Opinião

Fim do “efeito sanfona”

Os processos de bens e serviços que alimentam a sequência produtiva de óleo e gás necessitam ser de baixo custo, com tempos adequados e tecnologias compatíveis

Por Redação

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Os processos de bens e serviços que alimentam a sequência produtiva de óleo e gás necessitam ser de baixo custo, com tempos adequados e tecnologias compatíveis.

Onde estiverem estas variáveis contempladas, estarão os fornecedores sustentados por longo prazo. Por momentos, regras especiais de proteção, desonerações, controles e punições conseguem manter vivos grupos de fornecimentos específicos regionais. Mas cessada ou alterada a intervenção, como provavelmente será o caso do Conteúdo Local brasileiro, retorna-se ao básico. Sobrevive o que é economicamente atrativo em custo, tempo e tecnologia. O pior dos mundos é a flutuação aleatória, o “efeito sanfona”. De um oposto a outro, sem previsibilidade.

E o que faz provedores estarem nesse grupo de sobrevivência mais longa? Seria a competitividade?
Alguns críticos retratam o problema da falta de competitividade pela ausência de política industrial, outros pelo excesso de intervenção do Estado.
O autor Richard Newfarmer faz considerações interessantes sobre Política Industrial, como segue (original da apresentação):
Does industrial policy work?
Dani Rodrik (2004): Yes
“…it is not surprising to observe that industrial restructuring rarely takes place without government assistance. Scratch the surface of nontraditional export successes anywhere in the world and you will more often than not find industrial policies, public R&D, public support, export subsidies, preferential tariffs arrangements, and other similar interventions lurking beneath the surface.”
Pack and Saggi (2005): No
“In recent industry successes, public interventions have played only a limited role. Moreover, the recent ascendance and dominance of international production networks in the sectors in which developing countries once had considerable success implies a further limitation on the potential role of industrial policies. Overall, there appears to be little empirical support for an activist government policy even though market failures exist that can, in principle, justify the use of industrial policy.”
Yes and no = Yo
Richard Newfarmer    International Growth Centre   October 13, 2011

A primeira interpretação reconhece a utilidade de políticas industriais, P&D pública, subsídios, tarifas especiais, porque sem elas a eficiência industrial seria baixa. A segunda enxerga as políticas públicas como limitadas, com as redes naturais tomando o lugar das intervenções do Estado, estas últimas servindo mais às justificativas de falhas de mercado.
Poderiam ser adicionados alguns elementos significativos para sustentar a competitividade:
• Capacitação com sobra, mais oferta de competências do que demanda
• Constante pesquisa operacional de novas versões (se não evoluir, os competidores tomam o lugar com suas novidades e otimizações)
• Escala baseada em um mercado mundial, não apenas local
• Simplicidade e eficiência na contratação de pessoas, investimentos em ampliações e máquinas
• Sistema de tributação compatível com o risco da atividade e comparável com o do resto do mundo
• Associações internacionais de longo prazo, com trocas de tecnologia e logística

O grande desafio é passar do Conteúdo Local Protetor de mercado regional (que teve seus méritos, mas parece que se exauriu) para a Competitividade Comparada a Exportação. Obviamente, isto não é uma tarefa fácil, e sim um trabalho complexo. Requer a união do Executivo, Legislativo, dos vários representantes da Indústria, Universidade e População.

As reservas provadas da maior operadora do país são de mais de 16 bilhões de barris de óleo equivalente (boe) de petróleo e gás natural, no Brasil, em 2014. Isto equivale a 21 anos de produção para o consumo da atualidade (2 milhões de boe por dia), desconsiderando novas descobertas. As reservas possíveis do Brasil em pré-sal são de mais de 60 bilhões de barris (site do Ministério da Fazenda), 4 vezes as reservas provadas atuais.
Portanto, os ajustes não devem conter excessos, exageros, para que durem um longo tempo e gerem atratividade, estabilidade e credibilidade para os diversos atores. Trocar punições por incentivos, reviver a Engenharia Básica, proporcionar a pesquisa industrial objetiva, descomplicar os processos produtivos. Escolhas equilibradas, planejadas, sem o vai e vem, sem o “efeito sanfona”.

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