Opinião

Gás natural ainda atrai multidões

Em ano de Copa do Mundo e eleições, o Brasil vai continuar a importar GNL em grande escala, a preços elevados, para manter as luzes acesas

Por Redação

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A conferência Gastech, realizada em março, na Coreia do Sul, com mais de 2 mil delegados, mostrou que o gás natural e o GNL são temas relevantes para empresas e profissionais do setor energético.

O destaque ficou com os compradores asiáticos tradicionais – Japão, Coreia e Taiwan –, que, pela primeira vez, se uniram para dizer que querem fórmulas de preços de GNL vinculados a hubs, em lugar de indexação ao petróleo, e flexibilidade nos contratos de compra e venda. E reiteraram sua intenção de participar de projetos de E&P de gás e também de GNL, para garantir suprimento e conhecer custos e preços.

O Japão vive uma situação delicada. Com a parada das usinas nucleares, continuou a importar grandes volumes de GNL. Em 2013, importou 87 milhões de toneladas (mtpa), aumento de apenas 0,2% sobre 2012. No entanto, gastou US$ 69 bilhões, 16% mais que o valor pago em 2012. Essa importação, acoplada à desvalorização do yen, contribuiu pesadamente para o déficit recorde da balança comercial japonesa, de cerca de U$ 112 bilhões.

As empresas asiáticas se concentram em assegurar compras de GNL dos projetos de reexportação dos EUA, que têm formula transparente de preços: o somatório de Henry Hub (HH) e custos de liquefação indexados à inflação norte-americana.

Do outro lado da moeda, petrolíferas e consultores advertiram que a incerteza em assegurar contratos tem adiado projetos de GNL em regiões como Moçambique, Rússia e Austrália. A consequência é um aperto na oferta e preços mais altos no longo prazo. Em 2013, somente um projeto de GNL tomou decisão final de investimento, e apenas duas plantas entraram em operação: Angola LNG e Skikda, na Argélia.

O comércio mundial de GNL registrou queda de 0,3%, em 2013, pela estabilização do consumo no Japão, queda no consumo na Índia e em diversos países europeus e paradas técnicas em plantas de liquefação. Segundo a International Gas Union (IGU), o Brasil consumiu 4,4 mtpa em 2013, aumento de 76% sobre 2012.

Embora o preço do gás nos EUA (HH) tenha chegado a US$ 4/MMBtu, ele é muito inferior ao preço médio de GNL no Japão, cerca de US$ 15,30/MMBtu. O Brasil paga preços similares. Caso a tendência de importação se mantenha, os preços de GNL no mercado internacional devem oscilar entre US$ 13 e US$ 18/MMBtu em 2014.

No front tecnológico não houve grandes novidades. Aguarda-se a operação dos primeiros projetos de liquefação flutuante, com a Colômbia saindo na frente, com um projeto pequeno, de 0,5 mtpa, que deverá operar em 2015.

Outro destaque foi a Rússia, particularmente após a crise na Ucrânia. A Rússia tem incentivado a competição em GNL entre Gazprom, Rosneft e Novatek. E com a retração na Europa, o país se volta para a Ásia, buscando acelerar projetos de GNL e de gasodutos. No entanto, com grandes distâncias e dificuldades tecnológicas, além da geopolítica, são projetos muito caros, e não deverão ser construídos antes de 2020.

Quanto ao shale gas, a expectativa de a China se tornar um grande produtor não aconteceu. O primeiro projeto comercial em Fuling, operado pela Sinopec, teve apenas 100 poços perfurados, a um custo médio unitário de US$ 15 milhões, o dobro do custo nos EUA. Espera-se que a produção chegue a 8,5 milhões de m3/dia em 2014 e 30 milhões de m3/dia em 2017.

Na Europa, há grande desânimo da indústria com a meta da Comunidade Europeia de aumentar a participação das energias renováveis, via subsídios, em lugar de incentivar a redução das emissões de CO2 através de um conjunto de energias limpas, entre as quais o gás natural. Em consequência, diversas térmicas a gás foram fechadas, mas nunca se importou tanto carvão barato para geração de eletricidade.

E o Brasil? Em ano de Copa do Mundo e eleições, o país vai continuar a importar GNL em grande escala, a preços elevados, para manter as luzes acesas. Parece que a Petrobras vai ser obrigada a vender energia cara a preços baratos no leilão A-0, e não se fala em novas rodadas licitatórias de exploração em 2014, condição necessária para manter o nível de investimento e aumentar a oferta de gás e óleo no Brasil.


A coluna de Ieda Gomes é publicada a cada dois meses
E-mail: ieda@energixstrategy.com

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