Opinião

Futuro do mercado ainda é uma incógnita

Os dados do relatório da AIE são um importante subsídio para os planos do setor petrolífero brasileiro, indicando que, pelo menos até 2018, o mercado global terá dificuldade para absorver ofertas novas significativas

Por Redação

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A Agência Internacional de Energia (AIE) prevê que o mercado global de petróleo atingirá o reequilíbrio somente em 2017. Uma recuperação dos preços do petróleo antes é improvável e o excesso de oferta levará mais tempo para ser absorvido do que foi previsto anteriormente.
Em seu relatório prospectivo de médio prazo, divulgado em 22 de fevereiro, a AIE analisa o período 2016-2021 e, referindo-se ao cenário que considera mais provável, informa que em 2017 o fornecimento de petróleo estará alinhado com a demanda, mas os estoques que estão se acumulando reduzirão o ritmo da recuperação dos preços. “É difícil vislumbrar, no curto prazo, uma recuperação significativa dos baixos preços que estão sendo praticados hoje”, diz a Agência.

A AIE alerta, porém, para o risco de se considerar que o mercado tenha iniciado um novo ciclo de preços mais baixos. Em face da redução de investimentos que vem ocorrendo, uma elevação brusca de preços no final do período é tão possível como foi a acentuada queda iniciada em novembro de 2014. Em escala mundial, as despesas de capital da área de E&P deverão cair 17% em 2016, após um corte de 24% em 2015. São dois anos seguidos de redução, o que não ocorre desde 1986. Poucos analistas perceberam o início desse processo e, praticamente, nenhum foi capaz de prever a extensão da queda e a duração desse período de redução de preços.

A AIE prevê um acréscimo de 4,1 MM de bpd na oferta global de petróleo entre 2015 e 2021, valor bastante inferior ao crescimento de 11 MM de bpd, ocorrido no período 2009-2015. Essa redução decorre do menor investimento no upstream, em resposta aos preços mais baixos resultantes do excesso de oferta.

Após cair em 2016, a oferta não Opep permanecerá estável no próximo ano, com recuperação em 2018. É previsto um aumento de 2 MM de bpd até 2021, atingindo 59,7 MM de bpd. A produção americana de shale oil (LTO) deverá diminuir em 600 mil bpd em 2016 e em 200 mil bpd adicionais em 2017. Em novembro de 2014, eram 1.850 sondas operando nos Estados Unidos, e em fevereiro de 2016 esse número caiu para 487 unidades, mostrando como a atividade foi afetada pela queda dos preços do petróleo. No entanto, a AIE prevê que a produção americana voltará a se expandir durante o período até 2021, aumentando 1,3 MM de bpd em relação a 2015, em face de reduções de custos e de melhorias na eficiência operacional.

Essa recuperação vai garantir que os EUA continuem a ser a maior fonte de nova oferta para 2021, com uma produção total de 14,2 MM de bpd.
A participação da Opep no mercado global deverá subir para 33,8% em 2020, superando a projeção de 32,4% feita em 2015. A demanda por petróleo da Opep atingirá 34,8 MM de bpd até 2021, sendo superior em 2,7 MM de bpd à de 2015. A AIE acredita que a demanda mundial de petróleo crescerá à taxa média anual de 1,2 MM de bpd até 2021, chegando a 101,6 MM de bpd em 2021. O consumo da Índia vai liderar o crescimento da demanda mundial, enquanto o aumento da demanda chinesa deverá ser mais modesto, diante da previsão de um crescimento econômico menor. O comércio global de petróleo permanecerá orientado para a Ásia.

As dificuldades de previsão implícitas nos cenários elaborados pela Agência, associadas às inevitáveis perturbações de natureza econômica, estratégica e geopolítica que costumam influenciar o setor, mantêm as incertezas quanto ao comportamento do mercado de petróleo nos próximos anos.

Os dados do relatório da AIE são um importante subsídio para os planos do setor petrolífero brasileiro, indicando que, pelo menos até 2018, o mercado global terá dificuldade para absorver ofertas novas significativas. Isso desestimula qualquer elevação da produção brasileira no curto prazo, visando à exportação. A revisão para baixo das metas de produção da Petrobras, alinhada com essa perspectiva, reduzirá a pressão sobre o caixa e oferecerá melhores condições, inclusive de prazo, para o gerenciamento da dívida que hoje limita as atividades da empresa. O limão pode virar limonada.

Eugenio Miguel Mancini Scheleder é engenheiro aposentado da Petrobras e exerceu, no período de 1991 a 2005, os cargos de Secretário Nacional Adjunto de Energia, Presidente da Comissão Nacional de Gás Natural, Diretor de Gestão e Diretor de Investimentos Estratégicos do Ministério do Planejamento e Assessor Econômico do Ministro do Planejamento

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