Opinião

GNL: evolução ou revolução?

A coluna trimestral de Ieda Gomes

Por Redação

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A Conferência LNG 17, em Houston, reuniu 5 mil delegados e centenas de empresas. Embora não tenha apresentado mudanças revolucionárias, a indústria continua a se reinventar, particularmente nos EUA, onde os grande temas são o aproveitamento de excedentes de shale gas em pequenas unidades de liquefação; o uso crescente de GNL em transportes, em função do spread de preços com o óleo diesel; e os novos projetos de exportação de GNL, que ganharam impulso após a publicação de um relatório, encomendado pelo Departamento de Energia norte-americano, demonstrando que os benefícios econômicos com a exportação ultrapassam eventuais incrementos no preço do gás natural doméstico. 

Estão sendo criadas unidades modulares de liquefação “plug & play”, produzindo de 50 t a 700 t/dia de GNL. Estão sendo lançados novos projetos flutuantes de liquefação, de 1 mtpa a 4,4 mtpa, que buscam parceiros produtores offshore para testar o conceito. Estão sendo desenvolvidos dezenas de projetos de exportação, e os projetos brownfield são os mais competitivos. Eles oferecem tarifas de liquefação de US$ 3/MMBTU, indexadas ao Henry Hub, e entregam no mercado asiático a US$ 13/MMBTU, para HH de US$ 6/MMBTU. 

No entanto, apesar dos custos competitivos, especialistas têm alertado que o GNL dos EUA não chegará barato aos mercados internacionais, sobretudo se os preços do petróleo caírem para
US$ 85/barril. Nessa hipótese, o gás liquefeito australiano a 14,5% do Brent chegaria ao mercado asiático a
US$ 12,30/MMBTU – ou seja, mais barato que o americano.

O Japão tem se ressentido dos altos preços do GNL. O país gastou US$ 40 bilhões em 2012 em importações, fato agravado pela desvalorização do yen, em consequência do programa de “quantitative easing” implementado pelo Banco Central japonês. Com o aquecimento da demanda no mercado spot, particularmente no Japão, China, Índia, Brasil e Argentina, os preços em janeiro atingiram US$ 20/MMBTU e se retraíram ligeiramente para entregas em março. 

A maior parte do GNL spot vem sendo consumida em termelétricas nesses países, mas as distribuidoras de eletricidade não estão podendo repassar o aumento de preços ao consumidor, o que gera perdas financeiras substanciais. Esse é um tema importante para o Brasil, porque a Petrobras tem comprado quantidades crescentes de GNL no mercado spot devido à decisão do governo de acionar térmicas para economizar água nos reservatórios hidrelétricos. Com o atraso no comissionamento do Angola LNG e paradas frequentes nas plantas da Nigéria, do Iêmen e da Noruega, os compradores vão continuar à mercê de oscilações ditadas pelo nível de estocagem no Japão e dos fundamentos de oferta e demanda. 

Estão sendo cogitados projetos de GNL com capacidade de 600 mtpa, ante um aumento de demanda de 250 mtpa de 2012 a 2025. A competição entre os projetos que estão deslanchando na África, EUA e Canadá poderá resultar em fórmulas de preços ligeiramente mais baixos quando comparados aos projetos australianos. É consenso, porém, que os custos de extração e produção de GNL continuarão elevados em curto e médio prazos. Somente projetos com contratos de longo prazo assegurados irão efetivamente ser construídos.

Diante da expectativa de o Brasil importar 55 milhões de m3/dia de GNL em 2020 (14 mtpa), o mercado vislumbra a oportunidade de empresas brasileiras comprarem capacidade em projetos de liquefação americanos, visando garantir o suprimento para termelétricas a preços provavelmente mais competitivos que o mercado spot. Como flexibilidade custa caro, os contratos de suprimento de GNL requerem take or pay de 100%. 

Nesse quadro, o Brasil necessita rever as exigências quanto ao suprimento de gás para geração elétrica. A exigência de flexibilidade e de comprovação de reservas de gás por 35 anos, inclusive para suprimento de GNL, a proibição de consórcios no suprimento de gás e a conversão desvantajosa entre preços Brent e HH não encontram paralelo em outros países. E colocam o mercado elétrico brasileiro à mercê das flutuações e da tendência de alta do mercado spot de GNL. 

Deveríamos pensar na construção de pequenas unidades de GNL para aproveitar a produção de gás em campos isolados, tanto terrestres como offshore. A alta carga tributária sobre o gás natural também concorre para os elevados preços ao consumidor final. E já que o governo desonera outros combustíveis, torna-se imperativo estender a medida ao gás natural e ao GNL.

 

A coluna de Ieda Gomes é publicada a cada três meses

E-mail: ieda.yell@gmail.com

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