, o quadro seria bem diferente para a Petrobras
A estratégia da Petrobras após a descoberta do pré-sal podia ter dado certo; não deu, mas ainda pode dar. Em 2013, após um lucro líquido de R$ 23,6 bilhões, a companhia viu suas ações recuarem para os menores valores desde 2005. Foi justamente nesse ano que foi iniciada a perfuração do poço que levaria ao pré-sal. Somente Lula, Franco e Libra devem ter volumes recuperáveis de mais de 8 bilhões de barris de petróleo cada uma, e hoje a produção no pré-sal já supera 400 mil barris/dia.
Esse sucesso não se repete no pós-sal e no abastecimento. A produção média de óleo da empresa, de 1,85 milhão de barris/dia em 2005, elevou-se para apenas 1,93 milhão de barris/dia em 2013. Ressalte-se, contudo, que 38 unidades estacionárias de produção deverão ser instaladas pela Petrobras de 2013 a 2020. Com isso, a produção atual deverá aumentar para 4,2 milhões de barris diários.
No abastecimento, de 2005 a 2013, o volume de petróleo refinado no Brasil aumentou de 1,74 milhão para 2,06 milhões de barris por dia. No entanto, nesse mesmo período, o consumo aumentou de 1,53 milhão para 2,35 milhões de barris diários. Passou-se de um superávit para um déficit. O Brasil sempre foi importador líquido de óleo diesel e exportador líquido de gasolina. A partir de 2011, porém, o país passou a ser importador líquido de gasolina.
Se os investimentos necessários tivessem sido feitos e os prazos das obras no refino cumpridos, o quadro seria bem diferente. Com muitos anos de atraso, o primeiro trem da Refinaria Abreu e Lima, em construção em Pernambuco, deverá entrar em operação somente no quarto trimestre de 2014. Em 2006, ano de execução do projeto básico do Comperj, a previsão era de que a produção do primeiro trem seria iniciada em 2011. Essa inauguração, porém, passou para 2016.
O cenário do etanol também não é bom. Desde 2008, quando teve início a crise financeira internacional, não se anunciou a instalação de novas usinas. Além disso, 36 plantas pediram recuperação judicial, e 40 foram desativadas. O controle dos preços exercido pelo governo federal tornou o etanol ainda menos competitivo em relação à gasolina. Além disso, muitas usinas passaram a produzir mais açúcar, cujo preço internacional tem dado maior retorno que o etanol.
Nos próximos anos, contudo, a Refinaria Abreu e Lima e o Comperj deverão eliminar a importação de diesel, e o pré-sal fará com que o Brasil gere excedentes de petróleo para exportação. O que provavelmente não deve ser resolvido nos próximos anos é a eliminação da importação de gasolina. A solução a curto prazo para isso seria o aumento da produção de etanol hidratado; a longo prazo, seria alterar o projeto das Refinarias Premium I e II para contemplar a produção de gasolina.
É importante ressaltar que todo o planejamento feito pela Petrobras e pelo governo pode ter considerado preços da gasolina e do diesel no mercado internacional compatíveis com o preço do brent a US$ 80, e não a US$ 110. Nesse cenário de US$ 80 o barril, a área de abastecimento apresentaria lucro e não prejuízo, como vem ocorrendo, mas o lucro em E&P seria bem menor.
Em 2013, a área de E&P registrou lucro de R$ 42,2 bilhões, enquanto a área de abastecimento teve prejuízo de R$ 17,8 bilhões. Mantidos os preços atuais do petróleo em 2020, o lucro da empresa em E&P pode mais que dobrar, e a área de abastecimento pode deixar de comprometer a lucratividade.
A Petrobras dispõe de uma sólida carteira de investimentos, sobretudo em E&P, e nos próximos anos poderá iniciar uma trajetória de aumentos significativos em sua lucratividade. As grandes petrolíferas internacionais agem como a Petrobras: priorizam o aumento das reservas e da produção de petróleo em novas áreas, uma vez que as taxas de retorno do refino e em áreas maduras são geralmente pequenas. No entanto, a Petrobras, como sociedade de economia mista, deveria ter sido mais conservadora e ter dado mais atenção à área de abastecimento e ao pós-sal.
Mas o futuro é alvissareiro. Não deve existir empresa petrolífera com ações em bolsa com uma carteira tão boa. Lula, Franco e Libra, entre outros, são tesouros que poucos têm!
A coluna de Paulo César Ribeiro Lima é publicada a cada dois meses